Eleonora Ortolani, designer e artista britânica, criou o que diz ser o primeiro gelado do mundo feito a partir de resíduos plásticos.
O gelado faz parte da instalação artística “Guilty Flavours”, da designer, de 27 anos.
Eleonora pretende modificar a forma como pensamos nos resíduos plásticos e aquilo que se pode, ou não comer, bem como alertar para a crise climática.
“Vem do mesmo plástico que podemos encontrar nas garrafas plásticas”, disse a artista britânica.
Ortolani, que é natural de Verona, Itália, disse que “Guilty Flavors” foi inspirada pela frustração com o sistema de reciclagem, devido ao fracasso em impedir que o plástico poluísse o meio ambiente.
“É muito frustrante, como designer e artista, ver o quanto estamos a piorar e apenas menos de 1% dos resíduos plásticos que produzimos acaba em uma instalação de reciclagem.”
“Hoje temos as ferramentas para repensar o sistema alimentar em que vivemos”, disse a designer.
O projeto da artista britânica foi baseado nos estudos de Joanna Sadler, biotecnóloga da Universidade de Edimburgo. O processo, desenvolvido por cientistas de Edimburgo, aproveita o poder metabólico das bactérias e enzimas para digerir o tereftalato de polietileno (PET) e transformá-lo em vanilina, a molécula que dá sabor à baunilha.
O produto desse processo não deve ser confundido com os microplásticos, que ainda são plásticos em nível molecular. “Existem certas enzimas que realizam certas reações químicas”, disse a Dra. Joanna Sadler, biotecnóloga da Universidade de Edimburgo, à Reuters.
A pesquisa de Sadler, publicada no Journal Biochemist em dezembro de 2021, concentra-se na degradação e reciclagem do plástico e na sua utilização como matéria-prima para o desenvolvimento microbiano.
Sadler produziu as moléculas que deram origem ao projeto de Ortolani, mas ressaltou que o gelado é um trabalho de pesquisa e que atualmente não se destina para o consumo humano.
“É muito importante que levemos muito, muito a sério o lado da segurança e deixemos bem claro que este produto deve passar exatamente pelos mesmos processos regulatórios que qualquer outro alimento”, realça a biotecnóloga da Universidade de Edimburgo.
A baunilha é a segunda especiaria mais cara do mundo, depois do açafrão.
O alimento está pronto, mas fechado numa arca frigorífica, de modo a relançar o debate sobre a crise climática e o desperdício alimentar. Ninguém pode tocá-lo ou interagir devido a falta de testes de segurança.