É "urgente" repensar justiça desportiva e credibilidade do futebol profissional
15-12-2021 - 13:25
 • Carlos Dias com Renascença

Suspensões com seis e oito meses de atraso a Jorge Jesus e Sérgio Conceição expõem demora das decisões. Lúcio Correia, professor de Direito do Desporto, salienta que os castigos devem ter efeito na própria época dos comportamentos.

Lúcio Correia, professor de Direto de Desporto, considera que é urgente repensar a justiça desportiva e munir de maior credibilidade as competições profissionais de futebol em Portugal.

No seguimento dos mais recentes castigos aplicados aos treinadores de FC Porto, Sérgio Conceição, e Benfica, Jorge Jesus - atribuídos com oito e seis meses de atraso, respetivamente -, voltou à tona da atualidade a demora das decisões da justiça desportiva em Portugal. Em entrevista a Bola Branca, Lúcio Correia pede ao Governo, à Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e à Liga de Clubes a implementação de medidas que diminuam os prazos para as decisões da justiça desportiva.

"Estamos cada vez mais a caminhar no sentido de que ocorre um comportamento e é punido dois, três anos depois, sem que quer a Federação, quer a Liga e, sobretudo, o Governo tenham tomado medidas legislativas no sentido de reduzir estes prazos. É urgente repensar esta situação de justiça e é urgente repensar a credibilidade das próprias competições desportivas nacionais", aponta o especialista.

Castigo na própria época do ato


Lúcio Correia salienta que "é preciso encurtar os prazos das tomadas de decisões" de cada uma das duas entidades de tramitação de processos, a Comissão de Instrutores da Liga e o Conselho de Disciplina da FPF.

O professor de Direito de Desporto sublinha a importância de que as consequências de "quaisquer comportamentos ilícitos desportivos" tenham efeito na própria temporada em que é praticado.

"Quando a própria lei refere a limitação no âmbito da intervenção das Federações ao máximo de 75 dias e saem acusações com nove, dez, 11 meses de atraso, leva-nos à necessidade de repensar todo o edifício da justiça desportiva. Uma justiça célere é eficaz. Uma justiça tardia descaracteriza a própria justiça. A pluralidade de etapas que ainda podem ocorrer a seguir leva que as decisões relativamente a comportamentos desportivos ilícitos ou violadores dos regulamentos possam ser sancionados dois ou três anos depois", alerta.

TAD também deve ser repensado


Lúcio Correia considera, portanto, que "há que repensar o funcionamento" do Tribunal Arbitral do Desporto (TAD), que foi criado em 2013 para agilizar a justiça desportiva, mas cujo objetivo não foi alcançado.

"Têm de ser proferidas decisões com a maior urgência possível. É o TAD que tem uma palavra fundamental no âmbito de uma justiça eficaz e célere. Há, depois, que repensar muito bem a sua articulação com os tribunais administrativos", aponta o professor de Direito do Desporto.

O FC Porto, através de recurso, e o Benfica, através de uma providencia cautelar, tentam que o Sérgio Conceição e Jorge Jesus possam sentar-se no banco nos próximos jogos. Com especial incidência sobre os próximos dois duelos entre as duas equipas, nos dias 23 e 30 de dezembro, a contar para a Taça de Portugal e para o campeonato, respetivamente.