A escassa vantagem com que o Orçamento do Estado passou coloca o governo numa plataforma politicamente fragilizada para concluir a legislatura? O calendário eleitoral – presidenciais em janeiro e autárquicas em setembro/outubro - vai colocar maior pressão? "Last, but not the least", a maior crise económica - desde que as crises são medidas – deixará que grau de devastação social?
São questões para analisar depois da viabilização do OE2021 ter deixado em circunstâncias políticas mais delicadas o governo e fornecido indícios sobre o acelerar do fim deste ciclo político. Afinal, o PCP foi o maior apoio do governo, mas, as várias "maiorias negativas" nas votações da especialidade contaram com apoio à esquerda do PS.
Já Rui Rio afirma-se como alternativa ao primeiro-ministro e justificou a decisão de inviabilizar a transferência de quase 500 milhões de euros para o Novo Banco com a desconfiança sobre a forma como o contrato com a Lone Star está a ser cumprido. Os deputados querem, antes de viabilizar nova injecção, garantir argumentos válidos de uma auditoria do Tribunal de Contas, mas o processo pode acabar no Constitucional.
Em paralelo, o governo enfrenta o maior desafio logístico de que há memória na saúde pública: a preparação de um plano eficaz e abrangente de vacinação contra a covid 19. Afinal, a vacina será o grande fator de desobstrução da economia e, com ela, a confiança e a retoma estarão de volta.
A análise é de Nuno Botelho, jurista, presidente da ACP – Câmara de Comércio e Indústria, Manuel Carvalho da Silva, sociólogo e professor da Universidade de Coimbra e João Loureiro, economista e professor da Universidade do Porto.