O ministério de Bento XVI é símbolo de uma “contemporaneidade”, marcada “com atos de determinação lúcidos e proféticos, capazes de iluminar o tempo e fazer história”, declarou esta quinta-feira o arcebispo de Évora.
D. Francisco Senra Coelho falava durante a homília, por ocasião da missa pelo Papa emérito, celebrada na Sé eborense e que reuniu dezenas de fiéis de toda a arquidiocese.
À semelhança do apóstolo Pedro, a quem foi confiado “um ministério universal, sobre todos os membros da Igreja”, também o Papa Bento XVI “respondeu com toda a sua liberdade e, portanto, com todo o seu ser a esta chamada: “Senhor Tu sabes que eu te amo”, lembrou o prelado.
Por isso, na base dos “atos de determinação lúcidos e proféticos” do Sumo Pontífice, esteve sempre, sublinha, “o seu amor ao Senhor que ele vê na sua Igreja.
Numa passagem pelo seu percurso de vida eclesial, D. Francisco Senra Coelho lembrou o Concílio Vaticano II, para assegurar que o Papa “soube ler nos apelos dos tempos a voz do Espírito Santo, e tudo fazer para que a Igreja não ficasse refém de uma certa tradição curta no seu alcance histórico e Patrístico, olhando mais para minudências do que para a sua própria matriz”.
Joseph Ratzinger, enfatizou, “tudo fez, unido a outros grandes teólogos, para levar a Igreja por um caminho iluminado pela sua identidade original, trinitária, Cristocêntrica e pneumatológica”.
Ratzinger foi ainda lembrado depois pela sua formação teológica concluída, em 1953, passou a partir de 1969, a ser Professor Catedrático de Teologia Dogmática e História do Dogma na Universidade de Ratisbona, “trazendo o Concílio Vaticano II à vida quotidiana eclesial e à formação dos novos pastores e gerações laicais”.
Na reflexão que propôs esta quinta-feira aos cristãos da arquidiocese, o arcebispo de Évora fez questão de invocar algumas frases da autoria de Bento XVI, recordando que como Papa ofereceu três “preciosas” Encíclicas: “Deus caritas est” (25 de dezembro de 2005), “Spe salvi” (30 de novembro de 2007), “Caritas in Veritate” (29 de junho de 2009).
Num momento de luto “iluminado pela esperança cristã”, D. Francisco agradeceu “o valor da estabilidade que a serenidade deste Pastor nos ofereceu a todos”, recordando “uma companhia tão silenciosa quanto presente”, como que “uma espécie de reserva moral testada e confirmada pela preciosidade da sua sabedoria e da sua coerência”.
“Perito em humanidade”, prosseguiu o prelado, “iluminava as mentes e os corações com a racionalidade da fé e com a proximidade da ternura de Deus aos vazios humanos”.
Bento XVI era ainda um profundo “conhecedor do Ocidente e da Europa, doentes”, tendo encetado “o diálogo Fé - Cultura através das promissoras e inacabadas iniciativas “Átrio dos Gentios””.
Nesse âmbito, destaca, “fica para sempre registado o seu abraço ao saudoso gigante do cinema Manuel de Oliveira, no contexto do seu encontro com a cultura realizado em Lisboa, no Centro Cultural de Belém, quando da sua visita pastoral a Portugal em 2010”, por ocasião da celebração dos dez anos da canonização dos Pastorinhos Francisco e Jacinta Marto, “talvez a visita pastoral que mais marcou o seu pontificado”.
O arcebispo menciona as “inesquecíveis celebrações litúrgicas vividas em Lisboa, Fátima e Porto”, que levaram as pessoas a compreenderem “quão diferente era o homem Bento XVI, ao vivo, daquele que lhe pintavam os fabricantes de opinião pública”.
A visita a Portugal foi, assim, “uma festa e um gratificante encontro de muitos “afastados” com a Igreja”, observou D. Senra Coelho, num feito que só está ao alcance de “verdadeiros sábios, os únicos capazes de falar dos grandes temas complexos e exigentes da vida com linguagem acessível, simples e compreensível a todos”.
“Papa de Fátima”, não só quando, como cardeal Prefeito do Dicastério da Doutrina da Fé, interpretou o Terceiro Segredo, mas como quando, “no Santuário da Cova da Iria, nos assegurou que a mensagem de Fátima e o segredo continuavam atuais, em aberto e a ajudar a iluminar os novos tempos”, aludiu.
Na homilia, o arcebispo de Évora assinalou também o gosto do Papa emérito pela música clássica, sobre a qual dizia: “A música de Mozart encerra todo o drama humano”.
“Foi esse drama humano que ele tocou e compreendeu muitas vezes, iluminando-o com a luz do Evangelho. Foi desse drama que saiu vencedor, quando com toda a liberdade interior a 11 de fevereiro de 2013, perante o reconhecimento das suas limitações humanas abdicou do exercício do ministério petrino ao renunciar à diocese de Roma”, evidenciou D. Francisco Senra Coelho, no decorrer da eucaristia desta quinta-feira, na catedral de Évora.
O funeral de Bento XVI aconteceu esta quinta-feira, na Praça de São Pedro, no Vaticano, com o Papa Francisco a presidir à cerimónia. O seu corpo esteve na Basílica de São Pedro desde a última segunda-feira para que os milhares de fiéis que por lá passaram, pudessem despedir-se do Papa emérito.