Querer sair, eles querem. O que não querem é ter que sair assim – e “assim” é o acordo remendado da primeira-ministra Theresa May com Bruxelas. Mas, assim sendo, também não querem sair já. Nem sem um acordo. Novo referendo para repensar tudo, nem pensar… por agora.
É certo que é reconhecido aos britânicos um proverbial humor, um muito, muito particular humor, sarcástico, corrosivo até, que utilizam amiúde contra si mesmos. Desta feita, a natureza indecisa dos britânicos (leia-se: dos deputados britânicos) quanto ao Brexit e ao desfecho do Brexit levou uma francesa, a ministra dos Assuntos Europeus Nathalie Loiseau, a troçar deles.
Em declarações ao "Le Journal du Dimanche", Nathalie Loiseau explicou que batizou o seu gato de “Brexit”. Porquê? “Porque ele me obriga a levantar todas as manhãs, com um miado de morte, para sair. Mas depois, quando lhe abro a porta, ele acaba por ficar parado à saída, indeciso, e põe-se a olhar para mim quando o ponho na rua”, ironizou.
Loiseau, que é a cabeça-de-lista do partido (“República em Marcha”) do Presidente francês Emmanuel Macron às próximas eleições Europeias, já antes havia ironizado sobre o Brexit.
Em outubro, por exemplo, sugeriu que, apesar de tudo, preferia um Brexit sem acordo ao “Chequers” de Theresa May, a proposta da primeira-ministra britânica para a futura relação do Reino Unido com a União Europeia – assim batizado por ter sido apresentada ao Governo na casa de campo de May em Chequers. E concluiu, a ministra francesa dos Assuntos Europeus, adaptando uma conhecida expressão de Theresa May: “Mais vale um não acordo do que um mau acordo [numa referência ao ‘Chequers’]”.
Chumbado o acordo de Theresa May – o mesmo, reprovado já duas vezes no Parlamento, não poderá ser novamente votado a não ser que apresente alterações substanciais –, chumbada a hipótese de um segundo referendo e também a possibilidade de uma saída sem qualquer acordo, seguir-se-á um pedido para a prorrogação do Brexit até 30 de junho, visto que os deputados aprovaram na quinta-feira uma moção do Governo no sentido de pedir (em caso de terceiro e último chumbo) a Bruxelas um adiamento.
Na quinta-feira, os líderes da UE reúnem-se em Bruxelas para decidir sobre esta possível prorrogação do Artigo 50.
Agora sem ponta de ironia, e já antecipando todos os cenários – um adiamento ou… um Brexit já, desordenado, a 29 de março –, Nathalie Loiseau conduziu a legislação de emergência, através da Assembleia Nacional francesa, para dar ao Governo do país amplos poderes executivos para responder a um não-acordo.