A 13 dias da data que assinala os santos populares em Lisboa, ainda ninguém sabe, oficialment,e se vai haver arraiais e até mesmo quais as regras a aplicar
A autarquia, a DGS, o Governo e a Polícia nada dizem sobre o assunto. Todas as questões sobre este tema esbarraram num manto de silêncio.
As orientações sobre este assunto deverão surgir amanhã, terça-feira, mas, entretanto, a Renascença contatou um vasto leque de entidades e não conseguiu uma única resposta.
A Câmara de Lisboa não tem para já qualquer explicação ou resposta à pergunta: “Como serão os santos populares este ano?”
O Ministério da Saúde afiançou que articulará a resposta às questões com a Direção-Geral de Saúde (DGS), a quem a Renascença também dirigiu uma pergunta sobre quais serão as regras durante os santos populares. A pergunta feita há pelo menos uma semana está sem resposta.
Continuando a tentar obter informações, as questões enviadas ao Ministério da Administração Interna (MAI) e à Direção Nacional da PSP tiveram a mesma sorte. Nem uma nem outra entidades deram ainda informação sobre o eventual reforço de patrulhas e fiscalização policial na noite de 12 para 13 deste mês.
A Renascença contatou ainda o gabinete de António Costa, que também nada informou sobre regras especificas para os santos populares sejam eles em Lisboa ou no Porto.
Ao que a Renascença apurou a junta de freguesia de Santa Maria Maior, em Lisboa − que abrange todos os bairros históricos onde a comemoração dos santos populares é forte − aguarda orientações da autarquia.
Nem a própria Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC), sabe ou tem informações para responder à questão: “Vai haver ou não festa e arraiais?”
Alfama não acredita
Mas nesta altura, são já poucas as esperanças das coletividades da capital. Não acreditam que os arraiais sejam viabilizados.
Em Alfama, há muito que se sabe que não vão poder sair à rua, e os organizadores das festas consideram que seria impossível, nesta altura, fazer à pressa os tradicionais arraiais.
"Se me disserem que é para seguir o formalismo anterior é impossível. Temos de apresentar candidaturas, plano de evacuação, pedir licenças, contratações de artistas e estruturas de palco, wc, contentores de lixo. Uma panóplia de requisitos que a 12 dias do evento é impossível ser concretizado", argumenta João Ramos, responsável pela marcha de Alfama e membro da coletividade.
A legislação em vigor não serve para os arraiais explica a mesma fonte. "Tendo em conta a atual legislação, fazer arraiais até às 22h30 é absolutamente inviável. Não nos vão dizer que podemos concentrar as pessoas até essa hora e que depois nos cabe a nos fazer cumprir a lei”, concretiza.
Ramos argumenta que “está tudo lançado para que não consigamos dominar a situação”. “Não vamos abrir uma caixa de fósforos para depois quando tivermos de chamar os bombeiros nos digam não, não, agora são vocês que têm de resolver o problema porque foram vocês que o criaram", ilustra.
O risco, neste momento, não compensa o desejo da festa. João Ramos diz que "infelizmente a maioria das pessoas que frequenta os arraiais não está vacinada” e “é preciso meter isso na cabeça de uma vez por todas”.
Por enquanto, aguarda-se uma posição oficial, mas na opinião deste organizador a mesma vai pecar por tardia.
"Espero que a Câmara como fez para as associações organizadoras das marchas, faça para as associações organizadoras de arraiais. Dizer, ainda que tarde, 'Nós sabemos quais são as vossas dificuldades e cá estaremos para vos ajudar a compensar os prejuízos'", pede.
Voz do Operário vai organizar festa para 100 pessoas
Já na Voz do Operário, um espaço fechado onde se pode controlar a concentração de pessoas, Vítor Agostinho, presidente daquela instituição, explica que à semelhança do ano passado vai haver arraial. Chama-se Retiro e terá capacidade para 100 pessoas.
O mesmo garante que haverá distanciamento social e que as regras sanitárias estão garantidas.
"Vamos chamar-lhe Retiro Beco de Lisboa. As pessoas vão ter de fazer marcação das mesas que vão ter o devido distanciamento. Vai haver um ecrã gigante onde vamos homenagear as marchas populares e o fado. Tudo em vídeo. As mesas serão de oito a 10 pessoas. A capacidade do espaço é para 100 pessoas. Há um plano que garante a entrada e a saída por zonas distintas", afiança Agostinho.
Pelo segundo ano consecutivo Lisboa não terá duas das suas mais tradicionais procissões, uma delas a de Santo António, a 13 de junho, a outra a do Corpo de Deus, que se assinala já na próxima quinta-feira, dia 3 de junho.
Na Igreja de Santo António, junto à Sé, este domingo, 30 de maio, celebrou-se já a festa da Canonização do Santo lisboeta.