Um grupo de investigadores portugueses está a trabalhar num projeto europeu, financiado em 25,5 milhões de euros, para acelerar o desenvolvimento de medicamentos inovadores, com potencial para tratar ou reduzir necessidades terapêuticas em doenças como cancro ou degenerativas.
O anúncio foi feito esta segunda-feira pelo iBET – Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica, em Oeiras, uma das instituições cientificas portuguesas que, a par com o Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC-UC), está a trabalhar neste projeto coliderado pela Universidade de Sheffield e pela farmacêutica Pfizer.
Designado ARDAT (Accelerating research & development for advanced therapies), este projeto de investigação europeu visa acelerar o desenvolvimento de Medicamentos de Terapia Avançada (ATMPs, na sigla inglesa), que mais não são do que fármacos inovadores de origem biológica, com grande potencial para tratar doenças que requerem soluções personalizadas e de medicina regenerativa, como as doenças crónicas (por exemplo, cancro), as doenças raras (doença de crohn ou hemofilia) e as doenças degenerativas (caso do alzheimer ou esclerose múltipla).
Os ATMPs apresentam a vantagem de "eliminar ou reduzir significativamente a necessidade de tratamento prolongado, permitindo uma melhoria significativa na qualidade de vida dos pacientes", referem os investigadores.
Na prática, este projeto pretende desenvolver modelos preditivos da resposta dos pacientes àqueles medicamentos, compreender como são processados pelo organismo e identificar mecanismos pelos quais o sistema imunitário do paciente pode reagir e comprometer a eficácia e segurança do tratamento.
É aqui que as entidades portuguesas envolvidas no projeto têm um papel "fundamental": avaliar a imunogenicidade de produtos de terapia génica (ou genética), ou seja, a capacidade daqueles medicamentos desencadearem uma resposta imunitária do organismo.
A equipa de Coimbra será responsável pela produção de diferentes vetores de terapia génica, cuja resposta imunitária e toxicidade será avaliada em Oeiras, recorrendo a modelos celulares 3D de tecido neurológico humano, regressando em seguida novamente a Coimbra para avaliação em modelos animais de doença.
Segundo Luís Pereira de Almeida, professor da Universidade de Coimbra e presidente do CNC-UC, nos últimos anos tem-se verificado um aumento do número de terapias génicas e celulares em ensaios clínicos.
Por isso, "é do interesse de todos, investigadores, doentes, indústria e agências reguladoras, conhecer em detalhe a resposta do organismo a estes medicamentos por forma a adaptar a terapêutica e maximizar eficácia e segurança dos tratamentos", destaca o responsável.
Para Catarina Brito, investigadora principal do iBET, "uma das grandes mais-valias deste projeto é a partilha de conhecimento", porque esta é uma área em que o desenvolvimento foi feito inicialmente por grupos académicos e pequenas empresas de biotecnologia, e que só recentemente (há cerca de 5 anos) é que foi abraçada pela grande indústria farmacêutica.
"Por isso, o desenvolvimento tem sido muito rápido mas o conhecimento está muito fragmentado pelos vários tipos de organizações", afirma a investigadora, explicando que "este projeto pretende colmatar esta limitação, reunindo os vários intervenientes para partilha de experiência e desenvolvimento de procedimentos estandardizados".
Desta equipa internacional e multidisciplinar fazem também parte as entidades reguladoras, fator "crucial para a adoção de procedimentos estandardizados para a avaliação de segurança e eficácia dos ATMPs que precede a sua aprovação", destaca o iBET.
O projeto ARDAT é um consórcio com a duração de 5 anos, apoiado pela Iniciativa sobre Medicamentos Inovadores (IMI), um programa criado em 2007 e cofinanciado pela União Europeia e pela Federação Europeia da Indústria Farmacêutica e Associações (EPFIA).
O objetivo da IMI, que financiou este projeto em 25,5 milhões de euros, é gerar conhecimento sobre o modo de ação dos ATMPs, contribuindo para a definição de normas e padrões adequados, que ajudem a acelerar o desenvolvimento dos medicamentos inovadores e a sua disponibilização aos pacientes, garantindo a sua eficácia e segurança.
Ao todo, são 10 os investigadores portugueses (cinco de cada instituto) que participam no projeto europeu ARDAT, que oficialmente arrancou no dia 1 de novembro de 2020 e terminará a 31 de outubro de 2025.