Montenegro. "Fazer a pergunta que o outro sopra ao ouvido não é jornalismo"
08-10-2024 - 09:24
 • Filipa Ribeiro

Primeiro-ministro alerta para os perigos e riscos do trabalho dos jornalistas com críticas a algumas práticas. Luís Montenegro defende a necessidade de garantir a sustentabilidade dos orgãos de comunicação, acabar com a precariedade dos jornalistas, mas sem "interferir" no trabalho da informação.

O primeiro-ministro quer acabar com a precariedade no jornalismo e garantir que o trabalho dos órgãos de comunicação social continua a contribuir para "uma democracia mais robusta".

Na conferência "O Futuro dos Media", em Lisboa, o Governo apresenta o plano de medidas para os órgãos de comunicação social e Luis Montenegro começou por defender a "valorização da carreira dos jornalistas" para garantir que os profissionais "não vivem sob o estigma da precariedade". Luís Montenegro acredita que com a valorização é possível garantir ainda que não há muita "relação de dependência entre o jornalista e determinados objetivos do seu trabalho".

O primeiro-ministro deixou por isso nota de algumas práticas que não o deixam indiferente e puxou o sentido crítico.

Luís Montenegro defende que, tal como são pedidos "bons quadros" na função pública e nos políticos, também é necessário que sejam exigidos "bons jornalistas".

O primeiro-ministro critica a comunicação social "ofegante" quando "as coisas estão a funcionar" e pede que seja "mais tranquila". Dá exemplos pessoais, recorrendo aos momentos em que é questionado pelos jornalistas à entrada e saída de eventos. "Quando me tentam apanhar para perguntar se o PS já respondeu, fazem-no em detrimento daquela que é a minha presença aqui".

Montenegro diz que o que mais o impressiona atualmente é "estar com seis ou sete câmaras à frente e jornalistas com auricular onde lhes dizem as perguntas que estão a fazer, ou com recurso ao telemóvel", Luís Montenegro considera que neste modelo "os jornalistas não estão a valorizar a sua profissão" acrescentando que "para fazer a pergunta que o outro sopra ao ouvido ou ler a pergunta num SMS do telemóvel não é preciso ser jornalista".

Nos alertas aos jornalistas, o primeiro-ministro sublinhou que "as redes sociais são inimigas", aconselhando aos órgãos de comunicação que não vão "atrás das ondas do que se passa nas redes sociais", porque assim não valorizam o trabalho que estão a fazer.

O primeiro-ministro recordou que há um novo contrato de serviço público a ser negociado com a RTP, realçando o objetivo de terminar em três anos com a publicidade comercial na televisão pública. Ainda assim, Montenegro sublinha que "mau seria ter fundos na RTP e deixar todos os outros órgãos de comunicação social entregues à selvajaria".

Apesar de o Governo anunciar um plano de incentivos para a comunicação social, o primeiro-ministro aproveita a presença de todos os responsáveis pelos vários órgãos de comunicação para garantir que o executivo "não quer intervir no funcionamento dos órgãos de comunicação social". O governante realça que não quer "nenhum tipo de intervenção num espaço que é reduto do jornalismo", assumindo que o Governo "tem a obrigação de construir um edifício legislativo e os alicerces da sustentabilidade financeira do sector para que se possa traduzir em maior grau de liberdade".