O bispo de Fort Worth, nos Estados Unidos, escreveu um artigo em que sugere que o ex-cardeal Theodore McCarrick, arcebispo emérito de Washington, seja reduzido ao estado laical. Esta é a pior censura canónica que existe para um clérigo católico, antes da excomunhão.
McCarrick, que tem agora 88 anos, chegou a ser um dos bispos mais influentes da Igreja americana e foi mesmo a face pública da Conferência Episcopal quando esta tentou implementar novas práticas e regulamentos no seguimento do escândalo de abusos sexuais.
Contudo, recentemente surgiram alegações, consideradas credíveis pelas autoridades civis, de que o arcebispo tinha abusado de um menor, há vários anos. McCarrick foi suspenso de toda a atividade enquanto decorria um inquérito, mas negou qualquer prática incorreta. Nas semanas subsequentes, porém, têm sido feitas muitas outras revelações que parecem comprovar que o então cardeal recrutava e mantinha relações sexuais com vários homens, muitos dos quais outros padres ou seminaristas. Há pelo menos mais uma acusação de abusos de menor.
A situação está a chocar toda a igreja americana e a causar uma crise de confiança nos bispos, uma vez que muitas das insinuações contra o cardeal já eram conhecidas pelo clero. Pelo menos em duas das dioceses em que tinha sido bispo foram pagas indemnizações a ex-padres que alegavam ter sido abusados por McCarrick. Apesar disso, ele foi promovido a arcebispo de Washington e acabaria por ser nomeado cardeal.
Em declarações reproduzidas pela revista católica inglesa “Catholic Herald”, o bispo Michael Olson, de Fort Worth, no Texas, não poupa críticas a McCarrick e a todos os que permitiram que ele se mantivesse ao serviço da Igreja, apesar de saberem dos seus atos.
“A cada dia que passa aprendemos que o ex-cardeal não só alegadamente praticou abusos contra menores, mas também contra subordinados, incluindo padres, seminaristas e leigos. Os efeitos nefastos destes atos foram depois multiplicados pelo facto de se terem pago indemnizações a vítimas sem qualquer transparência nem restrições ao seu ministério”, diz Olson, para quem “a pronta redução canónica ao laicado deve ser fortemente deliberada”.
“A justiça requer ainda que todos os líderes da Igreja que sabiam dos alegados crimes e má conduta sexual, e nada fizeram, sejam responsabilizados pela sua recusa em agir, permitindo assim que outros fossem prejudicados.”
Já depois de o escândalo ter rebentado, McCarick pediu a resignação do Colégio dos Cardeais. O Papa ordenou uma investigação, mas entretanto remeteu o arcebispo emérito para uma vida de oração e reclusão. Essa é uma medida que normalmente só surge no final das investigações, quando o sujeito é considerado culpado, o que levanta a possibilidade de, neste caso, a eventual pena canónica ser ainda mais dura, o que poderá dar força à proposta de Michael Olson de que McCarrick seja laicizado.
O bispo de Fort Worth tem apenas 52 anos e foi feito bispo em 2014.