Fernando Rosas, historiador, fundador e histórico do Bloco de Esquerda, reconhece que o partido "sofreu derrotas importantes nas últimas eleições", e assume que a recuperação contra aquilo que considera ser "a chantagem do PS" é um "terreno político difícil".
Durante a gravação do podcast da Renascença, "Avenida da Liberdade", da jornalista Maria João Costa, Fernando Rosas antecipa um caminho difícil para o Bloco de Esquerda nos próximos anos, em véspera do partido eleger um novo líder.
Referindo-se à estratégia do PS nas últimas legislativas de 2022 como "uma espécie de chantagem sobre a inteligência das pessoas", Fernando Rosas alerta para o cenário vivido por partidos semelhantes ao BE noutros países europeus.
"Não se iluda, onde é que está a esquerda italiana? Desapareceu. Onde está a esquerda espanhola? Vamos ver o que vem aí a seguir e de onde não se prevê nada de entusiasmante. A esquerda portuguesa sofreu derrotas importantes nas últimas eleições", lamenta o historiador, ressalvando, no entanto, que o papel do Bloco de Esquerda é essencial para colocar um travão no crescimento da extrema-direita.
Fernando Rosas assume que o Bloco de Esquerda "não conseguiu resistir à chantagem do Partido Socialista", que, nas suas palavras, abriu uma vala e encurralou as pessoas entre votar na extrema-direita e votar no PS.
Nas últimas legislativas, o Bloco de Esquerda perdeu 14 deputados, e viu o seu grupo parlamentar passar de 19 para cinco lugares na Assembleia da República, ao mesmo tempo que o PS atingiu a maioria absoluta.
Os factos são assumidos por Fernando Rosas como "um desaire eleitoral", mas o historiador acredita que o BE fez bem em votar contra o Orçamento do Estado- decisão que levou o presidente da República a dissolver o Parlamento e precipitar eleições- ao olhar para a "inflação galopante", para os "salários desvalorizados", SNS "à beira do colapso" e para a escola pública em greve permanente.
"A realidade veio mostrar que o Bloco de Esquerda tinha razão", conclui o fundador do partido.
Depois da hecatombe, Fernando Rosas considera continuar a ser essencial a representação de um partido como o Bloco de Esquerda, como a esquerda "que propõe um outro modelo de economia", por oposição a um PS "voltado para a direita e para o centro".