Mais de 200 sequelas. Covid Longa passa a ser Condição pós-Covid
28-12-2021 - 19:25
 • Pedro Mesquita , André Rodrigues

Na maior parte das vezes, esta condição não se manifesta e a recuperação é rápida e total. Nos casos em que ocorre, os sinais mais frequentes são a fadiga, a falta de ar, a tosse seca, a irritabilidade, a ansiedade e as perturbações de sono.

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A Covid Persistente ou de Longa Duração já conta mais de 200 sequelas identificadas e, a partir desta terça-feira passa a ser designada como Condição Pós-Covid, determinou a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em declarações à Renascença, o pneumologista Filipe Froes começa por explicar que a nova designação para os sintomas de longo prazo da Covid-19 “foi estabelecida pela OMS para se referir a todos os indivíduos que tiveram uma história provável ou confirmada ao SARS-CoV-2 há mais de três meses e que mantêm sintomas pelo menos há menos dois meses, que não podem ser explicados por diagnósticos alternativos”.

Sintomas frequentes

Na maior parte das vezes, a Condição Pós-Covid não se manifesta e a recuperação é rápida e total.

Contudo, na minoria de situações em que tal ocorre, produz-se uma complexa mistura de sintomas.

"Muito frequentes são o cansaço, a fadiga, a falta de ar, a tosse seca, a irritabilidade, a ansiedade, perturbações de sono”, enumera Filipe Froes que, contudo, alerta que para o “caráter ondulante” destas diferentes manifestações.

Segundo este especialista, há três denominadores comuns: “a fragilidade, a multidisciplinaridade - são sempre queixas que revelam envolvimento de diferentes órgãos – e a complexidade”.

Apesar de poder representar um “impedimento total ou parcial do exercício normal das atividades”, em muitos casos com necessidade de justificação através de uma baixa médica, a verdade é que “na maior parte dos casos, é uma situação reversível”, acrescenta o pneumologista.

Filipe Froes defende, por isso, o reconhecimento oficial da Condição Pós-Covid de modo a “facilitar a abordagem e, eventualmente, o tratamento de pessoas e o ressarcimento das que tiveram esta doença e que precisam de ser reconhecidas e devidamente valorizadas”.

“Quem não publica não existe”

A consensualização do termo Condição pós-Covid foi o resultado de um consenso científico de peritos de vários países, mas nenhum deles era português.

“Da parte ocidental da Europa, [Portugal] será, juntamente com a Irlanda, o país que não teve peritos envolvidos neste documento [Método Delphi] da Organização Mundial de Saúde. Ou por ausência de produção ou por ausência de visibilidade a nível internacional de peritos portugueses nesta área. Quem não publica não existe”, constata Filipe Froes.

De quem é a responsabilidade? O pneumologista aponta o dedo às autoridades de Saúde que, segundo diz, não dão tempo nem estrutura de apoio que permita monitorizar e publicar o que é feito.

“Acabamos todos por ser prejudicados ao não termos o reconhecimento necessário para sermos convidados para estas iniciativas”, remata.

Um dos passos essenciais, segundo Filipe Frois, seria a “existência de um programa nacional para uniformizar abordagens diagnósticas, terapêuticas e de seguimento e o estabelecimento de centros de referência nacional que permitissem uma abordagem mais fácil a quem sofre desta doença e uma abordagem mais uniforme e passível de ser monitorizada para melhorar os resultados”.