O porta-voz da moção E à XIII Convenção Nacional do BE defendeu este sábado que a geringonça "continua a marcar a linha política" do partido e criticou os deputados bloquistas por integrarem a comitiva que visitou a Ucrânia.
"A geringonça acabou mas perdura na cabeça de alguns e continua a marcar a nossa linha política", criticou Pedro Soares durante a apresentação da moção 'E' à XIII Convenção, que decorre entre sábado e domingo em Lisboa.
O delegado, que é o rosto da oposição interna à atual direção, considerou que o BE perdeu "influência política e social" e defendeu a necessidade de o partido "correr por fora, de forma autónoma e diferenciada" e se constituir como "alternativa e oposição à maioria absoluta".
Pedro Soares, que esteve presente nas negociações que resultaram na geringonça, em 2015, apontou também as consequências "de anos de troca do programa" do partido "pela procura de acordos com o PS, sem qualquer base real de possibilidade, a não ser o abandono das suas bandeiras".
"Estamos aqui porque queremos lutar pelo diálogo e pela pluralidade. Por um Bloco com uma política de esquerda, polarizadora, com compromissos claros. Sim, com linhas vermelhas claras que não dê cobertura a uma espécie de social-democracia fora de tempo, cada vez mais liberal", afirmou, considerando que a "deriva para a institucionalização é mortífera, transformaria o BE naquilo que não quis ser".
"O BE foi à Ucrânia fazer o quê?"
Na sua intervenção, o ex-deputado falou também da guerra na Ucrânia, apontando que se "exige a condenação inequívoca da Federação Russa pela invasão de um país soberano e solidariedade total com o povo ucraniano, que tem o direito de se defender".
Pedro Soares apontou que "cria enorme perplexidade ver dirigentes do BE a declararem que em matéria de guerra na Ucrânia a posição é a mesma do Governo português", apontando que a posição do executivo "é a mesma da NATO".
"Não menos perplexidade causa a integração do Bloco numa delegação parlamentar à Ucrânia, a convite de um neonazi organizador das piores perseguições à oposição de esquerda na Ucrânia. O BE foi à Ucrânia fazer o quê? Comprometer-se com a posição euro-atlântica do prolongamento da guerra e da escalada militar, foi corroborar o convite a um neonazi para discursar no nosso Parlamento?", criticou.
E apontou que, "se não foi nada disto", não ouviu "ainda uma única palavra de demarcação e de solidariedade com a oposição ucraniana cujos dirigentes ou estão mortos ou estão presos".
Sobre a vida interna do Bloco, Pedro Soares considerou que "o mal estar está instalado e transborda" e afirmou que a direção atual "não avalia os mais evidentes sinais de crise".
"Os militantes e a opinião pública valorizam quem assume os seus erros e procura corrigi-los", defendeu, salientando que não basta "mudar os rostos" mas continuar com a mesma política.
Numa referência à moção adversária, de Mariana Mortágua, defendeu que "os tempos não estão para discursos vagos, do tipo uma vida boa para todas as pessoas", apontando que os tempos são "fraturantes e exigem a clareza do compromisso político com o trabalho, com o ambiente, com os direitos mais elementares à saúde ou à habitação, e não ficar por declarações de princípio de largo espectro que não polarizam e só podem ter como desfecho a diluição da identidade" do Bloco.
Pedro Soares apontou ainda críticas à direita e à extrema-direita, afirmando que "são capazes de fazer o pino para que o barulho do espetáculo se sobreponha à realidade social".