Não foi bem um debate. Mais do que argumentos, Marisa Matias e André Ventura trocaram insultos e estiveram à beira de ficarem sem palavra, já quase no fim do debate, com a moderadora, Clara de Sousa, a ameaçar cortar o som dos microfones.
Com posições opostas no espetro político e opiniões divergentes sobre todos os assuntos levados a debate, os dois candidatos até discordam do que fazer caso um deles fosse eleito e tivesse de dar posse a um governo que incluísse o partido do outro.
O debate começou, precisamente, por aí, com André Ventura a dizer que Marisa Matias “é uma candidata irresponsável” por dizer que não daria posse a um governo que incluísse ministros do Chega.
“O Chega é um partido que faz parte hoje da democracia”, garantiu Ventura, considerando que ninguém pode dizer “há aqui uns eleitores que contam mais do que outros para o jogo da democracia”.
Marisa Matias, que fez questão de começar a primeira intervenção com uma referência à “situação muito dramática” que se viveu quarta-feira nos EUA, reafirmou que não daria posse a um governo que inclua o Chega porque “um Presidente não pode dar posse a um governo que tenha um ministro que defende a discriminação das pessoas em função da cor da pele”.
“Eu daria posse a um governo que tivesse o Bloco de Esquerda”, contrapôs Ventura, acrescentando que, depois, lutaria contra medidas que esse governo quisesse tomar, como expropriações e nacionalizações.
Marisa Matias, contudo, disparou para um dos ataques que levava preparados para tentar mostrar que Ventura não é de confiança e fez referência às buscas feitas pela Polícia Judiciária no gabinete do candidato.
“Não foi o Chega que teve um Ricardo Robles, não foi o Chega que deu moradas falsas no Parlamento”, reagiu Ventura, lembrando que aquelas buscas ocorreram na mesma operação de investigação a financiamentos partidários que também fez buscas na Câmara de Lisboa de cuja maioria o Bloco faz parte.
A partir daqui os insultos foram em crescendo. Marisa Matias acusou o líder do Chega de ser “cobarde e troca-tintas” por só propor medidas contra os fracos e nunca apontar o dedo a quem tem o poder económico.
“Se há vigarista nesta mesa está desse lado”, atacou André Ventura.
Quando o tema passou para as migrações, André Ventura defendeu regras apertadas na entrada de migrantes na Europa porque não quer uma Europa em que uns pagam e outros têm regalias. “É um discurso que envergonha qualquer democrata”, condenou a eurodeputada, que voltou a chamar “cobarde” ao adversário político.
“Cobarde” foi também o adjetivo que usou para acusar Ventura de querer “tirar apoios sociais aos mais pobres dos pobres dos Açores”.
Educação e saúde foram outros dois temas deste debate, com André Ventura a defender que todos os portugueses devem poder escolher em que escola colocam os filhos e ser apoiados pelo Estado para pagar essa escolha e a considerar que Marcelo Rebelo de Sousa não devia ter promulgado a Lei de Bases da Saúde feita com um acordo à esquerda.
“Não podemos continuar a ter PPP (parcerias público-privadas), independentemente de funcionarem bem ou não”, disse a candidata do Bloco que defende que, para combater a pandemia, o Estado deve usar também os meios privados.
A terminar, Marisa Matias voltou a fazer referência ao caso das investigações da PJ no gabinete de Ventura, lembrou que o candidato foi militante do PSD e aplaudiu as políticas da troika e elencou outros casos que considera que mostram como o candidato do Chega é “troca-tintas” e quer “fazer de tudo um lamaçal”.
“Nem o próprio candidato André Ventura se leva a sério, sou eu que o vou levar a sério? Claro que não!”, rematou.
Minutos antes, Ventura já tinha proclamado a sua vitória: “Sabia que vinha debater comigo, sabia que não vinha debater com o Rato Mickey. Não consegue desenvolver uma ideia sem me atacar. Teve azar hoje: vinha preparado para acabar consigo.”