São mais de cinco mil os manifestantes de colete amarelo que ocupam as ruas da cidade de Paris, espalhando o caos e a confusão. Nas ruas estão também cinco mil polícias, que recorrem a gás lacrimogéneo, canhões de água e balas de borracha para dispersar os manifestantes.
As autoridades francesas confirmam, para já, e só em Paris, 183 detenções. A Reuters adianta que a polícia trava uma autêntica "batalha campal" com os protestantes e reporta que a maior parte dos confrontos está relacionada com grupos de extrema-direita e extrema-esquerda que se terão infiltrado nos "coletes amarelos".
Os confrontos entre os “coletes amarelos” e a polícia começaram cedo, junto ao Arco do Triunfo. Há também manifestações noutras zonas de França, mas mais pacíficas. Pelo menos 89 pessoas, incluindo 16 polícias, ficaram feridos nos protestos.
"Quanto mais eles nos mandam gás, mais as pessoas ficam em cólera. Se nos deixassem manifestar nos Campos Elísios e sem gás, as coisas não seriam assim”, afirma Corinne, uma das manifestantes de “colete amarelo”. “Hoje tenho medo que a França entre em guerra civil. Se for necessário, voltarei no próximo sábado", garantiu ainda.
Ao contrário da semana passada, neste sábado os Campos Elísios estão completamente controlados pela polícia. Revistas, controlos de identidade e barreiras intransponíveis estão montadas em todas as ruas que dão à avenida.
Nas malas de alguns dos manifestantes foram encontrados martelos e outros materiais que poderiam ser utilizados contra a polícia, segundo relatam os meios de comunicação franceses.
Os manifestantes não aceitaram submeter-se ao controlo da polícia e concentrarem-se à volta do Arco do Triunfo, também apelidado de Praça da Estrela, por ser uma rotunda que reúne várias avenidas.
"Sempre que os manifestantes tentam passar, somos gaseados. Tentam conter-nos aqui. Mas eu acredito que só precisamos venham mais pessoas, sem força nunca teremos nada em França. As pessoas não vêm para passear ou para visitar o Arco do Triunfo, vêm porque estão fartas desta situação", diz Dominique, um manifestante que autointitula de “avô pacifista”.
Este “colete amarelo” reconhece que há pessoas que se infiltram no movimento só para destruir a cidade – uma acusação feita também pelo Secretário de Estado da Justiça, segundo o qual entre os “coletes amarelos” estão centenas e centenas de outros manifestantes que aproveitam este protesto para provocar desacatos com fins políticos.
E é também por isso que o Presidente francês, Emmanuel Macron, já afirmou que não se demite. O porta-voz do Governo já veio mesmo dizer que o executivo de Macron está aberto ao diálogo, mas só com quem não tiver interesses políticos nesta luta.
“Fartos” de Macron
As reivindicações dos coletes amarelos não mudaram, mesmo depois de o Presidente se ter dirigido à nação na passada terça-feira. Carga de impostos, perda do poder de compra e desilusão geral com o Governo são as queixas mais comuns entre quem escolheu vir a Paris manifestar.
"Estamos fartas. Já nos mentiram o suficiente. Só queremos a demissão dele, já não podemos ver. Pagamos demasiado impostos, no dia 15 do mês já não temos dinheiro para comer, não podemos ter filhos porque temos medo de não lhe dar um futuro", afirmam em uníssono Anais, Marie e Gaelle, que vieram da Bretanha, no sudeste da França.
A maior parte das lojas optaram por fechar portas e barricaram as vitrinas – muitas ainda partidas desde a semana passada. Assan, que tem uma pequena mercearia na vizinhança, optou por manter o comércio aberto, mas pode fechar durante a tarde, caso a situação se intensifique.
"À tarde piora. Isto não pode continuar assim, o Governo tem de encontrar uma solução. Para quem está mesmo nos Campos Elísios, é ainda pior. Este é primeiro fim de semana de dezembro e começam as compras de Natal", lembra Assan.
O movimento de "coletes amarelos" nasceu espontaneamente num sinal de protesto contra a taxação de combustíveis em França.
As ações de contestação estão a causar grande embaraço ao Governo francês, tendo corrido mundo as imagens de confrontos entre manifestantes vestindo coletes amarelos e a polícia, no passado sábado, na emblemática avenida dos Campos Elísios.
Édouard Philippe "chocado” com violência
O primeiro-ministro francês, Édouard Philippe, afirmou estar "chocado” com cenas de violência "raramente vistas” e que "colocaram em causa símbolos da França”, referindo-se ao Arco do Triunfo e outros monumentos que estão no local dos confrontos. "No início da manhã, pessoas equipadas e determinadas fizeram prova de uma grande violência”, sublinhou o chefe de Governo na sede da polícia de Paris.
A praça da Estrela, no alto dos Campos Elíseos, e o Arco do Triunfo ficaram tomados pelas nuvens de gás lacrimogéneo quando centenas de manifestantes afrontaram as forças da ordem. Em torno da chama do soldado desconhecido, que repousa sob o Arco do Triunfo, os manifestantes com capacetes e capuzes cantaram a Marselhesa, num clima extremamente tenso.
“Estamos determinados a garantir que nada será desculpado àqueles que foram ao local apenas com o desejo de quebrar, para provocar a polícia, para levar um discurso revolucionário de preocupações que nada têm a ver com as questões que foram levantadas pelo Presidente da República e que o governo pretende resolver", declarou Philippe.
E lembrou que em França existe um compromisso com a liberdade de expressão. “Ela está garantida, ela será defendida. Estamos comprometidos com o diálogo e todos aqueles que desejam, juntamente com o Governo, com todas as organizações sindicais e políticas, trabalhar na definição de soluções para as quais vos convida o Presidente da República e serão bem-vindos", afirmou.