Quinta-feira é, tradicionalmente, o dia do encontro semanal entre o Presidente da República e o primeiro-ministro. É também o dia que dá título ao livro de Aníbal Cavaco Silva em que o antigo Presidente vai prestar contas do seu tempo passado em Belém.
“Quinta-feira e Outros Dias” – assim se chama o livro – já tem apresentação marcada para dia 16, precisamente uma quinta-feira. A apresentação vai decorrer no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, um edifício que faz parte da história política de Cavaco Silva: além de ter promovido a sua construção, foi lá que apresentou as suas candidaturas presidenciais e festejou a última vitoria.
O livro, ao que a Renascença sabe, foi escrito na primeira pessoa pelo próprio Cavaco Silva, que pretende prestar contas dos seus dois mandatos presidenciais e também justificar algumas das decisões e atitude.
No "site" da loja Fnac, o livro ainda não está disponível, mas já há uma pequena apresentação da obra feita pelo próprio Cavaco. "Tendo mantido até agora reservada parte importante da minha acção como Presidente da República, convicto de que essa era a melhor forma de defender o superior interesse nacional – e nunca tendo ocorrido fugas de informação para a comunicação social sobre o que se passou nos meus encontros com o Primeiro-Ministro e outros membros do Governo –, entendo que é altura de completar a prestação de contas aos Portugueses dando público testemunho de componentes relevantes da minha magistratura que são, em larga medida, desconhecidos dos cidadãos”, escreve o antigo Presidente, mostrando assim que vai apresentar novidades sobre os seus anos em Belém.
Um ex-Presidente recatado
Retirado da intervenção pública desde a posse do seu sucessor, a 9 de Março do ano passado, o antigo Presidente tem trabalhado no Gabinete do Sacramento, as instalações no antigo Mosteiro do Santíssimo Sacramento, em Alcântara, Lisboa, que escolheu para instalar-se como antigo Presidente.
Desde que deixou a Presidência, Cavaco tem tido muito poucas intervenções públicas, recusando geralmente comentar temas da actualidade. Contudo, esta segunda-feira entendeu fazer uma nota sobre os 25 anos do Tratado de Maastricht em que chama a atenção para os perigos de um eventual fim da moeda única.
Ao longo dos seus dez anos de Presidente (2006-2016), Cavaco Silva conviveu às quintas-feiras (e também noutros dias) com três primeiros-ministros: José Sócrates, Pedro Passos Coelho e António Costa.
O primeiro-ministro com que coabitou mais tempo foi José Sócrates (que ocupou São Bento de 2005 a 2011). A relação começou por ser de elogios mútuos, mas terminou com grande desconfiança de Cavaco Silva em relação a José Sócrates. Uma relação sobre a qual o antigo Presidente também dará algumas explicações.
Com Passos Coelho, viveu e conviveu nos anos da troika. Embora sejam ambos do mesmo partido, Passos e Cavaco tiveram momentos de alguma animosidade – exemplo: quando o Presidente alertou para o perigo de uma “espiral recessiva”.
António Costa e Cavaco Silva só conviveram menos de quatro meses como primeiro-ministro e Presidente, mas foi notória a falta de vontade que o chefe de Estado tinha em dar posse ao actual Governo. Ainda assim, sempre que fala desses meses, o actualmente primeiro-ministro fala de cooperação e de boa relação institucional.