O anúncio do Presidente norte-americano, Donald Trump, de que vai retirar as tropas do nordeste da Síria, abrindo o caminho de uma operação turca contra os curdos, está a fazer soar os alarmes na comunidade internacional.
O Governo dos Estados Unidos anunciou no domingo que não iria obstaculizar uma operação turca contra as milícias curdas, no norte da Síria, dizendo que retiraria o seu contingente militar de várias zonas deste país, para abrir espaço de manobra para o plano de Ancara.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou esta segunda-feira à contenção máxima de todas forças no terreno no nordeste da Síria.
“Os civis e as infraestruturas civis devem ser protegidas a tempo inteiro e deve ser garantido o acesso humanitário e sem entraves aos civis carenciados”, sublinhou o porta-voz de Guterres.
Para o ministro francês da Defesa, Florence Parly, a retirada norte-americana e uma ofensiva turca contra os curdos pode abrir a porta ao ressurgimento dos terroristas do Estado Islâmico.
Fonte oficial do Departamento de Estado norte-americano, citado pela agência Reuters, já veio afirmar que os Estados Unidos não apoiam uma incursão da Turquia, que em nada irá contribuir para a segurança na região.
“Nós tornámos claro [à Turquia] que não apoiamos esta operação. Achamos que esta operação é uma ideia muito má”, declarou a mesma fonte.
Numa rara demonstração de unidade, congressistas democratas e republicanos condenaram esta segunda-feira a retirada da Síria.
Alguns deputados admitem apresentar uma resolução para obrigar Donald Trump a recuar na sua decisão ou sanções contra a Turquia em caso de um ataque contras as forças curdas, um importante aliado contra o Estado Islâmico.
Nikki Haley, antiga embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, defende que os curdos "foram determinantes para o sucesso na luta contra o Estado Islâmico" na Síria e "deixá-los à morte seria um grande erro".
Trump ameaça “destruir” a economia turca
A onda de reações à notícia da retirada levou o Presidente norte-americano a voltar ao tema. Donald Trump ameaçou esta segunda-feira “destruir” a economia da Turquia no caso de uma eventual intervenção de Ancara na Síria contra as milícias curdas locais que ultrapasse os limites.
“Como disse antes, e apenas para reiterar, caso a Turquia faça algo que eu, na minha grande e inigualável sabedoria, considere que está fora dos limites, destruirei e aniquilarei totalmente a economia da Turquia”, disse Trump na sua conta Twitter.
“Já o fiz anteriormente!”, acrescentou, numa referência à queda da lira turca, que em agosto perdeu 25% do seu valor após os Estados Unidos terem convertido a libertação do missionário protestante Andrew Brunson, que entretanto regressou aos Estados Unidos, numa causa diplomática.
Na noite de domingo Trump anunciou a retirada das tropas norte-americanas do norte da Síria, que hoje justificou para assegurar que “chegou a hora de sair de guerras ridículas sem fim”.
“Os Estados Unidos fizeram muito mais do que poderia ser esperado, incluindo a captura de 100% do autoproclamado califado do EI. Chegou a hora que outros na região, alguns com uma grande riqueza, protejam o seu próprio território”, argumentou.
No fim de semana, o Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, advertiu que está “iminente” uma intervenção militar em território sírio contra as milícias curdas sírias na zona leste do rio Eufrates, e sugeriu que Ancara não esperar pelo apoio dos EUA nesta operação.