Os líderes da Rússia, do Irão e da Turquia vão encontrar-se na quarta-feira para discutir a situação na Síria, mas sem representantes da própria Síria.
A reunião pretende encontrar caminhos para a paz e ajudar a preparar uma nova constituição para o país, que, em março, completou sete anos de uma guerra civil que já matou mais de 500 mil pessoas e obrigou metade da população a deslocar-se.
Se a própria Síria estará ausente, os interesses de Bashar al-Assad - o líder que não só se manteve no poder ao longo de todos os anos da guerra como nos últimos dois anos virou a sorte da guerra a seu favor e tem conseguido importantes vitórias militares - serão bem representados, tanto pela Rússia como pelo Irão, dois dos seus mais importantes aliados internacionais.
Na mesma mesa, estará a Turquia, país vizinho da Síria que, desde o começo das revoltas contra o regime, apelou à saída de Assad e que, nos últimos meses, passou a interferir diretamente na guerra, invadindo a região norte, junto à fronteira turca, e apoiando no terreno pelo menos um dos grupos que se opõe ao regime, o Exército Livre da Síria.
Apesar de apoiarem fações diferentes nesta guerra, a Rússia e a Turquia têm mantido relações relativamente boas ao longo destes anos e espera-se que esta cimeira permita encontrar caminhos para a pacificação do país.
Os três países falarão ainda sobre uma nova constituição e sobre a possibilidade de estabelecer zonas de segurança, evitando mais operações militares.
Atualmente o exército sírio, que conta com o apoio de milícias pró-regime, do Irão e da Rússia, controla a maior parte do território do país, incluindo a importantíssima região ocidental, junto ao Líbano e junto ao mar, onde se encontra a maior parte da população e da indústria e comércio sírios.
Grande parte do nordeste é dominada pelas Forças Democráticas da Síria, uma aliança de milícias curdas, árabes e cristãs, que tem estabelecido um regime democrático baseado na representação das diferentes etnias que vivem na região. Apoiadas pela coligação internacional que foi criada para combater o Estado Islâmico, as FDS não são reconhecidas pelo regime e são odiadas pela Turquia, que invadiu o norte do país precisamente para tentar expulsar da região as milícias curdas que, insiste, são terroristas aliadas ao PKK, o Partido dos Trabalhadores Curdos, que tem levado a cabo uma insurreição contra o Estado turco ao longo das últimas décadas.
As FDS são um fator muito importante na Síria atual e provavelmente o grupo mais significativo que não estará representado nas conversações, que terão lugar em Ancara.
Existem ainda no país algumas bolsas de território dominadas pelo Estado Islâmico, embora haja indicações que este grupo está a conseguir reorganizar-se agora que as FDS foram obrigadas a diminuir os combates para confrontar a ameaça turca no norte.
Por fim, há ainda algum território controlado por rebeldes, entre os quais alguns grupos ligados à al-Qaeda e outros de tendência mais secular, como o Exército Livre da Síria, que se situam sobretudo no noroeste da Síria, perto da fronteira da Turquia.