Crispado. É desta forma que o antigo deputado do PSD Duarte Pacheco classifica o debate sobre o Estado da Nação. Já Mariana Vieira da Silva, que esteve na primeira linha da bancada socialista, a manhã desta quarta-feira no Parlamento não augura bom ambiente para a ronda de conversação sobre o Orçamento do Estado, agendada para a próxima sexta-feira.
"Não foi um bom debate para as conversas que precisam de ser tidas. Esperemos que a tarde de hoje [quarta-feira] permita arrefecer os ânimos", apela a deputada do PS para quem o seu partido foi claro nos temas que os preocupam e na margem para negociar, sem obstáculos impossíveis de ultrapassar.
"Se [as questões] fossem linhas vermelhas, a frase teria sido: 'Se a proposta do IRC estiver em cima da mesa, votamos contra o Orçamento', como disse por exemplo o Bloco de Esquerda. Não foi isso que fizemos. Explicámos as nossas dúvidas e perguntámos se o Governo estava disponível para rever e reapreciar algumas características da sua proposta", afirma no programa "Casa Comum" da Renascença.
A antiga ministra insiste que é ao Parlamento que cabe aprovar a matéria fiscal e não existe maioria que permita aprovar as propostas do Governo neste domínio. "Quem quer obter uma maioria — e eu julgava que o Governo queria, mas hoje fiquei com menos certeza — precisa de trabalhar para ela", avisa Mariana Vieira da Silva na Renascença.
Debate para as claques
Já Duarte Pacheco desdramatiza a crispação que marcou a manhã de debate do Estado da Nação. "Os parlamentares sabem que temos muita gente a ver, incluindo muitos dos ‘nossos’. Os comentadores e os ‘tifosi’ [apoiantes mais ferverosos] querem saber quem é que ganhou, quase como se fosse um jogo de futebol", afirma o antigo deputado do PSD que fala mesmo em "teatro" que, por vezes, força os agentes políticos a serem mais contundentes nos comentários e nas críticas em plenário.
Sobre a reforma do IRC, Duarte Pacheco assinala que esta era uma das promessas fundamentais da AD que quer agora concretizar no Governo.
"O Partido Socialista tem reservas, há-de as expor e, porventura, — esperemos — vai encontrar-se uma solução que permita ao Governo cumprir a sua promessa, mas com salvaguarda das questões importantes para o PS", conclui Duarte Pacheco.
Emergência e impopularidade na Saúde
Mariana Vieira da Silva fez a pergunta no debate sobre o Estado da Nação, mas não obteve esclarecimentos de Luís Montenegro sobre se vai aprovar a resolução de Conselho de Ministros que permite abrir novo concurso para os helicópteros de emergência médica.
Na Renascença, a deputada socialista lembra que o INEM pediu ao Governo uma nova resolução do Conselho de Ministros para fazer um concurso para os helicópteros de emergência médica com um valor mais elevado.
“A ministra da Saúde diz que não faz um novo concurso porque se abre com o mesmo valor do anterior, naturalmente ficará deserto, como qualquer pessoa que tenha feito contratação pública perceberá”, continua a deputada socialista, para lembrar depois que o Governo aponta para uma solução que passará pela Força Aérea.
“Todas as pessoas que sabem deste assunto dizem que a Força Aérea não tem capacidade operacional. Muitas vezes, esses helicópteros nem podem aterrar nos nossos hospitais e por isso é urgente fazer perguntas, porque, nestes temas, se não se resolver agora, daqui por pouco tempo não há concurso, não há resposta da Força Aérea nem solução para a emergência médica”, alerta Mariana Vieira da Silva.
A saúde é uma das maiores preocupações dos portugueses de acordo com os inquéritos de opinião divulgados nos últimos dias. Duarte Pacheco espera que o Governo tenha de apresentar ‘resultados concretos’ neste setor, mas admite que o Verão pode não ser a melhor época para corrigir a rota.
“A ministra da Saúde porventura vai continuar com quotas de impopularidade durante o Verão. Mas todos desejamos - e era bom para os portugueses - que a partir de setembro houvesse resultados concretos”, apela o antigo deputado social-democrata.
Consenso encaminhado na Justiça
Outra área que surge no topo das preocupações dos portugueses é a Justiça. Um estudo publicado esta semana pelo ISCTE indica que 74% dos inquiridos consideram que a justiça funciona ‘mal’ ou ‘muito mal’.
O social-democrata Duarte Pacheco aguarda que PS e PSD se entendam sobre a Justiça a partir de outubro “nomeadamente depois de já termos uma nova ou novo Procurador-Geral da República”.
Um entendimento entre PS e PSD sobre as reformas necessárias no setor “é fundamental, independentemente do caso do Ministério Público e da Procuradoria”.
No programa Casa Comum, a dirigente socialista Mariana Vieira da Silva diz ver abertura do Governo para possíveis consensos a médio prazo com o PS neste domínio.
“Tenho sentido, de parte a parte, quer do PSD quer do Partido Socialista, uma tentativa de não extremar posições, de modo a poder permitir [um consenso] num calendário que pode ainda não estar fixado”, afirma a antiga ministra da Presidência, que sinaliza mesmo “uma abertura que não vejo noutras áreas” nas intervenções da ministra da Justiça.
Mariana Vieira da Silva deteta uma tentativa de não extremar posições em áreas onde é preciso um acordo mais alargado. “É mesmo esse o caminho, porque, uma vez extremadas as posições, depois não há nada que se consiga fazer.”
[notícia atualizada]