Pedro Nuno Santos considera que Luís Montenegro vai "provavelmente" liderar "um Governo de vitimização, da lamentação, do queixume". Em reação ao discurso de tomada de posse do novo primeiro-ministro português, o secretário-geral do PS apontou, na tarde desta quarta-feira, que será difícil aprovar um Orçamento do Estado (OE) apresentado pelo PSD.
Numa declaração na sede socialista, no Largo do Rato, em Lisboa, o líder do PS descreveu o discurso de Luís Montenegro como "sem ambição, sem visão" e "sem um desígnio para Portugal".
"Em vez de termos assistido a um Governo de ação, que quer resolver problemas em Portugal, assistimos a um governo da vitimização, e é provavelmente aquilo a que nós vamos assistir nos próximos meses, a um Governo de vitimização, da lamentação, do queixume, de não deixarem trabalhar, de não deixarem fazer aquilo que pretendem fazer", apontou Pedro Nuno Santos.
Rebatendo a "chantagem" de que acusou o líder do PSD, o secretário-geral do PS sublinhou que a diferença entre o partido e a coligação Aliança Democrática nas eleições legislativas "foi de cerca de 50 mil votos, menos dois deputados".
"A AD não se pode colocar na posição em que já se tinha colocado na Assembleia da República, aquando da eleição do presidente da Assembleia da República, fixados à espera que o PS venha resolver ou dar a maioria que o povo português resolveu não dar à AD", frisou.
Pedro Nuno Santos pediu "respeito" do Governo de 16 ministros do PSD e um do CDS "para com todos os partidos, desde logo para com o PS". O argumento é que o PS não está "obrigado a aprovar, a sustentar e a viabilizar um Governo que quer implementar um programa com o qual o PS discorda". Já em resposta às perguntas do jornalistas, disse que "não fomos nós que quisemos governar nestas condições".
"Se o não é não de Luís Montenegro é para levar a sério, aquilo que eu disse na noite eleitoral também é para levar a sério: o PS será oposição", avisou Pedro Nuno, descrevendo essa oposição como "responsável". "Votaremos a favor daquilo que concordamos, votaremos contra aquilo que não concordamos, e também apresentaremos as nossas iniciativas", explicou.
“Teoria dos cofres cheios não nasceu com o PS”
Com os olhos postos num possível orçamento retificativo – para o qual mostrou de novo abertura - e no OE 2025, Pedro Nuno Santos questionou o “discurso típico dos governos de direita em Portugal, que não há dinheiro” que, disse, Luís Montenegro começou no discurso de tomada de posse.
“Não é o excedente orçamental que coloca pressão sobre a governação, o que coloca pressão sobre esta governação é o programa económico da AD”, alegou o líder socialista, para quem “a teoria dos cofres cheios não nasceu com o PS, nem resulta do excedente”.
“A teoria dos cofres cheios resultou de uma campanha eleitoral em que a AD prometeu tudo a todos. Estamos a falar de milhares de milhões de euros de perda de receita fiscal e de aumento da despesa”, declarou o secretário-geral do PS.
Pedro Nuno Santos afirmou que PS alertou, durante a campanha eleitoral, “para o irrealismo do cenário macroeconómico”, e declarou que “assistimos ao início do discurso e da preparação do terreno político para a não concretização daquilo que foi prometido sobre a valorização das carreiras e das grelhas salariais”.
Aprovar OE é "praticamente impossível"
Nas respostas aos jornalistas, o líder do Partido Socialista avisou que é "praticamente impossível" aprovar um Orçamento do Estado para 2025 que o governo de Luís Montenegro venha a apresentar, apesar de conceder que é preciso "esperar pelo OE, obviamente".
"Digo é que é praticamente impossível porque temos visões muito diferentes. As propostas que a AD tem para a saúde são, na nossa opinião, negativas. Serão muito duras para o Serviço Nacional de Saúde a prazo. Nós tivemos oportunidade de explicar na campanha, e teremos oportunidade de explicar porque é que as medidas quer introduzir em matéria de SNS são erradas e porque é que não podem ter o nosso acompanhamento", explicou.
Antes, ainda durante a declaração inicial, o secretário-geral do PS já tinha apontado que "há mais semelhanças entre aquela que é a resposta da AD e aquilo que está previsto no programa do Chega do que com aquilo que está previsto no programa do PS".
Pedro Nuno Santos não explicou o motivo para a ausência na cerimónia de tomada de posse do XXIV Governo Constitucional, declarando apenas não foi possível estar presente. "Fizemo-nos representar por Alexandra Leitão. Não dá para tirar mais nenhuma conclusão", rematou, recusando alongar-se na resposta a esta questão por, disse, procurar "responder a questões que sejam verdadeiramente relevantes".
[notícia atualizada às 17h35]