O reforço de médicos de outros hospitais nas urgências de obstetrícia da região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) é uma medida temporária que não resolve o problema de fundo, alerta Diogo Ayres de Campos.
Em declarações à Renascença, o coordenador da Comissão de Acompanhamento de Resposta em Urgência de Ginecologia, Obstetrícia e Bloco de Partos lembra que “os médicos do SNS sempre se ajudaram, não é a primeira vez que acontece”.
O diretor de Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Santa Maria, em Lisboa, espera que até ao final de maio, quando termina o atual modelo de rotatividade das urgências na Grande Lisboa, “seja possível implementar algumas medidas de fundo, que têm vindo a ser trabalhadas, para que no Verão não aconteça a mesma coisa que aconteceu ano passado”, altura em que vários serviços foram obrigados a fechar, de forma desordenada, por falta de profissionais de saúde.
E uma das questões de fundo, sublinha o médico, “é o facto do SNS ser pouco atrativo e ter dificuldade em competir com aquilo que a medicina privada oferece”.
Em paralelo, diz Diogo Ayres de Campos à Renascença, é preciso implementar a norma da Direção-Geral da Saúde (DGS), recentemente aprovada, que define quais são as situações que não necessitam de uma avaliação na urgência.
O médico insiste que “tem de haver outro tipo de resposta para os casos que não são verdadeiras urgências”, porque “se temos o mesmo número de pessoas nas urgências, mesmo número de partos e temos menos médicos, alguma coisa não corre bem”.
Nesta altura, explica o médico, o trabalho passa por operacionalizar o cumprimento da norma: “quais são as situações que podem ser referenciadas para outros cuidados que não a urgência e a forma como isso se operacionaliza. Podem ser feitas avaliações nos centros de saúde, nas consultas abertas nos hospitais ou nas consultas com o médico de família, mas é preciso operacionalizar todo esse esse esquema de referenciação das doentes que recorrem à urgência”.
Questionado sobre a forma como isto se faz, Diogo Ayres de Campos diz que pode ser seguido o modelo que vai ser aplicado nas urgências gerais de adultos.
“Quer o ministro da Saúde, quer o diretor executivo do SNS estão a trabalhar em formas mais céleres de referenciação das urgências para os cuidados de saúde primários. E, se houver uma forma mais célere e mais garantida, será com certeza essa que nós vamos também implementar na obstetrícia e ginecologia”, sublinha.
Nove maternidades da região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) vão continuar a funcionar com condicionalismos até ao final de maio, anunciou esta quarta-feira a Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
A Direção Executiva adiantou que médicos de outros hospitais e de outras zonas do país vão prestar serviço nas urgências obstétricas e nos blocos de partos mais carenciados da Região de Lisboa e Vale do Tejo.
Estas unidades vão contar com especialistas e internos de ginecologia-obstetrícia dos hospitais de São João, Santo António, Famalicão, Guimarães e Coimbra para completarem as escalas.