O presidente da Associação Comercial do Porto admite que André Ventura está a tentar passar uma ideia de maior moderação. Algo que, para Nuno Botelho, ficou patente na convenção do partido em Viana do Castelo.
No comentário semanal no programa ‘Manhã, Manhã’, da Renascença, o empresário e jurista começa por lamentar “o excessivo tempo de antena dado pela comunicação social” à convenção do Chega, que deu palco “ao avô fascista e outros episódios cómicos”.
No entanto, na análise de Nuno Botelho, o que fica de substancial é o eclipsar de temas como a castração química ou a prisão perpétua do discurso do líder do Chega.
"Temos, de facto, um André Ventura muito mais moderado, que já não se limita a apresentar propostas demagógicas para os pensionistas, a baixar a carga fiscal, ou a falar na questão da igualdade de género”, assinala Nuno Botelho, que acrescenta que o líder da extrema-direita portuguesa é, “ao contrário dos outros líderes, o único que tem um discurso abertamente contra a corrupção em Portugal”.
Desse ponto de vista, o presidente da Associação Comercial do Porto vê em André Ventura um comportamento “todo-o-terreno (...) cada vez mais chamativo para um eleitorado cada vez mais descontente", a tentativa “piscar o olho à esquerda e à direita”.
Em síntese, “isso torna muito muito sexy, a mensagem do Chega” e dá corpo à promessa deixada por Ventura de que 10 de março será uma disputa a três.
Noutro plano, analisando as escolhas de PSD, CDS e PPM – que, juntos, reeditam em 2024 a AD de 1979 liderada por Francisco Sá Carneiro – Nuno Botelho considera que a renovação radical no PSD, que exclui mais de dois terços dos atuais parlamentares, traduz, globalmente, uma “melhoria significativa”.
Exemplo disso são os “independentes como Miguel Guimarães, o Oscar Afonso, Alexandre Homem Cristo” e outros que “estavam mais ou menos afastados da ribalta política, como Aguiar-Branco, Teresa Morais, Ana Paula Martins, Leitão Amaro e, no CDS, Paulo Núncio”.
“São nomes que dão credibilidade, que dão segurança. E, portanto, são boas notícias para a democracia portuguesa”.
Global Media "é um problema de gestão", não jornalístico
O país vai a votos duas vezes, no ano em que celebra os 50 anos da reposição da democracia e “numa altura em que o escrutínio do jornalismo é ainda mais necessário”, embora num contexto de crise no setor, com particular preocupação com a situação no grupo Global Media, que detém títulos como o Jornal de Notícias, Diário de Notícias, O Jogo, Dinheiro Vivo, Açoriano Oriental e a rádio TSF.
Nuno Botelho diz não ter dúvidas de que esta crise revela que “o grupo Global Media tem um problema de gestão, não tem problema jornalístico, não tem problema editorial”.
Exceção ao "Diário de Notícias, que talvez seja o menos viável, na minha opinião, as outras marcas – TSF, Jornal de Notícias e O Jogo – são absolutamente viáveis”.
Aí reside o desafio para os investidores: "têm de olhar para isto de um ponto de vista empresarial mas, ao mesmo tempo, com a liberdade que os órgãos de comunicação social têm de ter”.
Para o presidente da Associaçao Comercial do Porto, "a suspensão dos contratos [anunciada pelas redações do JN e do Jogo] são situações desesperadas” de trabalhadores que “têm necessidade de pagar contas e, com este instrumento, têm a possibilidade de poderem recorrer a subsídios de emprego”.
Norte da semana
Interessados na Global Media. “Ficamos a saber esta semana que há seis proposta. É um dado positivo, é o despertar da sociedade civil e dos investidores. Eles, sim, compreendem que estes são bons ativos. E quero realçar a importância da Câmara Municipal do Porto, esta semana, com o voto favorável à eventual entrada eventual das autarquias no capital de empresas detentoras de jornais. Isso é importante”.
Desnorte da semana
Carlos Moedas e o TGV. "Fez saber, esta semana, que discorda da prioridade que está a ser dada ao traçado da linha de Alta Velocidade Porto-Lisboa-Vigo. Entende Carlos Moedas que era preferível apostar na ligação a Madrid. Isso seria ceder aos interesses de Espanha. Não consigo perceber, acho que reforçava o papel de Madrid como grande metrópole ibérica. Por outro lado, comprometeria os projetos já executados ou em curso e o corredor atlântico, onde vivem dois terços da população portuguesa. Para quem diz ter aspirações nacionais, parece-me uma posição muito centralista e retrógrada do Presidente da Câmara de Lisboa”.