Da resposta da TAP, que ainda esta terça-feira será enviada ao Governo, poderá depender o destino de Alexandra Reis, a secretária de Estado do Tesouro que tem estado no centro da polémica na sequência do acordo de rescisão com a companhia aérea que levou ao pagamento de 500 mil euros de indemnização.
No Governo já se admite que "a pressão é brutal" e que Alexandra Reis poderá mesmo não ter condições para continuar. De resto, esta terça-feira o primeiro-ministro foi questionado pela agência Lusa sobre se mantém a confiança na secretária de Estado e António Costa respondeu que "quanto ao mais", aguarda "o esclarecimento cabal dos factos e da sua qualificação jurídica".
À Renascença é dito por um governante que "isto é avassalador, a pressão é brutal", e que a saída de Alexandra Reis não está descartada, deixando ainda um lamento sobre a ação do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que "está sempre a falar" do caso desde domingo.
Também no PS a eventual saída é já vista com naturalidade. Um dirigente socialista diz mesmo à Renascença que a demissão "é sempre possível" e que "se aparecer outra interpretação" jurídica, a secretária de Estado do Tesouro "terá de devolver" os 500 mil euros.
O mesmo dirigente do PS mostra-se preocupado com o comunicado da TAP enviado à CMVM, a 4 de fevereiro, e que dava conta da apresentação de renúncia ao cargo na Administração de Alexandra Reis. Este socialista avisa que "a administração é que pode ficar em causa se se provar que a TAP deu informação errada ao mercado".
Apesar de a TAP ter chamado renúncia à saída de Alexandra Reis, a então administradora saiu porque a empresa quis que saísse, dada a incompatibilidade com a CEO, Christine Ourmières-Widener. "Têm feitios iguais, ambas algo autoritárias", diz à Renascença fonte próxima deste processo.
Ou seja, Alexandra Reis saiu empurrada, "sobre isso não há dúvidas nenhumas", mas com o argumento que "foi uma renúncia negociada. Ela aceitou renunciar depois de negociarem um acordo", explica fonte do executivo.
É neste ponto que o próprio Presidente da República tem insistido. Não só os fundamentos do acordo que levaram ao pagamento de 500 mil euros de indemnização a Alexandra Reis, mas os contornos políticos da saída. E já admitiu que podem surgir "consequências".
Em Belém é entendido que politicamente não é a mesma coisa se a então vogal da TAP saiu empurrada ou por vontade própria e que sabendo isto "depois logo se vê". Ou seja, se tem ou não condições para continuar no cargo.
Governo sabia da rescisão, mas não antecipou o problema
Quando Alexandra Reis foi convidada para a secretaria de Estado do Tesouro, era sabido por elementos do Governo de todo o antecedente de rescisão com a TAP. "Para ela e para quem a convidou isso não era um problema", admite um governante.
Aliás, é notado que, em junho, Alexandra Reis foi chamada a liderar a Navegação Aérea de Portugal (NAV), a rescisão com a TAP já tinha acontecido e aí "não despertou o interesse de ninguém" e só passou a ter quando foi para o Governo.
Quem no Governo sabia deste percurso admite que não antecipou o problema. "Não conseguimos antecipar tudo e ninguém consegue", é dito à Renascença por um elemento do executivo que acrescenta: "não antecipámos, nem ela", referindo-se a Alexandra Reis.
É ainda admitido que o valor da rescisão de 500 mil euros pode ser considerado "pornográfico", mas que, "segundo a TAP, a lei foi cumprida". E no executivo é ainda dada a explicação: "Os salários são altos, por isso a indemnização é alta". E é colocada a questão: "se é muito, qual é o limiar que as pessoas acham aceitável?".
O problema mais fundo apontado por um governante é que a TAP "não pode ser gerida por qualquer pessoa" e que é preciso ir ao "mercado buscar pessoas com experiência". E Alexandra Reis é apontada como tendo perfil. Tal como foi considerado que tinha perfil para ser chamada para o Governo com este lastro. "As pessoas agiram de boa-fé", garante o mesmo governante.