Reação "hesitante", "titubeante", "fofinha". Foram alguns dos adjetivos usados por deputados do PSD na reunião do grupo parlamentar para classificar a posição da direção de Luís Montenegro sobre as buscas à casa de Rui Rio e de diversas sedes do partido.
A reunião decorreu à porta fechada e foi convocada com caráter de urgência por diversos ex-dirigentes do consulado de Rui Rio, entre eles três ex-líderes parlamentares, tal como a Renascença avançou.
Paulo Mota Pinto foi um deles e, segundo relatos feitos à renascença por elementos presentes na reunião, fez questão de dizer que queria manifestar "solidariedade pessoal" quer a Hugo Carneiro, atual vice-presidente da bancada e antigo secretário-geral adjunto, quer ao ex-líder do partido Rui Rio.
O ex-líder parlamentar referiu ainda que no processo que envolve Rio "em causa não está só o grupo parlamentar, mas o próprio sistema", concluindo que a "situação é grave".
Mota Pinto, que não tem feito intervenções nas reuniões internas do partido, referiu ainda que o PSD "deve apoiar" um pedido de explicações por parte do Ministério Público (MP) sobre a base e o modo em que decorreram as buscas à casa de Rio e às diversas sedes do partido.
O Presidente da Assembleia da República já veio referir que irá levar o assunto à conferência de líderes desta quarta-feira, mas "se não levar", Paulo Mota Pinto defende que o PSD deve tomar a dianteira.
O ex-dirigente social-democrata refere ainda que se o ministério Público não der essas explicações "espontaneamente", então o PSD deve avançar com um pedido de audição à Procuradora Geral da República, Lucília Gago.
"Que saia daqui [da reunião do grupo parlamentar] uma posição de união e sejam pedidas explicações ao MP e caso não sejam dadas que a PGR seja chamada ao Parlamento", concluiu Mota Pinto.
Nesta eventual explicação do MP, Mota Pinto não quer que Lucília Gago fale da "operação concreta, mas que se explique" a que razões " obedeceu" e "como é que a TVI chegou antes das buscas".
Numa reunião que decorreu num ambiente muito tenso, Paulo Mota Pinto referiu ainda que "concretamente o PSD tem a legitimidade e o dever de levantar a questão", garantindo ainda que não considera que "haja uma conspiração do MP, mas um problema de cultura".
Referindo como sendo "fácil disseminar uma cultura justicialista", Mota Pinto disse ainda que "essa cultura é que leva a isto", apontando ainda à direção do partido que "esta matéria não deve ser desvalorizada".
A Luís Montenegro, o ex-líder parlamentar avisou que se o partido "desvalorizar" o caso que se "deixa para o PS a exploração disto" e que isso o PSD "não pode permitir", aconselhando mesmo que os social-democratas não podem ter "receio em falar de justiça".
Operação que envolve Rio "devia ter sido dramatizada"
As intervenções iniciais estiveram a cargo de elementos que fizeram parte da cúpula do PSD no consulado de Rui Rio e uma das primeiras coube a Adão Silva, ex-líder parlamentar e atual vice-presidente do Parlamento, defendeu que a "situação está de tal ordem que não pode ser desvalorizada e devia ter sido dramatizada e empolgada".
Adão Silva considera mesmo que Montenegro "devia ter pedido uma audiência ao Presidente da República", concluindo que está em curso uma "justiça tablóide" e que Rui Rio "foi objeto de linchamento, numa espécie de auto de fé moderno", exigindo "solidariedade" do partido para com o ex-líder do partido.
Mais duro foi António Maló de Abreu, um dos homens de confiança de Rio, que concluiu durante a reunião que o partido não viveu "uma situação tão grave como a deste momento" e que, sendo certo que "à justiça o que é da justiça", que "neste caso concreto passou a ser também a justiça o que é da política".
Maló de Abreu referiu mesmo que "esta linha não pode ser ultrapassada" pela Procuradora Geral da República", acusando Lucília Gago de não ter "salvaguardado o Estado de direito".
O deputado e antigo dirigente concluiu que já viu "demasiados casos em direto que são devidos à justiça em Portugal", acrescentando que, "como muitos portugueses", não acredita na justiça.
Tal como Mota Pinto, também Maló de Abreu aconselha o PSD a "tomar uma iniciativa concreta" e já hoje anunciar que quer "ouvir a PGR no Parlamento" e que "no futuro" serão tomadas "outras iniciativas sobre a justiça e dizer que são prioridade" para o partido.
Na conclusão o deputado referiu que não quer "uma sociedade justicialista em que o poder judicial manda no poder político", atirando com um "saibamos ser responsáveis" frase com a qual terminou a intervenção.
Na mesma linha, Isabel Meirelles, ex-vice-presidente do PSD no consulado de Rui Rio, lamentou a reação "fofinha" do partido face às buscas da polícia Judiciária à casa de Rui Rio e o "comunicado lacónico" da direção partido "quase a sacudir a água do capote".
Para a ex-dirigente "não há Líderes bons ou maus, todos os presidentes são património do PSD", referindo mesmo que "se outro presidente fosse alvo" de buscas", o atual "nomeadamente", a deputada garante que "estaria inequivocamente ao seu lado".
Isabel Meirelles conclui ainda que, entretanto, "deixou-se de falar no apodrecimento do Governo", criticando "a figura a que a PGR se prestou às ordens deste Governo". A deputada terminou com um "Não podemos ter medo", questionando mesmo: " Somos filhos de um Deus menor?"
A todas as intervenções críticas o líder parlamentar foi justificando a posição da direção do PSD. Joaquim Miranda Sarmento referiu que a carta enviada à PGR "teve esse objetivo" de defender o partido. "O partido defendeu-se e defendeu Rui Rio e Hugo Carneiro", concluiu.
Palavras que Joaquim Miranda Sarmento repetiu aos jornalistas no final da reunião, afastando a ideia que a direção nacional "desvalorizou" a operação do MP e que o partido "reagiu no tempo certo através de cinco dirigentes e em todos ficou a crítica ao que aconteceu e a defesa de Rui Rio e Hugo Carneiro.
A polémica em torno de Pinto Moreira também foi abordada na reunião com os deputados, com alguns deles a defenderem que o caso que envolve o antigo dirigente, agora acusado de corrupção, deve ser levado à avaliação do Conselho de Jurisdição do PSD, uma espécie de tribunal do partido.
Miranda Sarmento admite que possa acontecer, mas remete para uma decisão da direção nacional e, eventualmente, para ponderação da comissão permanente, o órgão de decisão restrito de Montenegro, que se realiza esta quarta-feira de manhã.