Christopher Dawson passou 40 anos a garantir que a mulher o deixou com as duas filhas pequenas. Foi sempre suspeito da sua morte, mas sem corpo acabou por nunca ser acusado de qualquer crime.
Assim foi até 2018, quando novas informações trazidas à luz por um jornalista de investigação num podcast de crime real abriram caminho ao desfecho que se confirmou esta semana: na terça-feira, o Supremo Tribunal de Nova Gales do Sul, em Sidney, condenou o professor de educação física reformado, agora com 74 anos, pelo homicídio de Lynette.
"Nenhuma das circunstâncias serve para provar, por si só, que o sr. Dawson é culpado", declarou o juiz Ian Harrison, que esteve a analisar o caso desde o final do julgamento a 11 de julho. "Contudo, quando se presta atenção ao todo, não me restam dúvidas. A única coisa racional a inferir é que Lynette Dawson morreu em ou por volta do dia 8 de janeiro de 1982, na sequência de um ato consciente e voluntário de Christopher Dawson."
Ao longo do julgamento, a acusação conseguiu provar que, à data do crime, Dawson estava obcecado pela jovem amante, JC, sua ex-aluna e babysitter das filhas, tendo matado Lynette para poder dar continuidade a essa relação.
Na sentença, o juiz explicou que a sua análise das provas foi "fortalecida" pelas mentiras que Dawson contou depois de ter matado a mulher, mentiras essas que Harrison agrupou em quatro subcategorias: as que disse a JC e a outras pessoas sobre a sua relação com Lynette; as alegações de que queria continuar casado com Lynette; as mentiras que disse quando sugeriu que ela continuava viva; e também as sugestões de que Lynette decidira abandoná-lo e às filhas.
Todas estas mentiras, sentenciou o juiz, serviram para "desviar toda e qualquer atenção" do envolvimento de Christopher na morte da mulher.
Antes da leitura da sentença, o juiz Harrison já tinha rejeitado a possibilidade de Lynette Dawson ter voluntariamente abandonado o marido e as filhas, então com quatro e dois anos de idade, desaparecendo sem deixar rasto. Também não aceitou alegações de que Lynette Dawson foi vista com vida depois de janeiro de 1982 ou que tentou contactar o marido.
"Todas as provas circunstanciais convenceram-me que Lynette Dawson está morta... e que não abandonou a sua casa voluntariamente", repetiu o juiz na terça-feira.
Depois da leitura do veredito, o irmão de Lynette, Greg Simms, pediu ao cunhado que revele onde enterrou o corpo da mulher.
"Este veredito é pela Lyn. Hoje, o nome dela foi limpo – ela amava a sua família e nunca os teria abandonado por sua livre e espontânea vontade. Em vez disso, a sua confiança foi traída pelo homem que amava."
O caso voltou a ganhar atenção graças ao podcast Teacher's Pet, que em 2018 se debruçou sobre o desaparecimento de Lynette, levando a polícia de Nova Gales do Sul a reabrir a sua investigação. O podcast da autoria do jornalista de investigação Hedley Thomas já foi ouvido dezenas de milhões de vezes até hoje.
Nele, Hedley disse ter desenterrado novas provas que indicavam que Dawson poderia ter matado a mulher para manter o caso extraconjugal com uma ex-aluna. Também se focou no que disse serem "erros sérios" cometidos pela polícia durante a investigação ao caso e no falhanço da procuradoria distrital em acusar formalmente o professor de educação física pelo homicídio de Lynette, apesar de já na altura existirem indícios que apontavam nessa direção.