Por decisão do Papa Francisco, o X Encontro Mundial das Famílias decorreu este ano de forma diferente: a Roma foram delegações de 120 países, mas cada diocese do mundo foi convidada a mobilizar-se, por estes dias (22 a 26 de junho), com iniciativas próprias.
No Patriarcado de Lisboa o ponto alto é domingo, com a Festa das Famílias, e já com a Jornada Mundial da Juventude de 2023 no horizonte.
A iniciativa vai decorrer no Parque de Vialonga, com jogos, workshops e a eucaristia presidida pelo cardeal patriarca, D. Manuel Clemente. Na Festa serão homenageados os casais que celebram 10, 25 e 50 anos de matrimónio. Este ano houve 400 inscritos.
O padre Duarte da Cunha, assistente da Pastoral Familiar do Patriarcado e responsável pela área do acolhimento e voluntariado na estrutura da JMJ, fala à Renascença da importância das famílias se reunirem e darem exemplo de fé e de vida.
Vialonga acolhe a Festa da Família do Patriarcado de Lisboa. É importante celebrar assim a família?
É fundamental. É uma convicção que já vem desde 1994, quando o Papa João Paulo II convidou pela primeira vez as famílias de todo o mundo a encontrarem-se com ele em Roma.
O Papa Francisco chamou-lhe ‘o Papa da Família’, quando o canonizou, em 2014, e não é por acaso: tendo vivido num tempo de grandes desafios, São João Paulo II percebeu rapidamente que a família era um ponto nevrálgico em termos de vida humana e evangelização.
Sobre a Festa da Família, que por cá começou a ser celebrada em 2014, penso que desde o início houve esta ideia de que a família não pode ser só um tema que se trata porque há problemas. É muito bonito festejar a família.
A nossa cultura sublinha demasiado o indivíduo e deixou de cuidar da família, mas por muitas famílias que haja em dificuldades, a família continua a ser uma grande benção e alegria, e vemos como quando há famílias juntas se faz festa.
O encontro deste ano em Roma tem como tema 'O amor na família, vocação e caminho da Santidade'. Em Lisboa, por razões óbvias, adaptámos um bocadinho este tema...
Tem já a JMJ no horizonte?
Exatamente, chamámos-lhe 'A família a caminho da JMJ'.
É importante que as famílias tenham esse foco no que vai acontecer no próximo ano?
Exatamente. A mobilização das famílias para a Jornada Mundial da Juventude é uma coisa que já começou, e esperemos que continue cada vez mais. A começar pelas famílias católicas, mas é para chegar a todas as famílias, porque as famílias vão ser também os lugares onde muitos dos jovens vão ser acolhidos e se vão alojar.
Mas, também são o lugar de onde os jovens partem, portanto as famílias do país inteiro são chamadas a levar os jovens a participar na JMJ e a prepararem-se para que as suas férias, no próximo ano, tenham a primeira semana de agosto já reservada para as Jornadas.
Depois, aqui em Lisboa, algumas famílias vão ser chamadas a ajudar os voluntários. Os que precisarem de ser alojados vão estar em comunidades de 100/150 pessoas, mas queríamos ter algumas famílias e casais a acolher estes voluntários, para que quando chegarem ao fim do dia de trabalho - que vai se intenso - possam encontrar um rosto amigo de um pai e de uma mãe que os ajudam.
Os voluntários são muito necessários, e faço desde já um apelo a todos aqueles que possam e queiram ser voluntários para as Jornadas, a partir de outubro começam a abrir inscrições. Era importantíssimo haver muitos inscritos, vai ser uma experiência excecional e fantástica. Mas, estes voluntários todos que vão trabalhar - e isso vai ser uma grande alegria para eles - também precisam de ser acarinhados, porque vai ser um trabalho grande, e as famílias também vão ser envolvidas nisso.
Em termos pastorais é importante que haja cada vez mais ligação entre o que é a pastoral da família e a pastoral juvenil? As coisas estão interligadas?
Estão completamente interligadas. A família e a juventude são dois âmbitos da pastoral. Nos anos 60 e 70 houve muita especialização - e se calhar era necessário, na altura, haver quem se dedicasse só à pastoral da família, à dos jovens, ou à dos doentes -, mas há coisas que são comuns a toda a gente, e o setor da família é um ramo que, de certo modo, é um abraço a todos os temas.
O cardeal patriarca está sempre a dizer que a família é a matriz da pastoral, que devemos fazer toda a pastoral como uma família. Porquê? Porque na família há jovens, e porque os jovens querem fazer família.
As famílias são os lugares onde os jovens estão, não é possível pensar numa pastoral da família só como pastoral dos casais, é das relações familiares: pais e filhos, irmãos, mulher e marido, etc. Mas, também porque os jovens, à medida que vão crescendo, vão procurando saber o que é que Deus quer para eles e o que querem para a vida, e a maioria quer-se casar, constituir família está no horizonte.
Se a família não se apresenta como uma coisa boa e alegre, a Igreja não pode só dizer que ‘Deus manda’. Não é 'Deus manda', é 'Deus atrai' - começa por atrair para um projeto bonito, que é de complementaridade, homem e mulher, de fecundidade, ter filhos, de fidelidade.
Portanto, uma pastoral juvenil que não tenha como referência uma pastoral familiar, acaba por ser só uma pastoral de entretenimento dos jovens. E depois?
Vivemos num contexto desfavorável à família, com a crise económica e dificuldades crescentes, até no setor da saúde, por exemplo, com a crise nas urgências de obstetrícia, ou com a prioridade política dada à eutanásia. As famílias cristãs são hoje ainda mais chamadas a dar testemunho de fé e de vida, e a darem exemplo de unidade e solidariedade?
A família cristã tem, por um lado, a graça de Deus que os ajuda, mas também o chamamento de Deus que os envia. Há um protagonismo a que a família cristã é chamada - e estes encontros mundiais da família servem para dizer isso: que as famílias cristãs têm de ser, por um lado testemunho, dizer que vale a pena, e por outro lado ajuda, caridade, presença.
Os serviços sociais não conseguem resolver todos os problemas? As famílias cristãs arregaçam as mangas e acolhem, fazem. Muitas famílias, mesmo não cristãs, fazem isso, mas as que são cristãs têm em acréscimo a graça de Deus que os incentiva e fortalece para poderem viver estas coisas bem feitas.
A cultura de hoje é muito individualista, é uma ‘cultura de morte’, como lhe chamou São João Paulo II. Temos a eutanásia, o aborto… Ora, a família cristã é muito pela vida, desde a conceção até à morte natural. E não é pela vida ideologicamente, é pela vida ‘envolvidamente’, se posso usar esta expressão: acolhe a vida quando é concebida, e acompanha a vida até ao fim.
A vida em si é um bem e uma graça que queremos cuidar, e a grande qualidade de vida de uma pessoa que sofre não é a falta de sofrimento, é a companhia de quem está ao seu lado, e isso é possível. Bom, é possível se a cultura dominante achar que é possível, se a sociedade valorizar isso, se as famílias forem apoiadas.
O que é que a Igreja tem de fazer? Tem de remar contra a maré, não ter medo, saber que estamos num mundo que não é cristão na sua forma de pensar, mas que o coração dos homens não é menos hoje. Todos somos chamados a ser profetas e eloquentes através do testemunho de vida.
E ocasiões como esta são boas para isso?
Sim. Uma coisa que fazemos aqui em Lisboa, e noutras dioceses, é que valorizamos os jubileus familiares: fazer 10, 25 ou 50 anos de casados, estas datas redondas, são ocasiões de festa e de renovação do compromisso.
Porque uma coisa que o Cristianismo traz não é só a graça de Deus, no sentido da ajuda interior, é a comunidade que se interajuda. Estamos em conjunto - famílias, paróquias que são comunidades familiares, movimentos que reúnem famílias, vizinhanças e bairros que se entreajudam. A vida cristã é isto, é vida comunitária.
Este ano foram quase 400 os casais que se inscreveram. Como o ano passado não pudemos fazer a Festa, por causa da Covid, os casais inscreveram-se e receberam nas suas paróquias um diploma com uma bênção especial do Patriarca. Todos eles são convidados a vir até Vialonga, este domingo.
Este ano o Encontro Mundial das Famílias (EMF) está a decorrer em Roma e em todas as dioceses do mundo. Aqui em Lisboa foram várias as iniciativas previstas, mas o ponto alto é mesmo a Festa da Família?
Os EMF têm sempre três pilares: festa, oração e reflexão. Por decisão do Papa Francisco, este ano a iniciativa está a decorrer em Roma (22 a 26) e em simultâneo em todas as dioceses do mundo.
Aqui em Lisboa já houve momentos de oração, mas o ponto alto é mesmo a Festa das Famílias. Vai decorrer no Parque da Vialonga, e tem um programa giro, que pode ser consultado no site da Pastoral Familiar do Patriarcado.
Há um espaço para jogos, com insufláveis e brincadeiras, vai haver uma presença da JMJ, e vai ser possível comer lá. Termina tudo às 16h30, com a missa presidida pelo cardeal patriarca.
Depois da missa transmitiremos (em diferido) o Angelus do Papa de domingo, dirigido em especial para o Encontro das Famílias. Pelo caminho vai haver uma série de workshops, em que as pessoas podem participar. Não é preciso inscrição prévia, quem quiser pode aparecer.
Estava também previsto um congresso teológico-pastoral, mas foi adiado. Porquê?
Estava previsto para sábado, dia 25, seria semelhante ao que se passa em Roma, sobre a santidade e o amor, que é o tema deste ano do Encontro Mundial das Famílias.
Decidimos realizar o Congresso só em outubro, dia 5, que é feriado. As inscrições abrirão entretanto: quem já o tinha feito deve renovar a inscrição, ou cancelar, caso não possa participar em outubro.
Tem como tema “A vocação ao amor e à santidade dos jovens e das famílias”, e destina-se a casais, jovens e todas as pessoas que queiram aprofundar a reflexão sobre aquilo a que Deus nos chama como Famílias.
Queremos refletir sobre o amor, como é que entra no namoro, no trabalho, nas situações difíceis, nas crises, na vida do casal. Depois temos a parte da santidade, como é que a família gera santos, e como é que se pode ser santo hoje no contexto familiar.