O padre e poeta madeirense José Tolentino Mendonça assume este sábado a responsabilidade pelo Arquivo Secreto do Vaticano e pela mais antiga biblioteca do mundo, a Biblioteca Apostólica.
A nomeação foi feita em junho Papa, que por isso o ordenou arcebispo em julho. Ao nomear este padre português, Francisco quis aproximar a Igreja e a cultura.
Mas a nomeação apanhou Tolentino Mendonça de surpresa, como admitiu na altura, em entrevista à Renascença. Tinha aceitado há pouco tempo o cargo de diretor da Faculdade de Teologia e era vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa (UCP).
Mas, não podia deixar de estar disponível para o que o Papa lhe pedia agora, porque há um “sentido de missão” que sempre o guiou nas várias funções que já desempenhou ao serviço da Igreja.
“Eu tenho uma atitude que é a mesma nos lugares para onde tenho sido destacado e, na vida de um padre, isto é muito normal. Estamos uns anos num lugar e depois mudamos de comunidade, mudamos de serviço e a minha atitude é sempre de humildade muito grande em relação ao que a Igreja me pede”, explicou.
“Uma grande disponibilidade, mas também uma humildade no sentido de aprender: aprender com as pessoas que estão lá, porque as instituições nasceram muito antes de nós. É preciso conhecer bem para poder amar e para poder servir e é nessa atitude que estou”, destacou.
Na sua ordenação como arcebispo, Tolentino Mendonça assegurou que continuará a ser padre e escritor, mas irá também “preservar aquele repositório, que é um grande tesouro da igreja e da humanidade, e ao mesmo tempo pô-lo a dialogar com a contemporaneidade”, afirmou na altura.
“O lugar onde se sentiam os passos de Jesus na história da Humanidade”
Na entrevista que deu à Renascença, D. Tolentino Mendonça descreveu a Biblioteca e os Arquivos do Vaticano como “lugares da memória, da preservação de um conhecimento, lugares também de grande abertura ao mundo”.
“É um lugar que tem uma importância simbólica muito grande”, referiu, lembrando as palavras do Papa Paulo VI quando visitou a Biblioteca Apostólica.
“Disse que era ‘o lugar onde se sentiam os passos de Jesus na História da humanidade’. São esses passos de Jesus que vamos procurar ouvir naquele espaço que é, de facto, uma espécie de grande repositório e relicário da memória do cristianismo e da humanidade”, acrescentou aquele que este ano orientou o retiro de Quaresma do Papa e da Cúria.
O novo arcebispo português falou também do “duplo desafio” que o espera nas novas funções. “Os livros têm muitas vidas ao longo dos tempos e penso que o duplo desafio passa precisamente por aí: por um lado, é preciso garantir a integridade daquele tesouro, conservando-o da melhor maneira e fazendo tudo para que ele possa ser transmitido às gerações futuras, nas melhores condições. O outro desafio é fazer ressoar este tesouro no presente, na contemporaneidade, estabelecendo diálogos e pontes que possam, de certa forma, permitir que aquele tesouro continue a nutrir o coração dos cristãos e dos homens e das mulheres do nosso tempo”.
Padre, poeta e professor, D. Tolentino Mendonça era vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa e diretor da Faculdade de Teologia da UCP em Lisboa, quando foi nomeado, a 26 de junho, pelo Papa, que o elevou a arcebispo. A ordenação episcopal decorreu a 28 de julho, nos Jerónimos.
Novas funções e um novo prémio
No domingo, quando já tiver assumido as funções de arquivista e bibliotecário da Santa Sé, D. José Tolentino Mendonça vai ser agraciado pelo jornal “Avvenire”, da Igreja católica italiana, que está a celebrar o 50º aniversário.
Tolentino vai receber o prémio “Una vita per… passione!” (“Uma vida por… paixão!”). A cerimónia está marcada para o palácio de Aumale, em Terrasini, próximo de Palermo, na Sicília.
O jornal, para o qual Tolentino Mendonça escreveu uma crónica diária nos primeiros três meses de 2017 intitulada “O pequeno caminho das grandes perguntas” (mais tarde as crónicas foram publicadas em Portugal com o mesmo nome, pela editora Quetzal), decidiu atribuir-lhe a terceira edição daquele galardão por ser “uma das vozes mais autorizadas e conhecidas da cultura portuguesa, protagonista do debate cultural europeu, autor de poesia e ensaios que lhe valeram vários reconhecimentos e traduções em numerosas línguas”. A entrega do prémio encerra a festa “Avvenire” que está a decorrer em vários pontos da Sicília.