Os partidos de direita consideraram esta quarta-feira que as revelações sobre a TAP mostram o fracasso do Governo em gerir empresas públicas, com a esquerda a apelar ao executivo que “arrepie caminho” e abandone uma “lógica privatizadora”.
Num debate sobre atualidade requerido pela IL sobre o setor empresarial do Estado, o líder parlamentar dos liberais, Rodrigo Saraiva, abordou a polémica sobre a TAP para defender que a gestão da companhia aérea é uma “demonstração cabal de como o PS, quando mete a mão numa empresa pública, pega em tudo aquilo que mexe”.
“A TAP é só uma das 148 empresas do setor empresarial do Estado que deveriam ser viáveis mas não o são. (…) Como será nas outras 147 empresas em que o Governo mete a mão? Quando irá o Governo meter a mão na sua consciência e tirar a mão das empresas do Estado?”, questionou.
Na mesma linha, o deputado do PSD Paulo Rios de Oliveira salientou que, face às revelações que têm surgido na comissão de inquérito à companhia aérea, “todos trememos a pensar no que ainda não se sabe da TAP e das outras empresas públicas”.
“Sobra uma reflexão: e quem paga este regabofe de milhões atrás de milhões na TAP e nas outras? Adivinhem: os portugueses, sempre os portugueses. É possível fazer melhor, muito melhor, e para isso o PSD está pronto tão logo que seja chamado”, disse.
O líder do Chega, André Ventura, também considerou que a TAP “está a mostrar bem como são geridas as empresas públicas por parte do Governo socialista: mentiras atrás de mentiras”.
“A gestão da TAP levanta-nos suspeitas fundadas de que, nas principais empresas do Estado, reina o total regabofe, de total apropriação destas empresas pelo PS e do uso destes cargos para benefício do próprio PS”, acusou.
À esquerda, o deputado do PS Miguel Cabrita criticou a Iniciativa Liberal, defendendo que, nos últimos tempos, o partido tem adquirido uma “imagem de marca que é a tentativa de exploração de casos” e acusou os liberais de tentarem “lançar suspeição sobre o Estado”.
“É de facto a IL em plena radicalização e numa agenda populista que nós registamos e que tem ficado bem patente, episódio após episódio, neste hemiciclo e fora dele”, vincou.
Já o PCP, pelo deputado Duarte Alves, criticou o PS por estar a “ceder à direita no caso da TAP”, desafiando o Governo a “arrepiar caminho” e “deixar de pensar a gestão das empresas públicas no sentido da privatização”.
“Isso é que nós não podemos aceitar, e é essa a reestruturação que o Governo precisa, é uma reestruturação de políticas, uma remodelação das políticas para deixar de servir os interesses das multinacionais a quem foram entregues estas empresas e deixar esta lógica privatizadora”, disse.
O líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares, considerou que as revelações sobre a TAP mostram a “absoluta incapacidade do Governo” em gerir a companhia aérea, salientando que, “a cada nova notícia que se vai conhecendo, percebe-se que não metem só os pés pelas mãos, embrulham-se todos”.
No entanto, o deputado do BE ressalvou que “isso são pecados do PS, do Governo” e não da TAP, acusando os socialistas de estarem a fazer a escolha de “atacar aquilo que é estratégico e dá lucro, para entregar aos privados”, e defendendo que a companhia aérea é “indispensável ao país”.
O deputado único do Livre, Rui Tavares, lembrou que há países periféricos e sem riquezas naturais, como Singapura, que conquistaram ‘hubs’ continentais para terem uma presença no mercado global através de uma companhia aérea estatal.
“É isso que Portugal está a perder quando privatizar uma TAP que dá lucro, embora dê dores de cabeça aos políticos e é por causa disso que vão acabar a privatizar”, disse.
Já a porta-voz do PAN, Inês de Sousa Real criticou que, depois de injetados 3,2 mil milhões de euros do erário público na TAP, o Governo não informe o parlamento nem os portugueses sobre os moldes em que vai ser feita a privatização da companhia aérea.
Em resposta aos partidos, o secretário de Estado das Finanças, João Nuno Mendes, recordou que, na semana passada, começou processo de duas avaliações independentes à TAP, iniciando a privatização, e recuou até 2020 para salientar que, nessa altura, “só o Estado podia salvar a TAP”.
“O dinheiro acabava na TAP se o Estado não tivesse entrado com uma ajuda de emergência aprovada pela União Europeia ‘in extremis’. É essa a razão fundamental porque a TAP é 100% pública: só o Estado podia salvar a TAP e mais ninguém”, frisou.