Na conferência de imprensa a bordo do avião de regresso a Roma, Francisco falou de acolhimento e de paz, que se faz "sempre estendendo as mãos, nunca com o fechamento” e de uma missão em andamento para favorecer a trégua na Ucrânia.
“É um problema de humanidade”, disse o Papa aos jornalistas referindo-se ao pedido do primeiro-ministro ucraniano que lhe pediu ajuda para que cerca de 15 mil crianças ucranianas levadas para a Rússia, regressassem a casa.
A propósito de uma pergunta da Renascença, Francisco garantiu que deseja participar na JMJ e disse, referindo-se ao seu recente internamento no Hospital: “Não perdi os sentidos."
Eliana Ruggiero (AGI) - Lançou um apelo para abrir – reabrir – as portas do nosso egoísmo aos pobres, aos migrantes, a quem está clandestino. No seu encontro com o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, pediu para reabrir as fronteiras da rota balcânica que ele fechou? Ontem o senhor encontrou também o metropolita Hilarion. Hilarion e o próprio Orbán podem tornar-se canais de abertura em relação a Moscovo para acelerar um processo de paz para a Ucrânia, ou podem tornar possível um encontro entre o senhor e o presidente Putin?
Creio que a paz se faz sempre abrindo canais, nunca se pode fazer a paz com o fechamento. Convido todos a abrir relações, canais de amizade, mas isto não é fácil. O mesmo discurso que fiz no geral, fiz com Orbán e o fiz um pouco em todos os lugares. Sobre as migrações: creio que seja um problema que a Europa precisa assumir, porque são cinco os países que mais sofrem: Chipre, Grécia, Malta, Itália e Espanha, porque são os países mediterrâneos e a maioria desembarca ali. E se Europa não assumir esta questão, de uma distribuição equitativa dos migrantes, o problema será somente daqueles países. Creio que a Europa deve fazer sentir que é União Europeia também diante disto.
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Sobre o Metropolita Hilarion, é alguém que eu respeito muito, e sempre tivemos um bom relacionamento. E ele teve a gentileza de vir me ver (na nunciatura) depois esteve na Missa e vi-o também no aeroporto. Hilarion é uma pessoa inteligente com quem se pode conversar, e estas relações precisam de ser mantidas. Temos que ter a mão estendida a todos e também receber a mão que nos estendem.
Eliana Ruggiero - Hilarion ou mesmo Orbán poderiam de alguma forma acelerar o processo de paz na Ucrânia e também possibilitar um encontro entre o senhor e Putin, se eles pudessem actuar – entre aspas – como intermediários?
Pode imaginar que nesse encontro não falámos só do Chapeuzinho Vermelho… Falámos de todas essas coisas, porque todos estão interessados no caminho da paz. Eu estou disposto a fazer o que for preciso. Além disso, uma missão está em andamento agora, mas ainda não é pública… Quando for pública eu direi.
Aura Miguel (Rádio Renascença) - A próxima etapa é Lisboa, como se sente em relação à sua saúde? Fomos surpreendidos quando foi para o hospital, até disseram que tinha desmaiado… portanto, tem energia para ir a Lisboa em agosto encontrar milhares de jovens? E gostaria de convidar para a JMJ jovens ucranianos e russos, como um sinal de paz para as novas gerações?
Em primeiro lugar, a saúde. O que eu tive foi um forte mal-estar no final da audiência de quarta-feira, não tive vontade de almoçar, fiquei um pouco deitado, não perdi a consciência, mas sim, tive uma febre muito alta e às três da tarde o médico levou-me imediatamente para o hospital.
Tive uma forte pneumonia aguda, na parte inferior do pulmão, mas graças a Deus, posso-vos dizer que o corpo reagiu bem aos tratamentos. Foi isso que eu tive. Sobre Lisboa: na véspera da minha partida falei com Dom Américo que veio ver como estão as coisas. Sim, eu vou, eu vou.
Espero conseguir, vocês percebem que já não é a mesma coisa de há dois anos atrás, agora com a bengala estou melhor e, por enquanto, a viagem não está cancelada.
Aura Miguel - E sobre os jovens da Rússia e da Ucrânia na JMJ?
O D. Américo tem algo em mente, disse-me que está a preparar alguma coisa. E está a preparar bem.
Nicole Winfield (Associated Press) - Queria perguntar-lhe algo um pouco diferente: recentemente, o senhor fez um gesto ecuménico muito forte, doou três fragmentos das esculturas do Partenon à Grécia em nome dos Museus Vaticanos. Este gesto também repercutiu fora do mundo ortodoxo, porque muitos museus ocidentais estão discutindo a restituição do período colonial, como um ato de justiça para com essas pessoas. O senhor também está disponível para outras restituições?
Penso nos povos e grupos indígenas do Canadá que solicitaram a devolução de objetos das coleções do Vaticano como parte do processo de reparação pelos danos sofridos no período colonial.
Mas este é o sétimo mandamento: se você roubou, deve devolver. Mas há toda uma história, que às vezes as guerras e as colonizações levam a tomar decisões de pegar as coisas boas do outro. Este foi um gesto correto, devia ser feito: o Partenon, dar alguma coisa. E se amanhã os egípcios vierem pedir o obelisco, o que faremos? Mas aí deve ser feito um discernimento em cada caso.
A restituição das coisas indígenas está em andamento com o Canadá, pelo menos estávamos de acordo em fazê-lo. Agora vou perguntar em que ponto está. Mas a experiência com os aborígines do Canadá foi muito frutuosa.
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Na medida em que é possível restituir, que é necessário, que é um gesto, é melhor fazê-lo. Às vezes não é possível, não existe possibilidade política, real, concreta. Mas na medida em que se pode restituir, por favor, que seja feito; isso faz bem a todos. Para não se acostumar a colocar a mão no bolso dos outros.
Eva Fernandez (Cope) - O primeiro-ministro ucraniano pediu a sua ajuda para trazer de volta as crianças levadas à força para a Rússia. Pensa ajudá-lo?
Penso que sim, porque a Santa Sé atuou como intermediária em algumas situações de troca de prisioneiros e através da embaixada, correu bem. Penso que isto também pode correr bem.
É importante, a Santa Sé está disposta a fazê-lo porque é justo, é uma coisa justa e nós devemos ajudar, para que isto não seja um casus belli, mas um caso humano. É um problema de humanidade antes de ser um problema de um saque de guerra ou movimento de guerra.
Todos os gestos humanos ajudam, ao invés, os gestos de crueldade não ajudam. Temos de fazer tudo o que é humanamente possível.