Belém e Nóvoa partem o PS em dois. Saiba quem apoia quem
20-01-2016 - 11:42
 • João Carlos Malta

No papel, o PS não apoia nenhum candidato directamente. Mas Maria de Belém trouxe de novo para a campanha o tema fracturante. A ex-presidente reclama o estatuto de única socialista. Veja como se distribuem os apoios socialistas (e o que dizem).

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Não é a primeira vez que o PS tem mais do que um candidato à presidência da República. Mas é a primeira vez em que não apoia ninguém. António Costa até chamou à primeira volta desta eleição “umas primárias” para os eleitores socialistas. Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém pareciam estar a acatar o repto. Pareciam.

No último fim-de-semana, os apoiantes de Mária de Belém, Vera Jardim e Manuel Alegre deram conta da insatisfação da campanha da ex-presidente do PS para o apoio “velado” da estrutura socialista a Sampaio da Nóvoa. O ex-reitor preferiu não responder às acusações, mas escreveu uma carta a apelar o voto aos socialistas.

A tensão entre os dois candidatos tem estado mais ou menos em banho-maria, até aos últimos dois dias. O debate televisivo entre os dois candidatos ainda assim foi excepção, com Sampaio da Nóvoa a acusar Belém de ter uma candidatura que nasceu de "divisões internas" no PS.

Maria Belém reclamou ter "muito orgulho" na condição de militante socialista e garantiu que as "muitas funções" que teve nas últimas décadas permitem-lhe, se chegar à Presidência da República, "enfrentar com mais tranquilidade as turbulências e tensões" dos tempos actuais.

Este não é o primeiro caso em que o PS se parte, em um ou em vários, nas eleições presidenciais. Em 1986, as candidaturas de Mário Soares, Salgado Zenha e Maria de Lurdes Pintassilgo levaram a que o PS, apesar de apoiar Soares, tivesse visto os militantes a dividirem-se pelas campanhas dos três candidatos.

Mais recentemente, na eleição de 2006, Soares foi novamente o preferido do partido e Manuel Alegre o preterido.

Mas, em 2016, é a primeira vez que a escolha é feita num contexto em que um dos candidatos é militante do PS (e até ex-presidente) e o outro não tem nenhuma ligação ao partido.

Quem é quem no PS?

Fiquemos então a conhecer quem é que está de cada um dos lados e porquê. Algumas das frases são retiradas de outros meios de comunicação como o “i”, o “Observador” e o “Oje”.


A apoiar Sampaio da Nóvoa:

Mário Soares – “Gostaria que fosse candidato e, naturalmente, que o apoio. É um bom candidato.”

Jorge Sampaio – “Sampaio da Nóvoa é salutar para a democracia portuguesa, vem da sociedade civil e representa a renovação que é esperada na vida política portuguesa. Tem todas as características de Presidente da República: capacidade de diálogo, de fazer pontes, de unidade e mediação, de incentivar o compromisso e é sobretudo uma pessoa capaz de ter causas. O país precisa de uma pessoa de causas para voltar a ter esperança.”

Augusto Santos Silva – “O que está em causa é saber em quem confio mais para o exercício neste momento, nestas circunstâncias, neste tempo, do cargo de Presidente da República. E aí não tenho nenhuma hesitação: eu confio em António Sampaio da Nóvoa.”

Carlos César – "Creio que a candidatura de Sampaio da Nóvoa tem a distância partidária útil e suficiente, e a proximidade política e estratégica com o PS mais conveniente para um voto consciente de um socialista em Portugal.”

Correia de Campos – "Marcelo é folclore, é intriga, é criação de factos falsos. Marcelo é cada coisa e o seu contrário, é uma no cravo e outra na ferradura. Marcelo está bem com Deus e com o demónio";

[Sobre Maria de Belém] "É natural que nos ataque mais do que nós a atacamos a ela. Encontra-se atrás de nós nas intenções de voto e pensa que só progride mordendo no nosso eleitorado. Pois, que morda, mas na direita, de quem tanto se aproxima.”

Gabriela Canavilhas – “Um Presidente da República não é um ‘entertainer’, não é um sujeito simpático amigo dos velhinhos, não é um tipo engraçado que fala sobre tudo. É outra coisa.É alguém como Sampaio da Nóvoa. Que vem de outro patamar, com uma cultura política e cívica invulgar, com uma postura alicerçada em décadas de pensamento social e político. Um homem ponderado, com sentido de Estado, com capacidade de nos inspirar e de agregar os portugueses em torno de causas e metas para o nosso futuro.”

Isabel Moreira – “Sampaio da Nóvoa é o candidato que melhor consegue agregar a esquerda e é um candidato que me oferece a garantia de que será um anti-Cavaco. É o candidato anti-Cavaco, para mim, e, por inerência, o candidato anti-Marcelo, que por mais que descole de Cavaco Silva não fez outra coisa senão defendê-lo e aos governos de direita.”

António Arnaut – “Tenho por ele um grande apreço e admiração, pelas suas qualidades morais e intelectuais. Será um excelente candidato e tem perfil para ser Presidente da República.”

Ana Gomes – “Sampaio da Nóvoa sempre foi o meu candidato preferido. Disse que ele daria um belo Presidente até porque poderia ter o apoio do Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio”

Vieira da Silva – “Nós sabemos bem que Presidente da República precisamos, especialmente depois de dez anos onde não tivemos um Presidente à altura das necessidades e das responsabilidades do cargo que representou… Não por acaso todos esses que exerceram para o futuro o cargo de Presidente da República estão com Sampaio da Nóvoa".

Adalberto Campos Fernandes – “A mudança iniciada em Outubro não pode ser interrompida. Acreditamos que com Sampaio da Nóvoa o país ganhará muito no que queremos que seja um impulso para a mudança".


A apoiar Maria de Belém:

Manuel Alegre – "Ela é o único que tem uma filiação partidária, que é militante do Partido Socialista, mas ao mesmo tempo ela é verdadeiramente independente, a sua candidatura é uma candidatura autónoma e de cidadania, ao contrário de quem nos pretende dar lições de cidadania, que ataca quem é candidato e tem uma filiação partidária, mas está a fazer campanha apoiado por estruturas partidárias, nomeadamente estruturas partidária do Partido Socialista"

Jorge Coelho – "Se tivermos o azar de ele [Marcelo] ser eleito, não tenham dúvidas que vai arranjar grandes confusões. É a grande marca que ele tem".

Vera Jardim – “Chateia-me que digam que estou a apoiar uma candidatura da direita do PS e chateia-me mais que digam que sou um homem de facção. As duas coisas juntas eu não aturo mesmo.”

Francisco Assis – “Causa-me até alguma perturbação o tom messiânico com que Sampaio da Nóvoa apregoa o advento de um 'tempo novo’.”

João Soares – "O que está aqui em causa (…) é eleger uma mulher para a Presidência da República. E eu quero muito, como português, ter uma mulher eleita Presidente da República e, neste contexto e com estes candidatos, não tenho a menor dúvida de que é a Maria de Belém, de quem sou amigo e admirador, que pode ser a Presidente da República mulher de que Portugal precisa"

Eurico Brilhante Dias – “Eu sei que esta campanha não tem sido fácil, mas fazer de uma afirmação em que se procurava dizer que o país que mostramos aos outros vai para além do Palácio da Ajuda um tema de diminuição de uma candidata (talvez a única) que procura fugir da demagogia ou do vazio é inaceitável.”

António Galamba – “Não quero um Presidente que toque às campainhas das portas nem alguém que não saiba o que são essas campainhas. Quero uma Presidente que saiba que essas campainhas não são para ser tocadas, mas que não hesite em tocar a rebate em defesa da Constituição.”

Alberto Martins – “Maria de Belém, pela sua abrangência e pelo facto de ser uma candidata socialista, que parte do espaço socialista e que é capaz de ter uma abrangência nos sectores democratas e humanistas, até conservadores, será a candidata em condições de, numa segunda volta, derrotar Marcelo Rebelo de Sousa.”

Vitalino Canas – “Não é possível pensarmos que a Maria de Belém vai surpreender alguém pela negativa porque já a conhecemos. Nesta altura em que o país está numa evolução muita significativa é necessário termos aqui um factor de estabilidade e Maria de Belém sempre mostrou ao longo dos seus vários cargos que tem esse sentido de estabilidade, de equilíbrio. É uma boa candidata e será uma boa Presidente da República.”

João Proença – “Precisamos de uma mulher com sensibilidade social, sentido de diálogo e de equilíbrio, capaz de unir os portugueses. E que dê apoio a soluções de carácter social”

José Lello – “Para que não subsistam dúvidas: eu apoio Maria de Belém à Presidência.”