O Vaticano enviou hoje uma carta aos bispos de todo o mundo, a respeito do Sínodo 2021-2024, convocado pelo Papa, sublinhando a necessidade de colocar este processo em continuidade com a dinâmica do Concílio Vaticano II.
“Como poderíamos lidar com questões pontuais, muitas vezes divisionistas, sem antes ter respondido à grande questão que tem questionado a Igreja desde o Concílio Vaticano II: ‘Igreja, que dizes de ti mesma?’. A longa viagem de receção do Concílio leva-nos a dizer que a resposta está na Igreja ‘constitutivamente sinodal’, onde todos são chamados a exercer o seu próprio carisma eclesial em vista do cumprimento da missão comum de evangelização”, assinala o texto, enviado à Agência ECCLESIA.
A carta é assinada pelos cardeais Mario Grech e Jean-Claude Hollerich, respetivamente secretário-geral do Sínodo e relator-geral da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos.
“As expectativas em relação ao Sínodo 2021-2024 são muitas e variadas, mas não é tarefa da Assembleia abordar todas as questões em torno das quais se debate na Igreja”, indicam.
Os responsáveis destacam a responsabilidade de cada bispo, “princípio e fundamento da unidade do Povo santo de Deus” em relação ao processo sinodal.
“Não é possível o exercício da sinodalidade eclesial sem o exercício da colegialidade episcopal”, realça o texto, observando que estas duas dimensões da vida da Igreja não podem existir sem a outra, “longe de enfraquecer” a instituição episcopal.
A carta procura responder a receios sobre o que “serão as conclusões da Assembleia Sinodal”, que vai ter início em outubro, sem confundir “sinodalidade com um método apenas, mas assumindo-a como uma forma da Igreja e um estilo de realização da missão comum de evangelização”.
“Outros gostariam de impor uma agenda ao Sínodo, com a intenção de dirigir a discussão e condicionar os seus resultados”, alertam os colaboradores de Francisco.
Na véspera das assembleias sinodais continentais, que vão decorrer em sete locais, a carta insiste na necessidade de crescer no “estilo sinodal”.
“Quanto mais crescermos num estilo sinodal de Igreja, mais todos nós membros do Povo de Deus –fiéis e Pastores– aprenderemos a sentire cum Ecclesia, em fidelidade à Palavra de Deus e à Tradição”, sustentam o secretário-geral do Sínodo e relator-geral da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos.
A carta aponta o dedo aos que “pretendem impor algum tema ao Sínodo”, pedindo respeito pelos resultados da consulta às comunidades católicas, iniciada em outubro de 2021.
“É precisamente devido ao vínculo entre as diferentes fases que outros temas não podem ser introduzidos sub-repticiamente, instrumentalizando a Assembleia e descurando a consulta do Povo de Deus”, advertem.
Os cardeais Grech e Hollerich consideram que, neste processo inédito, a incerteza tem vindo a diminuir, com “um nível de maior consciência” de todos os envolvidos.
“Confiamos que, nas Assembleias Continentais, a voz das Igrejas particulares ressoará novamente e com ainda maior força, através da síntese realizada pelos Sínodos/Conselhos das Igrejas sui iuris e pelas Conferências Episcopais Nacionais”, apontam.
As assembleias continentais vão ser desenvolvidas de acordo com a seguinte divisão: Europa (CCEE), América Latina e Caraíbas (CELAM), África e Madagáscar (SECAM), Ásia (FABC), Oceânia (FCBCO), América do Norte (EUA+Canadá) e Médio Oriente (com a contribuição das Igrejas Católicas orientais).
A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos vai decorrer de 4 a 29 de outubro de 2023; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.
A iniciativa o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão’, começou com um processo inédito de consulta e mobilização, de forma descentralizada, a nível de cada diocese, preparando os encontros continentais que vão decorrer nos próximos meses.
Segundo o Vaticano, “milhões de pessoas em todo o mundo foram implicadas nas atividades do Sínodo”, desde outubro de 2021, e “muitos sublinharam que foi a primeira vez em que a Igreja pediu o seu parecer”.
O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.