Sem a Prémio Nobel da Literatura Svetlana Alexievich arrancou no Teatro Baltazar Dias, no Funchal, a 7.ª edição do Festival Literário da Madeira. A sessão de abertura, que contou a presença dos escritores angolanos Pepetela e Ondjaki, ficou marcada pela mensagem que a Prémio Nobel da Literatura deixou para o festival.
Com um arranque atribulado devido ao vento que afectou a chegada dos convidados à Madeira, o festival começou esta quarta-feira sem a presença anunciada de Svetlana Alexievich.
A autora bielorrussa tentou, por quatro vezes, aterrar no Funchal, mas sem sucesso. Na sessão de abertura foi lida uma mensagem curta que a galardoada deixou para o festival. Svetlana Alexievich lamentou não poder estar presente naquela a que chamou ilha “bela e inacessível”.
As palavras da autora de “Rapazes de Zinco” foram lidas pelo director geral do festival Francesco Valentini, no Teatro Baltazar Dias, que aplaudiu quando a autora deixou expressa a vontade de regressar à Madeira ao dizer “até ao próximo ano”.
Ainda na abertura, o presidente da Câmara do Funchal falou da “coragem” da organização em continuar a fazer o festival, um evento que na sua opinião tem um poder de “transformar” a Madeira.
Paulo Cafofo sublinhou a importância da cidade do Funchal como “destino cultural”, um “factor diferenciador” e que “não depende da sazonalidade”. Mas o Teatro Baltazar Dias encheu-se para ouvir os escritores angolanos Pepetela e Ondjaki que acabaram por ter as honras da sessão de abertura numa conversa moderada pelo jornalista Fernando Alves.
Sentados frente-a-frente estiveram dois escritores de gerações diferentes e por isso a conversa levantou a ideia de duas “Angolas”. De um lado a “Geração Utopia”, do outro a “geração Kuduro” provocou o moderador.
Falando sobre a actual situação de Angola, Ondjaki disse que hoje “as pessoas estão a intervir”. O autor, Prémio José Saramago, mostrou-se contudo preocupado com aqueles que ficam espantados com essa intervenção. Para o escritor que acaba de lançar em Portugal “O convidador de Pirilampos” a geração que está a intervir também teve de ter “ferramentas”. Para Ondjaki “a geração dos sobreviventes” da guerra que passou a ser agora a “geração do fazer” teve de ter formação.
A voz que representou na conversa a “geração da utopia” que sonhou uma Angola livre da guerra, falou da questão do futuro do seu país. Pepetela, Prémio Camões, afirmou que é preciso “encarar o processo com maior tranquilidade”.
Falando na primeira pessoa, o autor de Benguela reconheceu que “hoje sabemos que os processos têm o seu tempo” e concluiu que é preciso “confiar que vêm aí uns mais novos que têm capacidade de avançar melhor”, porque concluiu “estão frescos”. Esperançado no futuro de Angola, Pepetela reconheceu que “tem de haver uma mudança” e que “vai melhorar”.
Numa conversa em que explicaram ao público o que são as “estigas” em Angola, uma espécie de “jogo de crianças” em que há uma “disputa de ofensas”, os dois autores angolanos falaram ainda dos seus livros e Ondjaki partilhou com o público o desejo que tem de escrever um livro a bordo de um avião.