Margem para aumentar salários? CCP diz que comissário europeu desconhece realidade portuguesa
19-05-2023 - 23:29
 • Anabela Góis

Portugal tem empresas muito pequenas com "bastante dificuldade por motivos de concorrência nacional ou até outras por concorrência em termos de exportações, de aumentar os salários”, diz João Vieira Lopes.

O presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) garante que em alguns setores os salários têm estado a aumentar, sobretudo porque há falta de mão de obra qualificada, mas João Vieira Lopes sublinha que o nosso tecido empresarial não permite regras iguais para todos.

Em declarações à Renascença, João Vieira Lopes comenta as declarações do comissário europeu dos Assuntos Económicos, Paulo Gentiloni, para quem há margem para subir salários em Portugal e ainda não foram recuperados os níveis de poder de compra perdidos com a elevada taxa de inflação.

“Portugal tem um problema que o comissário provavelmente não conhece: é que temos um tecido empresarial muito atomizado, empresas muitas delas muito pequenas e essas empresas mais pequenas, em geral, têm bastante dificuldade por motivos de concorrência nacional ou até outras por concorrência em termos de exportações, de aumentar os salários”, argumenta o presidente da CCP.

“Portanto, diríamos que é natural que continue a desenvolver-se uma linha de aumentos salariais. A contratação coletiva mostra isso, mas não precisamos de conselhos europeus para isso.”

João Vieira Lopes lamenta que o comissário europeu fale de uma realidade que não conhece e lembra que os empresários nunca fizeram depender os aumentos dos salários da inflação.

“Nós achamos que os comissários europeus, que só conhecem a realidade dos países pelas estatísticas, deviam abster-se de fazer declarações desse tipo.”

A CCP, diz João Vieira Lopes, “nunca afirmou que o crescimento dos salários seria um fator importante em termos de inflação”.

“O Governo é que o afirmou, nomeadamente, quando tomou posição sobre salários da função pública”, sublinha.

O presidente da CCP considera que há setores em que é possível aumentar salários e outros não.

Para João Vieira Lopes, “não pode haver medidas uniformes, tendo em conta que a maior parte dos aumentos acima da média tem a ver com a falta de quadros qualificados ou mesmo de trabalhadores em várias áreas”.

“É possível que isso venha a acontecer naturalmente, sem que seja preciso incentivar”, perspetiva.