O presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) garante que em alguns setores os salários têm estado a aumentar, sobretudo porque há falta de mão de obra qualificada, mas João Vieira Lopes sublinha que o nosso tecido empresarial não permite regras iguais para todos.
Em declarações à Renascença, João Vieira Lopes comenta as declarações do comissário europeu dos Assuntos Económicos, Paulo Gentiloni, para quem há margem para subir salários em Portugal e ainda não foram recuperados os níveis de poder de compra perdidos com a elevada taxa de inflação.
“Portugal tem um problema que o comissário provavelmente não conhece: é que temos um tecido empresarial muito atomizado, empresas muitas delas muito pequenas e essas empresas mais pequenas, em geral, têm bastante dificuldade por motivos de concorrência nacional ou até outras por concorrência em termos de exportações, de aumentar os salários”, argumenta o presidente da CCP.
“Portanto, diríamos que é natural que continue a desenvolver-se uma linha de aumentos salariais. A contratação coletiva mostra isso, mas não precisamos de conselhos europeus para isso.”
João Vieira Lopes lamenta que o comissário europeu fale de uma realidade que não conhece e lembra que os empresários nunca fizeram depender os aumentos dos salários da inflação.
“Nós achamos que os comissários europeus, que só conhecem a realidade dos países pelas estatísticas, deviam abster-se de fazer declarações desse tipo.”
A CCP, diz João Vieira Lopes, “nunca afirmou que o crescimento dos salários seria um fator importante em termos de inflação”.
“O Governo é que o afirmou, nomeadamente, quando tomou posição sobre salários da função pública”, sublinha.
O presidente da CCP considera que há setores em que é possível aumentar salários e outros não.
Para João Vieira Lopes, “não pode haver medidas uniformes, tendo em conta que a maior parte dos aumentos acima da média tem a ver com a falta de quadros qualificados ou mesmo de trabalhadores em várias áreas”.
“É possível que isso venha a acontecer naturalmente, sem que seja preciso incentivar”, perspetiva.