O cartoonista António considera que cartazes com uma caricatura de António Costa, exibidos em protesto contra o primeiro-ministro durante as celebrações do 10 de Junho, são “um insulto puro e duro”.
“É uma coisa de mau gosto que não exprime em nada os problemas pelos quais os professores lutam. Não há ali nada que, de uma forma irónica ou não, fale sobre os problemas dos professores. Aquilo é um insulto gratuito ao primeiro-ministro. Tenho até dificuldade em chamar-lhe racista. Acho que aquilo é, pronto, uma coisa de mau gosto”, diz.
Para o cartoonista, que foi condecorado com a Ordem da Liberdade pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a única linha vermelha que define no seu trabalho de caricatura e cartoon “é não haver ideias que o justifiquem”.
“Se não é para expressar ideias e se é só porque sim, então não faz sentido”, justifica.
“Aquilo é um tipo com focinho de porco com dois lápis espetados nos olhos e acabou. É essa a luta dos professores?”, questiona, acrescentando que “aquilo não serve a sua luta”.
Na visão do cartoonista, que assina o cartoon do Expresso, quer o primeiro-ministro quer o Presidente da República “são perfeitamente atacáveis”, exemplificando que o tem feito e vai continuar a fazê-lo, “mas em nome de ideias”.
“Não é atacar porque sim. E aquilo faz mal à luta dos professores, porque, há, de certeza, muita gente que não concorda com aquilo e que rejeita claramente aquele tipo de intervenção”, observa.
Nestas declarações à Renascença, António assinala que já utilizou animais em muitas caricaturas, mas sempre que o fez foi para “desencadear reações”.
“Reações de crítica e de repulsa. Mas estavam lá ideias dentro. Por exemplo, no caso célebre do New York Times, em que o Netanyahu é um cão. É um cão guia que está a guiar um cego que, por acaso é o Presidente dos Estados Unidos. Tudo isto numa altura em que os Estados Unidos dão luz verde à mudança da capital e ao aumento dos colonatos. Nesse sentido e dessa maneira estou, evidentemente, seguro de que o vou repetir. Sempre em nome das ideias. Não me move o insulto”, exemplifica.
Na análise à imagem do primeiro-ministro, com lápis nos olhos e nariz de porco, o cartoonista António considera que “é de tão má qualidade que eu não vejo ali sequer uma caricatura”.
“Não vejo uma caricatura do personagem. Vejo um desenho com algumas características que podem induzir que se trata de um indivíduo com a tipologia do primeiro-ministro. Mas, como caricatura, também deixa muito a desejar”, conclui.