Depois de várias décadas de inflação muito baixa e de taxas de juro próximas do zero, quando não negativas, a guerra desencadeada pela Rússia veio acentuar o regresso da alta de preços. Para tentar travar a inflação na primeira linha encontram-se os bancos centrais.
A maioria dos bancos centrais é hoje independente, isto é, não depende do poder político. Porquê? Porque a experiência mostrou que os políticos tendem a não tomar medidas contra a inflação, sobretudo com eleições à vista. Medidas impopulares, como a subida dos juros.
Também em democracia os juízes devem ser independentes dos governos. Nem por isso essa independência é menos democrática.
A principal arma dos bancos centrais para combaterem a inflação é a subida dos juros. Sendo o dinheiro mais caro, trava-se a procura e o crescimento da economia. Espera-se que não ao ponto de provocar uma recessão, mas é muito difícil esse equilíbrio.
No presente caso, boa parte da subida dos preços, na energia e na alimentação, por exemplo, não é o efeito de um excesso da procura. A atual inflação tem muito a ver com problemas da produção e da oferta de bens e serviços no mercado. Daí que seja mais duvidosa a eficácia da subida dos juros como arma contra a inflação.
Ou seja, corremos o risco de precipitar uma recessão sem grandes vantagens para a travagem da subida dos preços. É o preço a pagar pelo atraso com que bancos centrais como a Reserva Federal nos EUA e o Banco Central Europeu iniciaram o combate à inflação. Entretanto a inflação agravou-se, gerando a ideia nos consumidores e noutros agentes económicos de que ela veio para ficar.
P. S. Quando, há trinta anos, comecei a trabalhar na Rádio Renascença, tive em Adriano Pereira Caldas um colega que me ajudou a adaptar-me ao novo desafio profissional. Estimado por todos, A. Pereira Caldas, que morreu na semana passada, era uma excelente pessoa.