O Vaticano apresentou esta terça-feira em conferência de imprensa um simpósio internacional sobre cuidados paliativos, com especialistas médicos, representantes católicos e islâmicos, procurando promover uma “revolução cultural” contra a eutanásia.
“Cuidar dos doentes, da família e da sociedade no seu todo é uma revolução cultural, que temos de promover”, disse aos jornalistas o presidente da Academia Pontifícia para a Vida (APV), Vincenzo Paglia.
A iniciativa, que decorre entre quarta e quinta-feira, tem como tema “Religião e Ética Médica: Cuidados Paliativos e Saúde Mental durante o Envelhecimento”, sendo co-organizada pelo Vaticano e a Cúpula Mundial de Inovação em Saúde (WISH, uma iniciativa da Fundação Catar).
O presidente da APV defendeu a promoção da “cultura do cuidado, para combater a “cultura do descarte”, como tem denunciado o Papa Francisco, considerando como um facto positivo a “importância cada vez maior” que os cuidados paliativos estão a ganhar em todo o mundo.
O responsável observou que o prolongamento do tempo de vida é também um aumento do tempo da doença e das despesas com saúde, abrindo caminho às pressões para legalizar a eutanásia.
“Chamar a atenção de toda a sociedade para o cuidado com os idosos é uma operação de política”, precisou Vincenzo Paglia.
O arcebispo italiano questionou o que chamou de “delírio da eficiência absoluta” na Medicina, que parece falhar quando não cura.
“É preciso sempre cuidar, mesmo quando não se pode curar”, sustentou.
O simpósio decorre semanas depois da assinatura, por parte de representantes católicos, muçulmanos e judaicos, de uma posição conjunta sobre os temas do fim da vida e dos cuidados paliativos.
Os participantes vão receber ainda o “Livro Branco para a Promoção e Disseminação de Cuidados Paliativos no mundo”, preparado por um grupo internacional de especialistas, a pedido da APV
O texto visa a promoção de uma “cultura paliativa”, para responder “às tentações da eutanásia e do suicídio assistido e, acima de tudo, desenvolver uma cultura de cuidado que permita oferecer uma companhia de amor até a morte”.
O Livro Branco pede avanços nos cuidados paliativos para ajudar “os mais de 25 milhões de pessoas que morrem em cada ano com graves problemas de saúde”, oferecendo um acompanhamento que englobe as dimensões física, emocional e espiritual.
Vincenzo Paglia adiantou que o simpósio vai abordar ainda a área dos cuidados paliativos pediátricos, uma situação particularmente “dolorosa”, evocando a este respeito a história de Tomasito, um menino argentino que morreu na sequência de doença oncológica e que foi sepultado no Cemitério Teutónico do Vaticano para cumprir a sua vontade de estar perto do Papa Francisco.