O italiano David-Maria Sassoli foi eleito presidente do Parlamento Europeu, esta quarta-feira.
Eram quatro os candidatos à presidência do Parlamento Europeu e, depois de duas rondas de votações, está escolhido o próximo líder do órgão legislativo da União Europeia: David-Maria Sassoli, italiano de 63 anos nomeado pelos Socialistas e Democratas Europeus (S&D).
A eleição estava pré-anunciada. O acordo alcançado na terça-feira pelo Conselho Europeu, em Bruxelas, para indicar Ursula von der Leyen ao cargo de presidente da Comissão passou por garantir o apoio do Partido Popular Europeu (PPE), a que a alemã pertence, e do novo grupo liberal de Macron (Renovar Europa) ao candidato socialista no Parlamento - razão pela qual nenhuma dessas famílias políticas apresentou nomes ao cargo. Estava garantida a maioria para eleger Sassoli, pelo menos em teoria.
Apesar disso, e como a eleição é feita por voto secreto, não foi à primeira volta que venceu: nessa ronda, conquistou 325 dos 662 votos válidos (de um total de 735), sete votos aquém da maioria absoluta. Resultou à segunda: dos 667 votos válidos, alcançou 345, 11 acima da maioria necessária.
No seu discurso de vitória, o italiano reforçou a mensagem de unidade, mas aproveitou pars deixar recados ao Conselho e à Comissão. “A obediência não pode ser vista como uma qualidade. Somos os filhos e os netos daqueles que criaram o antídoto para as divisões que assolaram a Europa durante décadas. Temos de garantir que o Parlamento Europeu desempenha um papel de liderança face às mudanças e temas urgentes que enfrentamos.”
Sobre esses temas, Sassoli fez referência às alterações climáticas e aos direitos dos mais desfavorecidos, incluindo dos migrantes e refugiados que continuam a ver impedida a entrada na União Europeia. “Devemos isto aos cidadãos. Não podemos continuar a arrastar este assunto. Não podemos ter os cidadãos sempre a perguntar ‘Onde está a Europa?’”
Sobre o Brexit, marcado para outubro próximo, o novo presidente do parlamento de estrasburgo prometeu “respeitar a vontade dos britânicos”, mas pediu que os dois lados em negociações sejam “razoáveis e respeitem as regras e os tratados”, numa clara mensagem ao futuro sucessor de Theresa May.
Sassoli reforça “agenda progressista”
Carlos Zorrinho considera que a eleição de David-Maria Sassoli reforça a "agenda progressista" do Parlamento Europeu e advertiu que a presidente indigitada da Comissão Europeia só terá o apoio da assembleia se apresentar um programa nessa linha.
"A partir do momento em que temos um Parlamento Europeu forte e liderado por um socialista, vamos confrontar a indiciada presidente da Comissão [Ursula von der Leyden] com o programa concreto que ela vai pôr em prática", disse o eurodeputado socialista à imprensa após a eleição do italiano para a presidência do PE.
"Portanto, o jogo só termina no momento em que ela for votada neste Parlamento e será votada neste Parlamento se as suas ideias estiverem em linha com aquilo que é o sentimento hoje expresso pelo PE", frisou.
Segundo Zorrinho, a eleição de Sassoli foi "uma grande vitória" na medida em que sob a liderança de "um progressista" o PE "fica mais reforçado no contexto institucional".
"Estar na vanguarda e preparados para as mudanças"
Nascido em Florença, há 63 anos, a declaração de interesses do ex-jornalista antes da votação desta manhã ficou marcada pelo otimismo e a esperança. “As eleições foram um sucesso, com mais eleitores nas urnas e mais de 60% de novos membros eleitos. Quero ser o candidato que faz a diferença para construir a casa democrática da Europa, que é o que este Parlamento é”, declarou aos restantes eurodeputados, depois de Antonio Tajani, a quem sucede, ter aberto a sessão a lembrar que o PE é “livre e autónomo”.
“Nesta legislatura, temos de estar na vanguarda e preparados para as mudanças em curso”, continuou Sassoli, nomeando o clima, o emprego e a “inclusão para todos” como suas prioridades.
Em 2017, à margem de um encontro ecuménico europeu a propósito dos 60 anos do Tratado de Roma, na capital italiana, Sassoli já tinha reforçado essa mensagem de inclusão, “de certa matriz cristã” mas que é “o paradigma do compromisso político, cultural e moral também para todos os cidadãos que não são cristãos”.
“Agora, é o momento de explicá-lo bem aos nossos cidadãos, porque hoje a Europa é assustadora, uma fonte de ansiedade e um fardo; em vez disso, temos de fazer da unidade europeia a grande aposta deste século”, sublinhou então, numa entrevista ao site “Together 4 Europe”.
Dois anos depois, torna-se líder do órgão legislativo da UE sob a promessa de “ter sempre a porta aberta e escutar todos, homens, mulheres e jovens europeus”, para que possam “viver, amar e aprender juntos”, com “total respeito por todas as culturas e experiências”, num momento em que “as lições de Jean Monet são mais importantes do que nunca”.
O que disseram os candidatos?
A inaugurar a sessão, cada um dos quatro candidatos ao lugar teve cinco minutos para tentar conquistar uma maioria dos votos na câmara, disputando sobretudo a simpatia das três famílias políticas (e não-inscritos) que não apresentaram qualquer candidato à chefia do PE.
Ska Keller, alemã candidata dos Verdes, pediu que se envie uma “mensagem clara contra os movimentos populistas de direita que tomaram o continente” e sublinhou que “hoje precisamos da UE mais do que nunca”, lembrando que, “como única instituição diretamente eleita pelos cidadãos, o Parlamento tem a responsabilidade de defender a herança europeia que acabou com a guerra e as divisões”.
A espanhola candidata da Esquerda Unitária Europeia (GUE/NGL), Sira Rego, culpou “o modelo económico atual e as políticas neoliberais que destroçaram países como a Irlanda, Espanha e Portugal” pelo “monstro fascista que surgiu na Europa” e prometeu defender uma agenda pelos direitos humanos, pelos direitos dos trabalhadores, contra as alterações climáticas, por um “verdadeiro feminismo que não se limite a ser uma falsa narrativa” e “contra a Europa-fortaleza, para que ninguém seja deixado para trás”.
Jan Zahradil, checo, candidato dos Reformistas e Conservadores Europeus (ECR), reforçou uma mensagem de “transparência” e sobretudo equilíbrio, apresentando-se com uma “vantagem” sobre os restantes por estar no Parlamento Europeu desde 2004 e por ser “o único candidato a um cargo de topo da UE que é oriundo de um país pequeno, da Europa de Leste e que não integra a Zona Euro”, algo que classifica como “essencial” para garantir esse equilíbrio necessário “a nível europeu, a nível nacional e entre as instituições”.
[Notícia atualizada às 14h28]