"Ecos de paz numa terceira guerra mundial aos pedaços". É assim que é descrita a Via-Sacra que se realizou esta Sexta-Feira Santa, junto ao Coliseu de Roma, em Itália.
Sem a participação do Papa Francisco, que acompanhou as cerimónias a partir da sua residência na Casa de Santa Marta, devido ao “frio intenso”, a Via Sacra deste ano teve como objetivo que todos os lugares onde se sofre por conflitos, ódios e perseguições estejam presentes na oração desta Sexta-feira Santa.
“Os textos das 14 estações da Via Sacra são testemunhos ouvidos pelo Santo Padre durante as suas viagens apostólicos e noutros contextos”, lê-se no comunicado do Vaticano que acompanha a divulgação dos textos. É um percurso para escutar o sofrimento de Cristo “refletido no dos irmãos e irmãs que no mundo sofreram e sofrem a falta de paz”.
A recolha dos textos foi realizada por alguns Dicastérios da Cúria romana e está agrupada em 14 “vozes de paz”, que junta ainda pessoas da Terra Santa, da Africa Ocidental, da América Central e América do Sul, de Africa, da Ásia, do Médio Oriente e da península balcânica.
Na 1.ª estação, em que Jesus é condenado à morte, vozes da Terra Santa pedem a paz, mas lembram que esta "não nasce por si mesma, mas aguarda uma decisão nossa". "Hoje, como então, somos continuamente chamados a escolher entre Barrabás ou Jesus: a revolta ou a mansidão, as armas ou o testemunho, o poder humano ou a força silenciosa da pequenina semente, o poder do mundo ou o do Espírito."
Na 2.ª estação, em que Jesus é carregado com a cruz, um migrante da África Ocidental revela a sua via sacra de seis anos: "Trabalhei para pagar outra travessia. Era a sexta vez; depois de 3 dias no mar, cheguei a Malta. Fiquei num centro durante 6 meses e lá perdi o juízo; todas as noites, perguntava a Deus porquê: porquê homens como nós devem considerar-nos inimigos? Muitas pessoas que fogem da guerra carregam cruzes semelhantes à minha.
Na 3.ª estação, vozes de paz dos jovens da América Central apelam à tolerância e a uma "sociedade unida", pedindo ao Senhor que coloque no coração "o desejo de levantar alguém que está caído por terra". "não queremos violência, mas atacamos nas redes sociais quem não pensa como nós; queremos uma sociedade unida, mas não nos esforçamos por compreender quem temos ao nosso lado; pior, negligenciamos quem precisa de nós."
Na 4.ª estação, uma mãe da América do Sul, vítima de uma explosão, revela ter sentido "raiva e ressentimento". "Mas depois descobri que, se espalhasse ódio, criava ainda mais violência. Compreendi que dentro de mim e ao meu redor havia feridas mais profundas que as do corpo", indica, na estação em que Jesus encontra a Mãe.
Na 5.ª estação, vozes de paz de três migrantes de África, sul da Ásia e Médio Oriente revelam ser pessoas "feridas pelo ódio", que quando questionadas sobre a situação, apenas querem dizer que são pessoas. "devo escolher estrangeiro, vítima, requerente de asilo, refugiado, migrante, outro, mas aquilo que gostaria de escrever é pessoa, irmão, amigo, crente, próximo".
Na 6.ª estação, em que Verónica limpa o rosto de Jesus, um sacerdote da Península Balcânica testemunha os "horrores da guerra", enquanto na 7.ª, em que Jesus cai pela segunda vez, dois adolescentes do norte de África revelam a vida num campo de refugiados.
Na 9.ª estação, vozes de paz de uma consagrada da África Central diz que "tudo passa exceto Deus". "Para chegar à paróquia, devo fazer muita estrada e atravessar pelo menos três postos de controle rebeldes. Mas, Missa após Missa, cresceu em mim uma certeza: apesar de ter perdido praticamente tudo, inclusive a casa onde cresci, tudo passa exceto Deus", refere.
"Isto levantou-me o ânimo e, com alguns amigos, começamos a reunir crianças, que jogavam a fazer de soldados, para lhes transmitir, a eles que são o futuro, os valores evangélicos da ajuda mútua, do perdão, da honestidade, para que o sonho da paz se torne realidade."
Na 11.ª estação, um jovem do Médio Oriente conta que o seu bairro foi invadido por grupos extremistas. "Eu tinha 9 anos. Recordo a angústia da mãe e do pai; à noite, encontramo-nos abraçados e rezando, cientes duma nova e duríssima realidade à nossa frente. A guerra tornava-se de dia para dia mais horrenda", conta, indicando que a guerra "foi a cruz da vida" e que "mata a esperança".
Na 12.ª estação, em que Jesus morre, perdoando os seus assassinos, uma mãe do Ocidente Asiático lembra um bombardeamento em que perdeu o filho, referindo que a fé a lembra de que "os mortos estão nos braços de Jesus". "E nós, sobreviventes, procuramos perdoar ao agressor, porque Jesus perdoou aos seus carrascos."
À 13ª estação, em que Jesus é descido da cruz, contém um texto de vozes de paz de uma religiosa da África Oriental, enquanto a 14.ª e última, em que Jesus é colocado no sepulcro, com texto de jovens moças da África Austral.