Sete deputados do partido Trabalhista britânico anunciaram, esta segunda-feira, a sua saída do partido, invocando discordância com o líder, Jeremy Corbyn, em questões como o Brexit e o anti-semitismo.
Os sete deputados são Chuka Umunna, Luciana Berger, Chris Leslie, Angela Smith, Mike Gapes, Gavin Shuker e Ann Coffey, que vão passar a ter o estatuto de deputados independentes.
Esta decisão, cujos rumores vinham crescendo nos últimos dias na imprensa britânica, reduz o grupo parlamentar do "Labour" na Câmara dos Comuns, a câmara baixa do parlamento britânico, de 256 para 249.
Num evento em que os sete se autodenominaram T"he Independent Group" (O Grupo Independente), a deputada Luciana Berger explicou que foi uma "decisão muito difícil, dolorosa, mas necessária".
"Nós representamos diferentes partes do país, somos de diferentes origens, nascemos em diferentes gerações, mas todos partilhamos os mesmos valores", vincou a deputada de 37 anos, eleita desde 2010 pela região de Liverpool.
Berger, que recentemente enfrentou uma tentativa de destituição dentro do partido, alegadamente devido às críticas à liderança do partido, lamentou que o partido se tenha tornado "institucionalmente antissemita", com uma cultura de racismo e intimidação.
Já Angela Smith, de 57 anos e eleita desde 2005 pelo círculo de Penistone e Stocksbridge, no norte de Inglaterra, receia que o programa "profundamente" ideológico de Corbyn ameace a economia e a segurança do país.
"O Partido Trabalhista de 2019 é caracterizado por um pensamento preguiçoso e populista que não promete nada para além de um futuro atormentado e dividido para o nosso país. Odiar os ‘Tories’ e culpar o setor privado por todos os males da sociedade pode parecer bom para aqueles que procuram explicações simples e respostas simplistas para os nossos problemas complexos, mas não farão nada realisticamente para construir a riqueza necessária para fornecer os recursos para os nossos preciosos serviços públicos", afirmou.
Chuka Umunna, um conhecido opositor do ‘Brexit’ e defensor de um novo referendo, acusa a liderança do partido de "incompetência" e disse que "é necessária uma alternativa" para milhares de "sem abrigo" em termos políticos.
"Está na altura de abandonarmos a política antiquada deste país", disse o deputado de 40 anos, eleito pelo círculo londrino de Streatham, desafiando mais pessoas a abandonarem os seus partidos atuais e a juntarem-se ao grupo, que ainda não formou oficialmente um partido.
Num depoimento, o líder trabalhista, Jeremy Corbyn, manifestou-se "desiludido" com esta notícia.
"Estou desiludido com o facto de estes deputados se terem sentido incapazes de continuar a trabalhar juntos nas políticas trabalhistas que inspirou milhões nas últimas eleições", lamentou.
O anúncio de hoje põe fim a meses de especulação de que uma parte do Partido Trabalhista, descontente com a linha esquerdista de Corbyn, poderia sair e formar um novo partido.
No fim de semana, o deputado Stephen Kinnock, também crítico de Corbyn, instou os potenciais colegas dissidentes a ficar e a "lutar de dentro" para mudar a estratégia política.
Corbyn assumiu a liderança trabalhista em 2015, contra todas as expetativas, mas com um grande apoio entre os militantes de base, cujo número aumentou significativamente.
Após uma moção de censura interna, venceu novas eleições primárias em 2016, acentuando o programa mais socialista, assumindo a luta contra a austeridade e a favor da nacionalização dos serviços públicos.
Porém, continua a ser alvo de críticas internas devido à incapacidade para afastar atitudes de antissemitismo no partido e também devido à ambiguidade sobre o ‘Brexit’ e à resistência em fazer campanha por um novo referendo.
A posição oficial do partido Trabalhista é que o resultado do referendo de 2016 deve ser respeitado e o Reino Unido deve sair da União Europeia, defendendo a negociação de uma "união aduaneira permanente" e novas eleições legislativas em vez de um novo referendo.