Portugal é o segundo país onde a população mais confia em notícias, mas o desinteresse está a aumentar. As redes sociais e a rádio cresceram como principal fonte de informação. Estas são algumas das conclusões do Reuters Digital News Report (DNR2022), divulgado esta segunda-feira.
Em 46 países analisados, só a Finlândia ultrapassa Portugal em matéria de confiança na informação veiculada pelos órgãos de comunicação social.
Um total de 61% dos inquiridos em Portugal diz confiar nas notícias, 19 pontos percentuais acima da média global de 42%.
Sete em cada dez portugueses mostram-se também preocupados com o problema das notícias falsas, de acordo com o Reuters Digital News Report, que em Portugal foi coordenado pelo OberCom – Observatório da Comunicação.
"Os dados mostram que os portugueses mais foram afetados pela Covid-19, em termos pessoais, revelam maiores índices de confiança em conteúdos noticiosos. Estes tendem, também, a estar mais preocupados com a legitimidade de conteúdos online e com o que é real e falso na internet", indica o estudo.
Desinteresse sobe
Apesar de confiarem, a proporção de inquiridos que dizem não ter interesse em notícias mais do que duplicou, de 5% para 10,5%. As quebras mais acentuadas registam-se entre os portugueses com menores rendimentos e escolaridade mais baixos.
Ainda assim, mais de metade (51,1%) dos portugueses mostram-se interessados em informação. Em 2020 essa percentagem era de 63,5% e no ano seguinte de 68,6%.
O Reuters Digital News Report foi realizado entre 14 de janeiro e 10 de fevereiro e não reflete o impacto no interesse noticioso da invasão da Ucrânia pela Rússia, que começou no dia 24 daquele mês.
Entre janeiro e fevereiro a agenda mediática foi dominada pela pandemia de Covid-19 e pelas eleições legislativas.
Cortar nas notícias
Outro dado do DNR2022 indica que mais pessoas evitam notícias e estão a optar pelo não consumo voluntário de conteúdos noticiosos.
“Em 2017, quase metade dos portugueses utilizadores de Internet diziam nunca evitar notícias de forma ativa e voluntária (47%) e em 2022, passados cinco anos, essa proporção caiu para 21,7%.”
O relatório aponta como principais razões para a “dieta” de notícias o “excesso de notícias sobre a Covid-19 (36,1%), o cansaço com o excesso de notícias em geral (25,8%), e o facto de as notícias poderem ter um impacto negativo no humor (20,2%)”.
Redes e rádio crescem como fonte principal de notícias
De acordo com os dados avançados pelo DNR2022, os portugueses consomem notícias maioritariamente através da televisão, com as percentagens a variarem consoante as faixas etárias, e cada vez mais nas redes sociais e na rádio, mas não têm por hábito pagar para ler notícias na internet.
Como "fonte principal de notícias na semana anterior", as redes sociais subiram de 13,4% em 2021 para 19,6% em 2022, indica o relatório.
Os portugueses também estão a sintonizar mais a rádio como fonte principal de notícias, com um aumento de 4,2% para 7,1%.
Em sentido inverso, a televisão desceu de 57,7% para 53,6%, a imprensa em papel caiu de 7,3% para 3,2% e a Internet (excluindo redes sociais passou de 17,4% para 16,5%.
"A importância da televisão no nosso país deve-se, em grande medida, às preferências dos portugueses mais velhos, já que entre os mais jovens a televisão, enquanto principal fonte de acesso a notícias, assume um peso similar ao das redes sociais", concluem os autores do estudo.
Outra conclusão: em termos de dispositivos, o smartphone continua a ser a tecnologia mais utilizada, por 85,1% dos inquiridos, assegurando o consumo de notícias para 74,8% dos portugueses utilizadores de Internet.
Consumo de notícias a subir no WhatsApp e Instagram
As redes sociais WhatsApp e Instagram, propriedade do grupo Meta, "aumentaram de forma significativa a sua presença enquanto veículos de distribuição de notícias", assinala o estudo. O Facebook mantém a liderança, de longe, mas tem vindo a cair nos últimos anos no consumo de informação.
Três em cada quatro portugueses que utilizam a Internet tem conta no Facebook, a maior rede social do mundo, e quase 50% usam-na para consumo de notícias. Desde 2015, "perdeu quase 20 pontos percentuais (18,4 pp.) no consumo de notícias".
O Facebook lidera e em segundo lugar aparece a plataforma de vídeo Youtube (67,7% uso geral e 24,5% para consumo de notícias) e o WhatsApp (67% e 24,4%, respetivamente).
O Instagram foi a rede que mais aumentou em termos de utilização, de 48,3% em 2021 para 53,0% em 2022, no uso geral, e de 14,4% para os 20% no consumo de notícias.
Outra conclusão do DNR2022 aponta que cerca de 25% dos utilizadores do Facebook "considera que há demasiados conteúdos noticiosos nos seus feeds, com origem em marcas de notícias". Pelo contrário, 18,2% dos utilizadores do TikTok queixam-se de falta de notícias naquela rede.
Só 12% pagam por notícias no digital
Em 2022, o Reuters DNR revela que apenas 12% dos portugueses afirmam ter pago por notícias em formato digital no ano anterior, são menos 5 pontos percentuais face à média global de 17%.
Em termos comparativos, os inquiridos preferem não pagar por informação, mas 57% dos que utilizam a internet "subscrevem um serviço de streaming audiovisual de forma continua, 43,6% um serviço de streaming de música, 29,8% algum pacote de canais desportivos e 21,4% um serviço de audiobooks ou podcasts".
E precisamente no mercado dos podcasts, o Reuters Digital News destaca que "no setor da rádio, a Renascença Multimédia lançou uma nova plataforma de podcasting (“Popcasts”), tanto para próprios podcasts e com o objetivo de atrair outras editoras".