Lisboa-Porto. CP acaba com primeiro Alfa da manhã
17-07-2018 - 07:01
 • Rui Barros

A partir de 5 de agosto, ninguém consegue chegar ao Porto antes das 9h00 se viajar de Alfa Pendular. Só às 9h46, e de Intercidades. Empresários falam de “problema estratégico”.

A CP - Comboios de Portugal vai acabar com a primeira ligação do dia de Alfa Pendular no sentido Lisboa-Porto, que permite aos utentes chegarem à cidade no Norte do país antes das 9h00 da manhã.

Num aviso publicado no site da empresa, a CP informa os passageiros de que, a partir de dia 5 de agosto de 2018, serão introduzidas alterações aos horários dos Alfa Pendular e Intercidades, não especificando, contudo, que ligações vai suprimir.

No entanto, no momento de comprar um bilhete através da bilheteira online, uma destas mudanças é clara: a primeira ligação entre as duas maiores cidades do país foi suprimida. A ligação de Alfa Pendular, que partia da capital às 06h09 e chegava a Campanhã às 8h44, deixa de estar disponível. Como alternativa, a CP oferece uma nova ligação, de Intercidades, que parte de Lisboa às 06h30 e que chega ao Porto às 9h46.

A informação foi confirmada à Renascença pela própria empresa, que, em resposta escrita às perguntas colocadas, diz que o fim desta ligação se deve à falta de procura.

“O comboio em causa é o Alfa Pendular que regista menor procura (-46% do que a média) e a mais baixa taxa de ocupação média ao longo do percurso, uma vez que a partida de Lisboa ocorre muito cedo”, explica a CP, acrescentando que nem as promoções que foram feitas nos últimos tempos fizeram aumentar o número de passageiros nesta ligação.

A empresa não forneceu, no entanto, números absolutos de passageiros neste comboio, justificando a ausência de dados com o facto de a ligação estar num mercado “altamente concorrencial”.

“A empresa considera esta medida adequada, uma vez que melhora a resposta da CP à procura efetivamente existente e potencia a sustentabilidade económica do Serviço Alfa Pendular”, adianta a empresa responsável pelas ligações de comboio.

Em alternativa, a CP criará uma nova ligação, com partida de Lisboa às 9h00, por considerar “que dará melhor resposta às necessidades de um maior número de clientes”.

Ligação Lisboa - Porto é “problema estratégico” do país

A justificação da CP contrasta com a noção empírica de um funcionário de circulação destes comboios que, contactado pela Renascença, se mostrou espantado com esta justificação.

“Principalmente à segunda-feira, estes comboios vão sempre cheios”, refere este trabalhador da CP, que pede para não ser identificado. “É o típico comboio de executivo. Quem viaja por razões de trabalho quer estar cedo para resolver as suas coisas e regressar até no mesmo dia. Para estas pessoas, é manifestamente fundamental chegar pelas 9h00”, argumenta.

No universo empresarial, o presidente da Associação Industrial do Minho, António Marques, defende que o fim desta ligação é mais um fator que retira competitividade às empresas. “Se somarmos isso a uma ponte aérea que funciona mal e com graves atrasos, se somarmos isso à retirada pela TAP de vias de mobilidade internacional desta gaveta exportadora que é o Norte do país”, tudo se agrava, diz o empresário de Braga.

Nuno Botelho, da Associação Comercial do Porto, interpreta o fim desta ligação como a confirmação de que a CP não está a ser capaz de fornecer soluções aos portugueses. “Há poucas alternativas para aceder de Lisboa ou vir de Lisboa para o Porto. Estamos a falar de um problema estratégico do país que deve ser pensado e ponderado”, acrescenta.

Os novos horários são anunciados numa altura em que várias notícias apontam para uma CP à beira da rutura. Na semana passada, o presidente da empresa, Carlos Nogueira, admitiu a necessidade de aumentar o investimento na empresa.

Numa audiência com deputados e especialistas em transportes, Nogueira defendeu contas equilibradas, mas disse não querer “andar a pedir dinheiro à tutela em permanência”.

“Se o Governo quer viagens de comboio em certas zonas do país, tem de oferecer contrapartidas”, sublinhou Carlos Nogueira.

Na manhã do mesmo dia, o secretário de Estado das Infraestruturas justificou os problemas da empresa ferroviária como sendo “dores de crescimento”.