Trinta painéis, alguns dos quais com duplas imagens de um percurso de 80 anos, constituem a exposição “Retratos contados de Ruy de Carvalho: fotografias de arquivo do D. Maria II”, a inaugurar na terça-feira em Lisboa.
A mostra é um “itinerário fotográfico que abrange alguns dos momentos mais emblemáticos da carreira de Ruy de Carvalho”, disse à agência Lusa Nelson Mateus, curador da mostra que pretende homenagear o ator de 95 anos de idade e 80 de carreira.
A fotografia mais antiga que é exibida nesta mostra data de 1962, e retrata o ator com a atriz Carmen Dolores, na peça “Os três chapéus altos”.
Já a imagem mais recente data de 2009, e retrata Ruy de Carvalho e Virgílio Castelo quando contracenaram na peça de Ronald Harwood “O camareiro”, que aborda os bastidores do teatro, numa encenação de João Mota.
Pelo menos 50 fotos, umas a preto e branco e outras a cores, fazem parte da exposição montada na primeira ordem do teatro, no corredor que dá acesso à sala Garrett e que integra apenas imagens de arquivo do Teatro Nacional D. Maria II, disse Nelson Mateus.
O incêndio que na madrugada de 2 de dezembro de 1964 quase destruiu todo o teatro dificulta a existência de fotos mais antigas de Ruy de Carvalho a representar no D. Maria II, onde se estreou profissionalmente em 1947, referiu Nelson Mateus.
O curador avançou à Lusa que pretende que esta exposição seja itinerante ao longo de 2023, acrescentando que, a todo o momento, serão acrescentadas mais imagens do ator, sobretudo as que deram origem a uma exposição sobre a sua vida e obra, patente no início deste ano no Espaço Memória do Teatro Experimental de Cascais (TEC), bem como dos espetáculos que representou no Politeama.
“A ideia é criar uma linha do tempo de todas as fotos de arquivo e que, através da mostra sobre Ruy de Carvalho, possa recordar-se outros grandes nomes do teatro português como Fernanda Borsatti, Curado Ribeiro, Eunice Muñoz, Armando Cortez, entre tantos outros”, referiu.
Marcada para as 17h00, a inauguração da mostra, que ficará patente até 30 de novembro, marca o primeiro momento das comemorações dos 80 anos de carreira de Ruy de Carvalho no D. Maria II.
O segundo momento ocorrerá no dia 26, às 19h00, com a apresentação da peça “A ratoeira”, um texto de Agatha Christie e encenação de Paulo Sousa Costa, protagonizada pelo homenageado.
Ruy de Carvalho nasceu em 1 de março de 1927, em Lisboa. Iniciou-se no teatro amador no Grupo da Mocidade Portuguesa, em 1942, na peça “O jogo para o Natal de Cristo”, numa encenação de Francisco Ribeio (Ribeirinho).
De 1945 a 1950, frequentou o curso de teatro/formação de atores do Conservatório Nacional, tendo-se formado em 1950.
A estreia profissional data de 1947, na então companhia Rey Colaço/Robles Monteiro, em “Rapazes de hoje”, uma comédia de Roger Ferdinand.
Teatro Avenida e Teatro Monumental foram salas onde atuou logo durante os primeiros anos, tendo feito parte de grupos como o Teatro do Povo, mais tarde Teatro Nacional Popular.
Em 1961, foi um dos fundadores do Teatro Moderno de Lisboa, grupo de teatro progressista que, à revelia da Censura da ditadura, pôs em cena autores nunca representados em Portugal.
Dois anos depois foi para o Teatro Experimental do Porto, onde encenou, pela primeira e única vez, uma peça: “Terra firme”, de Miguel Torga.
Companhia de Comédia Assis Pacheco, Companhia de Laura Alves, de Rafael de Oliveira, Companhia do Teatro Variedades e a Companhia de Teatro da RTP, residente no Teatro Maria Matos, em Lisboa, no início da década de 1970, foram estruturas de que fez parte ou com as quais trabalhou, assim como a Companhia de Teatro de Lisboa e o Novo Grupo - Teatro Aberto, entre mais de duas dezenas de estruturas teatrais.
Em 1978, Ruy de Carvalho regressou ao Teatro Nacional D. Maria II a cuja companhia residente pertenceu até 2000.
Com uma carreira variada no teatro, cinema e televisão, Ruy de Carvalho é o ator no ativo com mais longa carreira artística.
No seu percurso destacam-se ainda dezenas de prémios como quatro Prémios da Imprensa para o Teatro (1962, 1981, 1982 e 1986), o prémio da Crítica Rádio e Televisão (1962), prémios da Crítica de Cinema (1965, 1966 e 1971), três Setes de Ouro do Jornal Se7e (1981, 1986, 1990), o Prémio Bordalo de Imprensa de Carreira (1995), os prémios de Carreira da Fundação Byssaia Barreto e da Universidade Lusíada (1999), assim como do Festival de Teatro de Almada (2009).
Foi ainda distinguido com a Medalha de Mérito Cultural do Ministério da Cultura, a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique (1993) e a da Ordem de Sant'Iago da Espada (1998), as insígnias de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada (2010), a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (2012), a Grã-Cruz da Ordem do Mérito (2017) e a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada (2022).