Os dados finais relativos às emissões de gases com efeito estufa em 2017 foram recentemente transmitidos por Portugal às Nações Unidas e “são dramáticos”, disse à agência Lusa o presidente da Associação Sistema Terrestre Sustentável, que analisou esta informação.
“A seca, os incêndios e o uso de carvão na produção da energia elétrica levaram a um conjunto de recordes que não queremos que se repitam no futuro”, adiantou Francisco Ferreira.
Em 2017, as consequências das alterações climáticas, nomeadamente uma seca intensa, contribuíram para a ocorrência de dois grandes incêndios e ao recurso à produção de eletricidade a partir das centrais térmicas de Sines e do Pego.
“Tivemos quase 540 mil hectares de área ardida de espaços florestais, cerca de 330 mil correspondentes a povoamentos florestais, bem acima do que se tinha registado em 2003 e em 2005, com cerca 471 mil hectares e cerca de 347 mil hectares, respetivamente”, disse o ambientalista.
Francisco Ferreira explicou que os solos e as florestas armazenam enorme quantidade de carbono que acaba por ser libertada para a atmosfera com os incêndios.
“Estas áreas deixaram de ter o seu papel habitual de sumidouro, isto é, de contrariarem as emissões que existem através das atividades humanas como a energia, a agricultura, os resíduos”, adiantou.
Após analisar os dados, a Zero observou “cinco infelizes recordes em 2017”, como ser o ano com maiores emissões associadas ao uso do solo e floresta desde que há registo (1990), com emissões positivas de 7,2 milhões de toneladas de dióxido de carbono-equivalente.
Até então, entre 2006 e 2016), Portugal tinha a capacidade de retirar da atmosfera, em média anualmente, 10 milhões de toneladas de dióxido de carbono.
O ano de 2017 foi também o terceiro ano, desde 1990, com maiores emissões de gases de efeito de estufa, considerando as emissões do uso do solo e floresta (piores anos foram 2003 e 2005 com 77,8 milhões de toneladas de dióxido de carbono-equivalente).
De acordo a Zero, 2017 foi também “o pior ano da presente década em termos de emissões associadas à produção de eletricidade devido ao extenso uso de carvão nas centrais térmicas de Sines e Pego, com emissões de 12,2 milhões de toneladas de dióxido de carbono, o que representou 63% do total das emissões associadas à produção de eletricidade.
Para Francisco Ferreira, há duas prioridades “absolutamente cruciais” para o futuro: “dar passos concretos que permitam salvaguardar os solos e fomentar uma floresta resiliente” e abandonar bem antes de 2030 a produção de eletricidade com recurso ao uso de carvão e concretizar medidas de expansão de aproveitamento de energias renováveis e de melhoria de eficiência energética.
Questionado se é possível que esta situação volte a acontecer, Francisco Ferreira disse que, “infelizmente, a tendência é que as secas passem a ser mais frequentes e mais dramáticas”, advertindo que se não houver forma alternativas de produzir eletricidade e se não se penalizar o uso do carvão nas centrais térmicas vão continuar a haver “bastantes emissões”.
Portanto, conclui, “é fundamental que façamos tudo para não repetir o que se passou em 2017”.