Os dadores de sangue temem o impacto que as greves e feriados de junho poderão ter nos níveis das reservas de sangue para o Verão e para a Jornada Mundial da Juventude.
De acordo com a Federação de Dadores Benévolos de Sangue, há postos de recolha que chegam mesmo a encerrar e as consequências para os próximos meses são motivo de preocupação.
Segundo Alberto Mota, na última nota que saiu do Instituto Português de Sangue, já se verificava "um pequeno sinal de amarelo, que era o A positivo, que só tínhamos para cinco dias, e o O negativo, para seis dias”.
“Estou preocupado com estes números que no dia 7 já tínhamos e com estas pontes, feriados e greves que tem havido na função pública e é público que temos tido alguns postos fechados por causa destas greves”, diz, aguardando a nova nota informativa - dentro de 15 dias - para ver “como é que estamos” e ter alguma perspetiva para o Verão, “para o que vamos ter dentro de um mês e meio em Portugal, que é o caso das Jornadas Mundiais da Juventude”.
Na perspetiva do presidente da Federação de Dadores Benévolos, não se justifica que não sejam decretados serviços mínimos para a recolha de sangue, em caso de greve.
“Não compreendo muito porque é que a dádiva de sangue não tem serviços mínimos para não se poder fechar, nem se cancelar recolhas de sangue, como se tem cancelado, por motivo das greves”, diz, ressalvando que os profissionais têm direito a fazer greve, mas não se pode “pôr em perigo” um serviço tão importante como a recolha de sangue.
Mais hospitais a fazer recolhas
Neste Dia Mundial do Dador de Sangue, Alberto Mota defende, ainda, que deveriam ser em maior número os hospitais que fazem a recolha.
“Existem 28 hospitais a fazer colheita de sangue e nós entendemos que há regiões do país que necessitavam de ter um outro hospital nomeadamente no interior, nomeadamente no Algarve”, defende, acrescentando que “não se compreende que mesmo os outros e até os hospitais privados, que consomem sangue, depois não fazem qualquer promoção e nem aderem ao movimento associativo que existe nas suas cidades”.
Nestas declarações à Renascença, o responsável defende ainda o direito à dispensa de trabalho no dia da dádiva - uma possibilidade retirada há mais de 10 anos e que não foi reposta.
“É uma forma que nós encontramos de poder trazer todos os dias os tais 1.000 ou 1.100 dadores que precisamos para as dádivas que temos necessidade todos os dias”, observa.
Plano de contingência para a Jornada Mundial da Juventude
O Instituto do Sangue e da Transplantação garante que há um plano de contingência para a Jornada Mundial da Juventude de forma a garantir as reservas de sangue. Mesmo assim, Maria Antónia Escoval reconhece que as greves e os feriados estão a condicionar a recolha de sangue e poderão influenciar os níveis de reserva para as próximas semanas.
“Este período de greves afetou as nossas reservas, todas as convulsões sociais afetam a dádiva de sangue, quer porque os dadores têm mais dificuldade em se deslocar, quer porque os nossos profissionais também exercem o seu direito”, assume, lembrando que nesses períodos “os hospitais têm menor atividade assistencial”.
“No quadro das Jornadas Mundiais da Juventude, o IST tem um plano de contingência que vem a preparar já há bastante tempo e tem também um plano de promoção da dádiva em parceria com uma das federações e com as Jornadas Mundiais da Juventude”, adianta.
Reservas de sangue estão estáveis
Nestas declarações à Renascença, Maria Antónia Escoval garante que, nesta altura as reservas de sangue estão estáveis. De qualquer forma deixa um apelo à dádiva.
“O desafio por conseguirmos garantir as reservas de sangue necessárias é diária, todos os dias, porque são necessárias 1.100 unidades todos os dias nos hospitais. De qualquer maneira, neste momento a situação é estável, mas apelamos sobretudo a uma dádiva regular e continuada ao longo do tempo, porque só isso é que é a garantia da sustentabilidade da transfusão”, diz.
Segundo a responsável, as dádivas que têm vindo a crescer todos os anos, indicando que “no final de 2021 e 2022 tivemos mais dadores do que tínhamos tido no período pré- pandémico”.
Novo regulamento em 2025
Quanto à possibilidade da falta da dispensa do dia de trabalho para a doação de sangue, a presidente do IST lembra que as condições estão em debate a nível europeu e deverão ser transpostas para a realidade portuguesa no próximo ano.
“Há uma proposta para um regulamento no Conselho da Europa e no Parlamento Europeu está em discussão um regulamento que significa que será de implementação imediata em Portugal”, adianta, frisando que “Portugal vai reger-se por esse regulamento quando ele for implementado”.
“Todas as empresas, todas as organizações que deem o dia aos seus trabalhadores, essa iniciativa da nossa parte nada temos a opor”, afirma, acrescentando que “em relação ao restante, aguardamos os resultados deste regulamento europeu, que pensamos, será implementado no início de 2025”.