Depois de adiada por duas vezes, começou esta terça-feira a fase de instrução do processo BES/GES que envolve, entre outros arguidos, o ex-banqueiro Ricardo Salgado.
Com o regresso do juiz Ivo Rosa, após um período de baixa médica, às primeiras horas desta tarde, os advogados de defesa foram entrando no Campus da Justiça, em Lisboa, onde se concentrou um pequeno grupo da associação de lesados do BES, para exigir, novamente responsabilidades.
“Senhor doutor, mais uma vez pedimos que nos conceda formalmente os documentos sobre a provisão que sabemos existir e que nos vai devolver a totalidade do nosso capital”, pediu, à entrada, Jorge Novo, um dos lesados, ao advogado de Ricardo Salgado.
Na resposta, Francisco Proença de Carvalho afirmou que “formalmente, está tudo nos processos”, acrescentando que o seu cliente, tal como os restantes arguidos não mediram esforços para que os lesados fossem reembolsados.
“Temos, com toda a objetividade, identificados um conjunto de factos que demonstram aquilo que é a nossa visão, muitas vezes ou quase sempre, coincidente com a dos lesados. Aliás, neste processo em que o doutor Ricardo Salgado é acusado, em parte, ele como os outrois arguidos fizeram todos os esforços para que os lesados fossem reembolsados e foi esse esforço que foi interrompido”, declarou o causídico.
Para esta terça-feira está fixada a inquirição de quatro testemunhas arroladas pelo arguido João Martins Pereira, entre os quais o ex-banqueiro José Maria Ricciardi.
O processo BES/GES conta com 30 arguidos (23 pessoas e sete empresas), num total de 361 crimes.
O mais mediático arguido deste caso é o antigo presidente do Grupo Espírito Santo (GES), Ricardo Salgado, acusado de 65 crimes, entre os quais associação criminosa (um), burla qualificada (29), corrupção ativa (12), branqueamento de capitais (sete), falsificação de documento (nove), infidelidade (cinco) e manipulação de mercado (dois).
Considerado um dos maiores processos da história da justiça portuguesa, este caso agrega no processo principal 242 inquéritos, que foram sendo apensados, e queixas de mais de 300 pessoas, singulares e coletivas, residentes em Portugal e no estrangeiro. Segundo o Ministério Público (MP), cuja acusação ocupa cerca de quatro mil páginas, a derrocada do Grupo Espírito Santo (GES), em 2014, terá causado prejuízos superiores a 11,8 mil milhões de euros.
São ainda arguidos Morais Pires, José Manuel Espírito Santo, Isabel Almeida, Manuel F. Espírito Santo, Francisco Machado da Cruz, António Soares, Alexandre Cadosch, Michel Creton, Cláudia Boal Faria, Pedro Cohen Serra, Paulo Carrageta Ferreira, Pedro de Almeida e Costa, João Alexandre Silva, Nuno Escudeiro, Pedro Góis Pinto, João Martins Pereira, Paulo Nacif Jorge, Maria Beatriz Pascoa, Frederico Ferreira, Luís Miguel Neves, Rui Santos e Alexandre Monteiro.
As sete empresas acusadas são a Espírito Santo Internacional, Rioforte Investments, Eurofin Private Investment, Espírito Santo irmãos – Sociedade Gestora de Participações Sociais, ES Tourism Europe, Espírito Santo Resources Limited e ES Resources (Portugal), pelos crimes de burla qualificada, corrupção passiva, falsificação de documentos e branqueamento de capitais.