As sanções dos Estados Unidos ao Irão são retomadas esta segunda-feira, depois do acordo assinado entre os dois países em 2015 ter sido cancelado por Donald Trump. O Presidente iraniano, Hassan Rouhani, avisou que o Irão vai desafiar as sanções e continuar a vender petróleo.
A decisão dos americanos reimpõe sanções que foram levantadas em 2015, quando o então Presidente Barack Obama e cinco outros governos - China, França, Rússia, Reino Unido e Alemanha - assinaram o acordo nuclear iraniano.
Agora, as sanções aplicam 300 novas sanções ao petróleo iraniano, a outas exportações e ao sistema bancário. A União Europeia, que continua a apoiar o acordo nuclear com o Irão, disse que se opunha à reimposição das sanções e a China, que importa petróleo do país, lamentou a decisão de Trump.
A reimposição das sanções faz parte de um esforço por parte de Donald Trump em forçar o Irão a reduzir os seus programas militares e deixar de apoiar os rebeldes no Iémen, o regime na Síria, Líbano e outros países no Médio Oriente. O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, disse no domingo que as penalizações que são agora retomadas "são as sanções mais duras alguma vez impostas à República Islâmica do Irão".
No entanto, o governo teocrático do Irão desvalorizou qualquer preocupação sobre o impacto das sanções na economia do país. "Hoje [esta segunda-feira], o inimigo ataca a nossa economia. O alvo principal das sanções é o nosso povo", afirmou o Presidente iraniano, Hassan Rouhani.
"Os EUA querem cortar a zero as vendas de petróleo do Irão... mas nós vamos continuar a vender o nosso petróleo para furar as sanções", atirou Rouhani, numa reunião com economistas transmitida pela televisão estatal iraniana.
O líder iraniano denunciou ainda que as sanções eram ilegais e injustas. "Isto é uma guerra económica contra o Irão, mas a América devia aprender que não pode usar a força contra o Irão. Estamos preparados para resistir a qualquer pressão", avisou.
Afinal, em que consiste o acordo?
O acordo nuclear iraniano, ou "Plano de Ação Conjunto Global" foi assinado em 2015. Foi imediatamente criticado pelos republicanos conservadores americanos, que temeram um crescimento do Irão, um país tradicionalmente hostil aos Estados Unidos pelo papel que os americanos tiveram em instaurar um regime ditatorial nos anos 80.
Mas o que é, na prática, o acordo iraniano? Todos os países envolvidos - EUA, China, Rússia, França, Reino Unido e Alemanha - acordaram em levantar pesadas sanções económicas ao Irão, impostas depois de investigadores independentes descobrirem que o Irão estava a produzir, às escondidas, um vasto arsenal nuclear.
As sanções foram impostas ao petróleo, construção de aeronaves e ao sistema bancário e de seguradoras do país. Em 2015, no acordo promovido por Barack Obama, sanções específicas foram levantadas.
Em troca, o Irão concordou em reduzir significativamente o seu arsenal nuclear. Nos próximos 15 anos, o Irão não pode fabricar armas que utilizem urânio enriquecido; tem de reduzir as suas centrifugadoras nucleares de 19 mil para cinco mil; reduzir o tempo de fabrico de uma bomba de poucos meses para um ano.
Além disso, o regime iraniano concordou em reduzir o armazenamento de urânio em 98% e não enriquecer urânio acima de 3,67% de pureza, muito abaixo dos 90% de pureza que são necessários para produzir armas estáveis.
Investigadores independentes da Agência Internacional da Energia Atómica ficaram de monitorizar as instalações iranianas regularmente, para assegurar que o acordo é cumprido. Caso o acordo não fosse cumprido, as sanções poderiam ser imediatamente reimpostas.
O "pior acordo de sempre" com divórcio unilateral
Donald Trump anunciou em maio deste ano que os Estados Unidos iriam sair do "pior acordo de sempre", como o classificou várias vezes, tanto como presidente como candidato presidencial, em 2016. Na rede social Twitter, Trump também insultou o acordo, chamando-o "terrível", "horrível", "horroroso" e "uma catástrofe". Os outros membros do acordo decidiram não seguir Trump e manter o acordo com o Irão.
A União Europeia opôs-se à decisão americana, através do comissário europeu para os assusntos económicos, Pierre Moscovici. China, Índia, Coreia do Sul, Japão e Turquia, alguns dos países que importam petróleo primariamente do Irão, deverão dar isenções temporárias ao Irão, de modo a não destabilizar o preço do petróleo.
As sanções chegam em altura de eleições nos Estados Unidos. Na terça-feira, realizam-se as eleições intercalarares para a Câmara dos Representantes, Senado e Governadores. Um dos miores focos de Donald Trump para chamar votos para os candidatos republicanos tem sido, além da imigração ilegal vinda dos países da América Latina, a segurança do Médio Oriente.
"O Irão é um país muito diferente do que era quando eu tomei posse. Eles queriam tomar conta do Médio Oriente. Agora só querem sobreviver", disse orgulhosamente Donald Trump numa ação de campanha no Estado do Tenessee.
À agência Reuters, diplomatas disseram que um novo mecanismo da União Europeia para facilitar os pagamentos pelas exportações de petróleo iraniano deve ser legalizado em novembro, mas ficará operacional no próximo ano. Eles avisaram, no entanto, que nenhum país se voluntariou para receber a nova entidade, pelo que o processo sofreu atrasos".
Estamos em contacto regular com outros signatários do acordo nuclear. Criar um novo mecanismo para continuar as trocas com a União Europeia vai demorar", disse o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros, Bahram Qasemi, à Reuters em Teerão.