“Foi com profunda tristeza e perplexidade que a Província Portuguesa da Sociedade Salesiana teve conhecimento do que foi noticiado acerca da suspeita de abusos sexuais de menores envolvendo o bispo D. Ximenes Belo”, lê-se na primeira linha do comunicado divulgado esta quinta-feira. É a reação oficial da congregação a que o prelado pertenceu - e que o acolheu em Portugal desde que renunciou ao cargo - , e surge apenas 24 horas depois dos alegados casos de abuso terem sido denunciados por um jornal holandês que os investigou.
No comunicado, os Salesianos esclarecem que “desde que assumiu funções na Diocese de Díli (Timor Leste), como administrador apostólico e depois Bispo, D. Carlos Ximenes Belo deixou de estar dependente da Congregação Salesiana”, mas que “a Província Portuguesa, a pedido dos seus superiores hierárquicos, recebeu-o como hóspede durante os últimos anos”. O texto sublinha, no entanto, que “desde que se encontra em Portugal não tem tido quaisquer cargos ou responsabilidades educativas ou pastorais ao serviço da nossa Congregação”.
“O pedido de hospitalidade foi por nós aceite com toda a naturalidade por se tratar de uma pessoa conhecida e estimada por todos”, refere ainda o texto, que não comenta os casos vindos a público. “Sobre questões a respeito do conteúdo das notícias não temos conhecimentos para nos pronunciarmos, remetendo para quem tem essa competência e conhecimento”.
Já na quarta-feira, quando contactada pela Renascença, a Província Portuguesa dos Salesianos não quis comentar as notícias, remetendo eventuais explicações para a Nunciatura Apostólica em Lisboa - a representação diplomática do Vaticano -, sublinhando que D. Ximenes já não pertence à congregação, o que acontece sempre nestas circunstâncias: um bispo deixa de dever obediência à instituição religiosa a que está ligado.
De acordo com a investigação publicada pelo jornal holandês “De Groene Amsterdammer”, os alegados casos de abuso de menores terão começado ainda antes de D. Carlos Ximenes Belo ser bispo, na década de 1980, mas as primeiras denúncias terão surgido apenas em 2002, ano em que resignou, já depois da independência de Timor-Leste e do bispo ter recebido o Nobel da Paz.
O jornal explica ter ouvido várias vítimas e pelo menos vinte pessoas com conhecimento do caso, incluindo "individualidades, membros do Governo, políticos, funcionários de organizações da sociedade civil e elementos da Igreja".
Outras reações
Já esta quinta-feira, o presidente de Timor Leste preferiu não comentar as suspeitas de abusos envolvendo o ex-administrador apostólico de Díli. José Ramos Hora diz que aguarda por informações da Santa Sé.
“Vi as declarações, através da Nunciatura, à Lusa, e para já ficamos à espera dos próximos passos, dos próximos desenvolvimentos, por parte da entidade legitima, com credibilidade, que depois nos pode orientar sobre como gerir esta situação", afirmou à chegada a Díli, depois de ter participado na Assembleia Geral da ONU.
Ouvido pela agência Lusa, o representante do Vaticano em Timor-Leste indicou que o caso que envolve suspeitas de abuso de menores por parte de Ximenes Belo está com os órgãos competentes da Santa Sé, mas não disse se o prelado foi ou não investigado.
“Pessoalmente não posso nem confirmar nem desmentir, porque é uma questão de seriedade da minha parte, visto a competência ser dos meus superiores na Santa Sé”, afirmou Marco Sprizzi.
À Renascença, José Luis Guterres, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Timor, assegurou que nunca teve "conhecimento de que tenha havido algum inquérito ou alguma investigação da parte das autoridades, quer da procuradoria ou outros organismos da Igreja Católica" sobre a acusação que "estão a atribuir ao nosso querido bispo Ximenes Belo. Quem acusa deve apresentar provas. Aqui em Timor, eu não tenho conhecimento que tenha havido algum inquérito contra o bispo Ximenes Belo", reforçou.
Também contactada pela Renascença, fonte judicial portuguesa que trabalhou no aparelho de justiça timorense assegurou não ter conhecimento de qualquer inquérito judicial durante a primeira década do séc. XXI.