Vaticano, União Europeia (UE) e a França apelaram este domingo à cessação das hostilidades entre o Azerbaijão e a Arménia no enclave de Nagorno-Karabakh, pedindo às partes que se sentem à mesa negocial.
"Rezo pela paz no Cáucaso e peço às partes em conflito que cumpram gestos concretos de boa vontade e de fraternidade, que possam ajudar a resolver os problemas, não com o uso da força e das armas, mas através do diálogo e das negociações. Rezemos juntos, em silêncio, pela paz no Cáucaso", disse o Papa este domingo, na Praça de São Pedro.
Em Bruxelas, e através do Twitter, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, manifestou-se preocupado com as “informações sobre as hostilidades” em Nagorno-Karabakh, que considera “fonte das mais graves inquietações”.
“A ação militar deve cessar imediatamente, para impedir qualquer escalada [da violência]. A única via possível é um regresso imediato às negociações, sem quaisquer pré-condições”, frisou.
Em Paris, o Governo francês afirmou-se “muito preocupado” com a situação e apelou também às partes à cessação imediata das hostilidades e ao regresso ao diálogo.
Num comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros francês reitera a disponibilidade da França para apoiar uma solução negociada e duradoura para o conflito naquela região, “no respeito pelo direito internacional”.
Já antes, em Moscovo, a Rússia também instara os dois países a cessarem imediatamente os combates próximo da fronteira comum junto a Nagorno-Karabakh e a sentarem-se à mesa das negociações para estabilizar a situação.
“A situação na zona de Nagorno-Karabakh deteriorou-se consideravelmente e instamos as partes a respeitarem um cessar-fogo imediato e a darem início a negociações com o objetivo de estabilizar a situação”, indicou este domingo, em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo.
Os apelos surgem depois de as partes em conflito terem intensificado os confrontos na região de Nagorno-Karabakh, uma região separatista do Azerbaijão habitada maioritariamente por arménios e apoiada pela Arménia.
O Ministério da Defesa azeri acusou este domingo a Arménia de ter violado o acordo de cessar-fogo (assinado em 1994) e lançado às primeiras horas de domingo “provocações em grande escala” com bombardeamentos contra posições do Exército do Azerbaijão e localidades situadas na primeira linha de zona de conflito.
Segundo a versão das autoridades de Baku, a Arménia utilizou nos ataques armas de grande calibre, morteiros e artilharia, ações que provocaram “mortos e feridos entre a população civil” e “danos graves em infraestruturas civis”.
Por seu lado, o primeiro-ministro da Arménia, Nikol Pashinian, acusou o Azerbaijão de ter lançado uma ofensiva militar “com ataques aéreos e mísseis contra Artsaj”, nome arménio de Nagorno-Karabakh, e assegurou que o exército “fará tudo” para proteger o país da “invasão azeri”.
Antes o Ministério dos Negócios Estrangeiros arménio indicou que o Azerbaijão estava a lançar mísseis “contra localidades pacíficas, incluindo a capital [de Nagorno-Karabakh] Stepanakert”.
Nagorno-Karabakh foi cenário de uma guerra no início dos anos 1990, na qual morreram cerca de 30.000 pessoas, e, desde então, as autoridades azeris têm tentado recuperar o seu controlo, se necessário pela força, enquanto as conversações de paz permanecem num impasse há vários anos.
Os combates ocorrem regularmente entre separatistas e azeris, bem como entre Erevan e Baku.
Em 2016, os graves confrontos armados quase degeneraram numa guerra em Nagorno-Karabakh e, em julho de 2020, registaram-se igualmente combates entre arménios e azeris na sua fronteira.
Apesar de o conflito ter terminado em 1994 e de ter sido sucedido de um cessar-fogo, as tensões na região separatista de Nagorno-Karabakh permaneceram ao longo dos anos, tendo hoje subido de tom, com as partes a trocarem acusações sobre quem iniciou as hostilidades.
Nagorno-Karabakh proclamou a sua independência depois de ter vencido a guerra inicial contra o Azerbaijão, mas o estatuto não é reconhecido por qualquer país da comunidade internacional salvo a própria Arménia.
[Notícia atualizada às 16h54]