No passado sábado, no fim de uma visita à China, Lula da Silva, Presidente do Brasil, expôs as suas ideias sobre como conseguir a paz na guerra da Ucrânia. Não são ideias originais, ouvimo-las praticamente desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, há mais de um ano.
Lula acusa os Estados Unidos e a Europa comunitária de prolongarem a guerra, ao entregarem armas e munições à Ucrânia. Mais curiosa é a ideia do Presidente do Brasil sobre quem desencadeou a guerra: a decisão da guerra foi tomada por dois países, Rússia e Ucrânia, disse ele.
Assim Lula finge ignorar que a Rússia invadiu a Ucrânia, país que Putin quer riscar do mapa. Há um agressor e um agredido, não estão os dois países no mesmo plano. Se os americanos e os europeus fizessem a vontade a Lula, ou, já agora, a Trump, a guerra acabava num instante, ficando a Rússia a dominar uma grande parte da Ucrânia, cuja soberania territorial seria profundamente violada, contrariando a Carta da ONU.
Este falso pacifismo que Lula agora adotou é conhecido – trata-se de ajudar Putin a ultrapassar o sarilho que ele próprio criou. Como felizmente acontece, a posição da UE e de Portugal é bem diferente da posição de Lula e não deve ser ocultada.
Pela voz de Paulo Rangel o PSD apelou ao Governo de A. Costa para tomar “uma posição pública e formal” demarcando-se das declarações de Lula. Seguiu-se uma intervenção do PS, pela voz de Jamila Madeira, que procurou defender Lula, alegando que ele fomenta a busca pela paz na Ucrânia.
Entretanto, o ministro dos Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, recebeu o seu homólogo russo, Sergei Lavrov; Mauro Vieira mostrou-se contra sanções à Rússia, por causa da invasão da Ucrânia, Lavrov agradeceu.
Finalmente, falou o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Cravinho, rejeitando que haja algum tipo de embaraço com as declarações de Lula sobre a Ucrânia. E acrescentou que o Presidente do Brasil terá ocasião de expor as suas ideias no seu encontro com o Presidente Marcelo e o Governo, como se ele não tivesse sido já suficientemente claro para merecer uma rejeição clara.
Não chega lembrar que Portugal e o Brasil têm políticas externas diferentes. Importa que a posição portuguesa sobre a Ucrânia seja lembrada publicamente sem complexos. Até como sinal de respeito pelo Presidente do Brasil e das relações de Estado a Estado entre Portugal e o Brasil.
Francisco Sarsfield Cabral