Este domingo, pode ver em directo a canonização de Madre Teresa de Calcutá no site da Renascença, a partir das 9h30. Na rádio, há um programa “Porta Aberta” especial com Óscar Daniel, a vaticanista Aura Miguel e convidados.
1. A criança que deu tudo o que tinha
Uma vez tive de ir à Etiópia. As nossas irmãs estavam lá a trabalhar e havia uma seca terrível. Quando estava prestes a iniciar esta viagem, vi-me rodeada por muitas crianças. Cada uma delas quis dar-me alguma coisa.
"Tome isto para as crianças da Etiópia!", diziam elas, repetidamente. Fiquei com muitos presentes para dar aos nossos pobres.
No fim, uma criancinha que recebera pela primeira vez um chocolate, veio ter comigo e disse-me: "Não quero comer isto. Leve o chocolate e dê-o às crianças na Etiópia."
Este pequenino deu muito, porque deu tudo o que tinha, e deu algo que era precioso para ele.
2. A jovem que encontrou Jesus
Nunca esquecerei uma jovem francesa que veio para Calcutá. Parecia tão preocupada!
Durante alguns dias, trabalhou na casa que temos para moribundos carenciados. Ao fim de duas semanas, veio ter comigo. Abraçou-me e disse-me: "Encontrei Jesus!". Perguntei-lhe onde encontrara Jesus.
– "Na casa dos moribundos carenciados", respondeu ela.
– E que fizeste depois de O teres encontrado?
– Fui confessar-me e tomar a Sagrada Comunhão pela primeira vez em 15 anos.
– E que mais fizeste?
– Enviei um telegrama aos meus pais, dizendo-lhes que encontrei Jesus.
Olhei para ela e disse-lhe:
– Agora, faz as malas e volta para casa. Volta para casa e distribui alegria, amor e paz pelos teus pais.
Fez a mala e partiu feliz, porque o seu coração estava cheio de alegria! Porquê? Porque tinha recuperado a inocência da juventude, a inocência que tinha perdido.
3. A mãe que sabia a fome dos filhos
Certa noite, um homem veio a minha casa e disse-me: "Há uma família com oito crianças; não comem há dias."
Agarrei nalguma comida e fui até lá. Quando cheguei, vi os rostos das crianças desfigurados pela fome. Não havia desgosto nem tristeza nos rostos delas, apenas um profundo sentimento de fome.
Entreguei o arroz à mãe. Ela dividiu-o em duas partes e saiu, levando uma das metades. Quando voltou, perguntei-lhe: "Onde foi?". Respondeu simplesmente: "Fui a casa dos meus vizinhos; eles também têm fome!".
Não fiquei surpreendida por ela ter partilhado o que tinha recebido – os pobres são realmente muito generosos. Fiquei surpreendida, isso sim, por ela saber que eles tinham fome. De um modo geral, quando estamos a sofrer, focamo-nos apenas em nós próprios, não temos olhos para os outros.
4. O "Mestre do Amor"
Nunca esquecerei aquele dia, na Venezuela, em que fui visitar uma família que nos tinha oferecido um carneiro. Queria agradecer o presente.
Ao chegar lá, constatei que tinham um filho terrivelmente aleijado. Perguntei à mãe: "Como se chama o seu filho?". A mãe deu-me esta resposta lindíssima: "Nós chamamos-lhe 'Mestre do amor', porque está sempre a ensinar-nos como se ama".
Tudo o que fazemos por ele é o nosso amor por Deus em acção.
5. O perdão paterno
Foi tão importante termos aberto uma casa para receber os doentes com sida, em Nova Iorque. Nunca mais houve um que morresse de tristeza!
Há dias, uma das irmãs telefonou-me para me contar que um dos jovens estava moribundo; mas, por estranho que pareça, não conseguia morrer. Ela perguntou-lhe então: "O que se passa?" E ele respondeu: "Irmã, eu não posso morrer sem ter pedido ao meu pai que me perdoe."
Então, a irmã pôs-se em campo e descobriu onde se encontrava o pai. Quando lhe telefonou, aconteceu uma coisa extraordinária. O pai abraçou o filho e exclamou: "Meu filho! Meu filho muito querido!" E o filho suplicou ao pai: "Perdoe-me! Perdoe-me!" Ficaram assim muito tempo, abraçados. Horas depois, o jovem morria.
Quando percebemos que somos todos pecadores e que todos precisamos de perdão, torna-se fácil para nós perdoar os outros.
6. A dama hindu que gostava de saris
Lembro-me de uma dama hindu que veio ter comigo. Sentou-se e disse-me: "Gostaria de tomar parte no vosso trabalho". Disse-lhe: "Isso é óptimo". A pobre mulher tinha uma fraqueza que quis partilhar comigo. "Gosto de saris elegantes", confessou ela.
Na verdade, envergava um sari muito dispendioso, que devia custar pelo menos 100 vezes mais do que o meu, que custa oito rupias.
Pedi então à Virgem Maria que me ajudasse a dar um conselho adequado àquela mulher. Ocorreu-me dizer-lhe: "Eu começaria pelos saris. Da próxima vez que for comprar um, em vez de pagar 800 rupias, compre um que custe 500. Depois, com as 300 rupias que sobrarem, compre saris para as pobres."
Aquela boa mulher usa agora saris de 100 rupias. E isto porque eu lhe pedi que não os comprasse mais baratos.
Confessou-me que isto modificou a sua vida. Agora, sabe o que significa partilhar. Mas assegura que recebeu mais do que deu.
7. A cidade onde não se viam crianças na rua
Não consigo recordar em que cidade foi, mas lembro-me de que era uma cidade onde não se viam crianças na rua. Eu senti terrivelmente falta das crianças. Subitamente, enquanto caminhava, deparei com um carrinho de bebé. Era empurrado por uma mulher jovem, e atravessei a rua para ver a criança. Para minha grande surpresa, não havia nenhuma criança no carrinho. Apenas um cãozinho!
Aparentemente, a fome no coração daquela mulher tinha de ser satisfeita. Por isso, não tendo filhos, procurara um substituto. Eu própria gosto muito de cães, mas não suporto a ideia de ver dar a um cão o lugar de uma criança.
As pessoas têm medo de ter filhos. Os filhos perderam o seu lugar na família. As crianças estão tão solitárias... Quando as crianças regressam da escola, não há quem as acolha. E então voltam para as ruas.
Temos que reencontrar as nossas crianças e levá-las de novo para casa. As mães estão no centro da família. As crianças necessitam das suas mães. Se a mãe estiver em casa, é lá que os filhos vão estar também.
8. A menina que vivia debaixo da árvore
Um dia, encontrei uma menina na rua e levei-a para o abrigo que temos para crianças. É uma casa acolhedora, com boa comida. Demos-lhe roupa limpa e fizemos tudo para que se sentisse feliz.
Ao fim de algumas horas, a menina fugiu. Procurei-a, mas não consegui encontrá-la em lado nenhum. Ao fim de alguns dias, voltei a encontrá-la. Levei-a outra vez para a nossa casa e disse à irmã: "Irmã, por favor, siga esta criança para onde quer que ela vá". A menina fugiu de novo. Mas a irmã seguiu-a para descobrir porquê.
Descobriu, assim, que a mãe daquela criança vivia na rua por baixo de uma árvore. Naquele dia, tinha colocado duas pedras no chão e estava a cozinhar debaixo dessa árvore.
A irmã contou-me o que se passava e eu fui até lá. Vi alegria no rosto da menina, porque estava com a mãe, que a amava, e estava a fazer uma comida especial para ela.
Perguntei à menina: "Porque não queres ficar connosco? Tinhas tantas coisas bonitas na nossa casa". Ela respondeu: "Não podia viver sem a minha mãe. Ela gosta muito de mim". Aquela menina era mais feliz com os magros alimentos que a mãe lhe cozinhava na rua do que com todas as coisas que eu lhe tinha dado.
Enquanto a criança estivera connosco, mal conseguira arrancar-lhe um sorriso. Mas quando a encontrei com a mãe na rua, sorriam ambas.
9. Há grandeza no amor
Durante 25 anos, recolhemos mais de 36 mil pessoas das ruas e mais de 18 mil tiveram uma morte tranquila e bela. Quando as recolhemos na rua, damos-lhe um prato de arroz. Fazêmo-las reviver num instante. Certas noites, recolhemos quatro pessoas.
Uma vez, uma delas estava num estado terrível, coberta de chagas. Disse às irmãs que me ocuparia dela, enquanto elas tratariam outras três. Fiz por ela tudo o que o meu amor me permitiu fazer. Deitei-a numa cama e, então, agarrou a minha mão. Tinha um belo sorriso no rosto e disse simplesmente "Obrigada". Depois, morreu.
Há grandeza no amor. Aquela mulher estava faminta de amor e recebeu amor antes de morrer. Disse apenas uma palavra, mas pôs todo o seu amor nessa palavra.”
10. O peso do amor no trabalho
Uma vez, contou Teresa de Calcutá, sucedeu algo inesperado com uma das nossas irmãs que tinha ido estudar. No dia em que iria receber o seu diploma de curso, teve um acidente. Quando estava a morrer, perguntou: "Por que me chama Jesus ao fim de tão pouco tempo?". A sua superiora respondeu: "Jesus quer-te a ti; não ao teu trabalho".
Depois disso, ela ficou inteiramente feliz.
No momento da morte, não seremos julgados pela quantidade de trabalho que fizemos, mas pelo peso do amor que pusemos no nosso trabalho.