Um sistema desenvolvido por investigadores da École Polytechnique Fédérale de Lausanne (EPFL) permite que doentes com lesões na medula consigam-se levantar, caminhar e até participar em atividades recreativas, como a natação, o ciclismo ou a canoagem.
O novo método passa pela estimulação elétrica personalizada da medula espinal com recurso a placas de elétrodos projetadas especificamente para estas lesões na medula, noticia o jornal espanhol ABC.
Num estudo publicado esta segunda-feira na revista Nature Medicine, esta técnica inovadora demonstrou restaurar os movimentos motores poucas horas após o início da terapia em três pacientes com paralisia sensório-motora completa.
A estimulação peridural elétrica, ou seja, a estimulação aplicada à medula espinhal, tinha sido bem-sucedida em restaurar a capacidade de locomoção em modelos animais de lesão medular, mas até agora tinha sido menos eficaz em humanos por razões desconhecidas.
Em 2019, a equipa liderada por Grégoire Courtine, da Ecole Polytechnique Fédérale de Lausanne (EPFL), em colaboração com Jocelyne Bloch, do Hospital Universitário de Lausanne, ambos na Suíça, aplicou esta terapia a três pacientes com diferentes tipos de lesão da medula espinal: lesão medular crónica e paralisia parcial ou completa das extremidades inferiores.
Em apenas uma semana, os três conseguiam andar com muletas.
Esta foi a primeira prova de que a terapia, que usa estimulação elétrica para reativar células nervosas espinhais, poderia funcionar de forma eficaz.
Agora, a equipa liderada por Courtine e Bloch atualizou o sistema com implantes mais sofisticados controlados por software de inteligência artificial.
Os novos implantes, explicaram, podem estimular a região da medula espinhal que ativa os músculos do tronco e das pernas.
O italiano Michel Roccati foi um dos três pacientes que puderam voltar a andar sozinhos em dezembro passado. Quatro anos antes, Michel sofreu um grave acidente de moto que o deixou paraplégico numa cadeira de rodas.
Dias depois de passar pelo procedimento cirúrgico em que o cirurgião Bloch lhe implantou o novo cabo na medula espinal, Michel, juntamente com especialistas do centro de pesquisa Courtine e Bloch, pode passear nas ruas de Lausane.
Michel tinha dois pequenos controlo remoto que se conectavam sem fio a um tablet que envia sinais para um marca passo no abdomen de Michel. O marca passo, por sua vez, transmite os sinais para o fio localizado na coluna vertebral e estimula células nervosas específicos, fazendo com que Michel se movimente.
As lesões na medula espinal interrompem a comunicação dentro do sistema nervoso, levando à perda de funções neurológicas essenciais e à paralisia.